A crise da Grécia é apenas um dos tropeços que deixa os executivos do mercado financeiro de cabelo em pé. Diante desse cenário de incertezas que a Europa e outros países enfrentam, principalmente a partir de 2008, cresceu de importância um cargo que há poucos anos passava despercebido no board da organização: o executivo que analisa riscos, diretor ou vice-presidente, dependendo da estrutura da organização. Hoje, um cargo logo abaixo do CEO da empresa.
O The Times de 6 de julho trouxe um artigo do colunista do jornal Ian King* - Unheard of 20 years ago, chief risk officers have become indispensable, sobre o valor dado agora a esse cargo na estrutura da organização, um executivo com a missão de evitar que a empresa incorra em erros no mercado e acabe mergulhada na crise.
“Atualmente, há escassez de mão de obra especializada. Na escassez, o preço aumenta. Na City (centro financeiro de Londres), isso significa que o preço por gerentes de risco está aumentando. Gerentes de risco ganham salários de sete dígitos, o que mostra que eles têm se tornado cada vez mais membros importantes da equipe de executivos de um banco e de empresas de seguro.
"Não é mais um tedioso trabalho atrás de uma mesa, pois no últimos anos este cargo virou uma alavanca para melhores empregos. Por exemplo, até 15 anos atrás era raro que um diretor de risco em um banco fosse premiado com uma parte das ações executivas (bônus). Nathan Bostock, hoje chefe executivo do Santander, na Grã-Bretanha, se sobressaiu trabalhando como diretor de risco.
"Possivelmente, a falta de talento reflete as mudanças ocorridas neste cargo. Há duas décadas, a função de um diretor de risco era somente operacional, mas ultimamente implica não apenas sistemas de tecnologia da informação, mas também uma maior influência na tomada de decisões.
"Isso envolve o acompanhamento de todos os riscos da companhia, incluindo comunicação e coordenação dos responsáveis por diferentes divisões na empresa. Assim se vê que este cargo é abrangente, porque risco não é definido somente em termos operacionais, ele é também encarregado do risco do crédito, do risco do mercado, do risco legal, e do risco da regulação.
"Anne Murphy, chefe do setor financeiro de uma companhia de recrutamento (de mão de obra), Odgers Berndtson, afirmou que “as técnicas necessárias agora (para seleção de um gerente de risco) são completamente diferentes das utilizadas anteriormente. Você precisa estar atento a todas as atividades da instituição além de poder explicar os riscos que o negócio enfrenta para os membros do conselho".
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“Pouco valorizado 20 anos atrás, diretor de risco tem se tornado uma profissão indispensável”
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“Tipicamente, no topo de uma grande empresa, você tem o vice-presidente financeiro, o vice-presidente executivo e o presidente atuando como um triunvirato. Mas agora nas grandes instituições financeiras você também tem o diretor ou vice-presidente de risco. Então, ao invés de ser um triângulo com o poder, é um quadrado.
“O desafio para nós é achar esse talento, essa pessoa que possa olhar de maneira holística e agir em tudo que possa afetar o negócio. É menos sobre capacidade técnica nesse nível. O diretor de risco de uma empresa financeira tem enormes responsabilidades e por isso é uma posição muito bem remunerada.
“O mais impressionante é que gerentes de risco mal existiam direito duas décadas atrás. James Lam tem sido reconhecido como o primeiro chefe de risco, quando, em 1993, a GE Capital, grande companhia americana de serviços financeiros, lhe encarregou desta função.
"Três anos depois ele tomou posse do mesmo posto na Fidelity Investments. Seu emprego nasceu como uma resposta para o cargo de bastante importância que é o do gerente de TI – Tecnologia da Informação. A falência da (banco) Barings em 1994 serviu como um alerta para todas as empresas, fazendo com que esta função crescesse em termos de importância no final dos anos 90 e no começo dos anos 2000, já que a globalização de serviços financeiros se intensificou junto com a complexidade dos instrumentos financeiros.
"Um chefe sênior de operações de um grande banco de investimento de Londres disse: “A forma que nós pensamos sobre risco é ampla. Em um banco, 40 anos atrás, o principal risco era o risco do crédito. Voltemos 20 anos em direção ao presente e agora o risco do mercado é fundamental. Indo mais à frente, vemos que o risco da liquidação se tornou um enorme problema.
“Bancos que não pensaram em risco foram surpreendidos no final dos anos 90 com a crise da Rússia e com a falência do [fundo de cobertura] Long Term Capital Management. E atualmente existe um maior risco da tecnologia – ATMs que não funcionam, cybercrime e muito mais.”
"Esse conjunto de habilidades explica os lucrativos salários. Um anúncio de emprego semana passada para a posição de Chief Risk Officer (equivalete no Brasil ao Diretor ou Vice-Presidente de Riscos) numa subsidiária de um grande banco internacional no Reino Unido colocava a necessidade de monitorar e gerenciar os riscos de crédito, mercado, operacional e liquidez e exigiu que os candidatos tivessem detalhado conhecimento do risco de crédito associado com títulos, financiamento a comércio exterior, empréstimos sindicalizados e produtos bancários de varejo e para empresas, além de amplo conhecimento dos princípios e práticas da regulação e normas prudenciais britânicas, incluindo o entendimento de uma verdadeira sopa de letrinhas: "Basel III, BIPRU & GENPRU, ICAAP, ILAA, CFP e RRP".
“O conjunto de habilidades necessárias não é a única coisa empurrando os salários para cima. Um banqueiro de investimentos de Londres observou: "Agora temos o ônus da prova reversa [em que os banqueiros são presumidamente culpados, até que se provem inocentes em uma falência bancária]. Se você é um CEO, você quer um grande diretor de risco”. Pense de volta para a crise - se você não tiver alguém para manter a empresa na linha, você coloca sua empresa em risco.
"Você quer pessoas que vão desafiá-lo e quer seu grupo de risco com poderes, porque eles o mantêm seguro. Gestão errada e temerária de um banco agora é um crime."
“Ele disse que, por conseguinte, os antigos negociadores e banqueiros de investimento estavam desempenhando tais papéis. "É uma boa carreira", disse ele. "Se você pagar muito dinheiro para seniores geradores de receita, mas não tem o mesmo dinheiro ou relativo prestígio para alguém em uma função de controle, as pessoas vão descontar isso como uma boa oportunidade de carreira. É útil ter alguém que esteja em uma função de gestão de riscos para ocupar essas funções.
"O que você quer em um grande gerente de risco é a curiosidade e a capacidade de olhar ao redor da esquina, pensar o que pode dar errado. Por exemplo, existe agora o risco de a Grécia sair do euro. Você esperaria que alguém (especialista) estivesse pensando sobre isso há três anos. Se eles começaram a pensar sobre isso ontem, eles vão estar em apuros."
"No entanto, a crescente importância desses papéis está comendo os lucros. Um executivo-chefe da “City” de Londres observou: "Ao longo dos últimos cinco anos, certamente desde a crise, na nossa organização e em toda a indústria de serviços financeiros tem havido um crescimento significativo de profissionmais de “risco” e “compliance”. Isso é o novo normal, o novo custo de fazer negócios nos mercados globais, dada a carga de normas regulamentares e de conduta".
Tradução: Mateus G. Forni. Edição: João José Forni
*Ian King é apresentador de comentários de negócios da Sky News