crises como desconstruirO país amanheceu ontem com as notícias que já se tornaram rotina de mais uma fase da Operação Lava Jato, nome dado pela Polícia Federal à investigação de um esquema de propinas na Petrobras. Ela começou em março de 2014, com a apuração sobre a compra pela estatal da usina Pasadena, nos EUA, e ontem entrou na 17a. fase.

Mas essa fase foi para as manchetes mais por causa da prisão do ex-ministro, ex-deputado e guru do PT, José Dirceu. Embora já se falasse na iminência da prisão dele, pelas várias menções de seu nome em depoimentos de envolvidos no escândalo da Petrobras, não deixou de ser emblemático que um dos símbolos do PT e sombra de todos os conchavos políticos dos últimos anos no país esteja novamente às voltas com ilicitudes.

As acusações são pesadas. Fala-se em ter recebido pelo menos R$ 90 milhões em propinas, envolvendo até mesmo parentes. De consultoria milionária, a imóveis. É de se perguntar por que a PF e o Ministério Público, após 16 meses mergulhados na Operação, levariam Dirceu novamente para a prisão se não tivessem elementos suficientes e fortes para prendê-lo? Questionou-se até mesmo se era necessária essa prisão, uma vez que ele cumpre pena em regime aberto, por conta do Mensalão.

Mas o que chama atenção na prisão de José Dirceu é a forma como advogados, políticos e dirigentes e militantes do PT, sem falar nos Blogs amigos, tentam desconstruir o discurso da PF e do MP com argumentos de que “a prisão de José Dirceu é ilegal, “espetáculo para a mídia”, que seria “bode expiatório”, um “ato político”. E por aí.

O líder do governo na Câmara, José Guimarães, disse hoje na rádio CBN que a prisão de José Dirceu é um ato político que não atinge o governo, procurando separar a presidente Dilma do que está acontecendo. Não esquecer que Dirceu está preso por ser um dos mentores do esquema de corrupção da Petrobras, desde o início da era Lula, segundo a PF e o MP. E quem mandava na Petrobras, então? A toda poderosa ministra das Minas e Energia, Dilma Roussef. Que continuou mandando, mesmo após se tornar Chefe da Casa Civil do governo Lula.

Até que ponto esses argumentos servem para explicar ou até mesmo mitigar a crise do partido, com estilhaços no governo que há 12 anos subiu ao poder com Dirceu sendo o grande mentor e todo poderoso articulador? Alguns diziam que Lula reinava, mas Dirceu era quem governava. Até cair em desgraça.

Resposta: muito pouco ou nada. Uma crise grave só consegue ser controlada com respostas objetivas que apontem os culpados; expliquem a causa da crise e mostrem o que está sendo feito para que o ato gerador da crise não ocorra mais. Além disso, é preciso sanar os danos causados pela crise. Se houve erros, admitir que aconteceram. Salvo o caso dos delatores, que estão confessando não porque são bonzinhos, mas porque as celas da PF não devem ser tão confortáveis quanto suas milionárias mansões, não houve um único caso em que o acusado teve a coragem de confessar que errou e está arrependido. Entrevistas manifestando "repúdio" não resolvem crise. É apenas fumaça.

No caso, como José Dirceu responderia às acusações, se é que teria argumentos para negá-las e provar que todo o dinheiro que a PF acusa de vir de propinas foi obtido de forma lícita? O ex-deputado já não teve tempo suficiente para provar isso, quando os delatores começaram a citar o seu nome? Os advogados, que hoje alegam uma prisão ilegal, por que não trabalharam com fatos e evidências de que todo o dinheiro supostamente declarado pelo Sr. José Dirceu no Imposto de Renda é legal, como fazem todos os brasileiros que trabalham e pagam os centavos de imposto todo o mês.

Os argumentos de advogados, amigos, entre eles "intelectuais" de esquerda, correligionários e políticos, alguns que também aderiram ao esquema, além dos tradicionais áulicos, nada disso importa nem serve para neutralizar a crise se as autoridades que apuram, acusam e julgam têm fatos e informações comprovadas com vasta pesquisa e documentação. É simples. Basta provar que nada do que está na acusação é verdadeiro.

Para os leigos e a sociedade é emblemático Curitiba estar assistindo a um desfile de empresários, políticos, burocratas, diretores de estatais, lobistas e quantos mais caminhando miudinho, de braços para trás, quando são encaminhados ao xilindró. As filigranas jurídicas dos advogados regiamente pagos e o “jus sperneandi” dos amigos e partidários não passam de paliativos para amenizar ou explicar a crise. Ou seria para confundir? Assim foi no processo do Mensalão, criticado por toda a torcida vermelha, quando não desafiando de forma acintosa o próprio ministro do STF, quando em visita ao Congresso, no auge das condenações. Deu no que deu. Condenados e presos, a maioria agora desfila pela casa enfeitados com uma tornozeleira.

As crises de reputação, advindas de fatos graves como esses, apurados e denunciados pela PF e o Ministério Público, não se resolvem com retórica política ou vitimização dos acusados ou do partido. Até prova em contrário, as explicações para os desvios apontados e denunciados por “delatores” protegidos pela Lei, certamente não tiveram explicações aceitas. É de se supor que o juiz Sérgio Moro não manda ninguém para a cadeia se não estiver plenamente convencido do envolvimento do acusado, com base em provas robustas e não contestadas com documentos. Ou os advogados são incompetentes; ou os acusados não conseguiram até agora provar o contrário.

O que se sabe e já foi amplamente divulgado é que o rombo deixado pela quadrilha que se apossou da Petrobras, apoiada e beneficiada por inúmeros agentes periféricos, de doleiro a empresários da construção, chega a mais de R$ 6 bilhões. O resto é choro de quem, na falta de explicação para dar, prefere atacar o mensageiro para justificar uma crise que eles mesmos criaram.

Outras informações sobre a Operação Lava Jato

Veja a cronologia das denúncias e os nomes das pessoas indiciadas

MPF: O caso Lava Jato

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