A morte da apresentadora de TV, Alison Parker, de 24 anos, e do repórter fotográfico Adam Ward, de 27, durante uma transmissão de TV, ao vivo, na Virginia (EUA), nesta 4a. Feira (26), chocou o mundo da mídia e quantos abominam a violência como forma de resolver querelas pessoais ou profissionais.
A surpresa, com misto de horror, ainda é maior quando se sabe que o criminoso não foi nenhum fanático ou terrorista, como é comum nos EUA. Estes geralmente têm um passado psicótico, vivem obcecados pela violência e o uso de armas; ou sentem-se rejeitados. O que explica a maioria deles terem sofrido algum tipo de bullying na infância ou nas escolas; ou por se sentirem discriminados pela sociedade por razões étnicas, religiosas ou de gênero. Sem falar nos fanáticos ativistas que atacam por razões políticas ou religiosos.
No caso desse assassino, identificado como Vester Lee Flanagan, de 41 anos, que usava o nome de Bryce Williams, a surpresa é ter sido um colega, que trabalhou por cerca de um ano na WDBJ7 antes de ser demitido, há dois anos. A emissora é afiliada da cadeia CBS. Ele costumava ter problemas com colegas e diretoria, diz o diretor da TV. O jornal britânico The Guardian teve acesso a um memorando interno do seu empregador no qual os chefes do empregado recomendavam que ele procurasse ajuda médica.
Ele se matou numa rodovia próxima à cidade de Moneta, no estado da Virginia, nos EUA, quando se sentiu acuado pela polícia. A ABC News informou ter recebido um relatório de 23 páginas do atirador duas horas após o ataque. Ali o criminoso afirma que a ação deve-se ao atentado racista em uma igreja dos EUA, em junho, que matou nove pessoas negras, vitimas de um extremista branco. Mas ele também teria alegado nas redes sociais que era discriminado na emissora por ser negro e homossexual.
Coincidentemente, a jornalista Alison Parker graduou-se na universidade Virginia Tech, que foi atingida por uma tragédia em agosto de 2007, há exatamente oito anos. Um estudante de origem asiática, empunhando um rifle, invadiu o campus da Universidade e matou 32 pessoas entre empregados, professores e estudantes, antes de se suicidar, numa das maiores tragédias com atentados à escolas dos Estados Unidos.
Workplace Violence
No Relatório de Crises que o Institute for Crisis Management Estados Unidos faz todo ano, com um balanço dos casos de crises graves registradas pela mídia no mundo todos os anos, uma categoria sempre está presente “workplace violence”.
Essa categoria poderíamos chamar de acidentes ou crises no ambiente de trabalho, muito mais comuns do que podemos imaginar. Para se ter uma ideia, somente nos Estados Unidos há dois milhões de casos registrados, com cerca de 500 casos de mortes. Elas vão do assédio moral às agressões físicas que podem acontecer por motivo fútil, como mau atendimento, vingança, crimes passionais, represália de empregados a colegas ou chefes.
Na Europa, as estatísticas de “workplace violence” são engrossadas por pacientes ou enfermeiros que agridem médicos nos hospitais. Apenas uma das áreas que sofre com esse tipo de crise. Em 2014, no levantamento feito pelo Institute for Crisis Management as crises por “workplace violence” representaram 0,48% do total.
Parece pouco, mas o Instituto contabilizou 223 mil crises durante o ano, em 10 mil veículos de comunicação pelo mundo. A categoria “workplace violence”, embora não esteja entre os grandes blocos de crises do ano passado, registrou, portanto, cerca de 1.100 casos de violência no trabalho naquele ano. Vale dizer que são casos que chegaram à mídia, admitindo-se que muitos eventos desse tipo não são notificados pelo empregador para preservar a imagem da empresa ou do empregado.
Um outro dado do Bureau of Labor Statistics dos Estados Unidos mostra que a violência ou ataques de pessoas ou animais representam 17% das mortes (sendo homicídios 10%) ocorridas no local do trabalho.
O atentado levou o presidente Obama e outros líderes e pacifistas a aumentar a pressão sobre o Congresso americano por reformas que ponham fim à venda livre de armas nos Estados Unidos, um dos países com a legislação mais branda em relação ao comércio de armas. O pai da jornalista assassinada declarou à TV que “fará tudo que puder” para aumentar as restrições às armas nos EUA.
Este ano, já foram registrados 277 casos de atentados com tiros nos Estados Unidos, uma média de mais de um atentado por dia.
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