O país assiste há duas semanas a um debate tão pobre quanto inútil para ajudá-lo a encontrar caminhos que o levem a vencer a crise. A questão que não deixa a presidente da República dormir, mantém Renan Calheiros amuado e mexe com os brios do PMDB é a nomeação do ex-deputado, candidato derrotado ao governo do Rio G.do Norte, Henrique Alves, para o Ministério do Turismo. Quanta energia e papel inúteis têm-se gastado nesse debate que não deveria passar de uma nota de pé de página nos jornais.
Qual a importância disso para o futuro do país, para amenizar a grave crise que enfrentamos ou para o cidadão comum, que paga impostos, enfrenta uma inflação superior a 8%, não tem transporte adequado e passa ao largo dessas querelas políticas? Absolutamente nenhuma. Se Henrique Alves vai ou não assumir esse ministério só tem importância para os imbróglios políticos de Brasília e para seus interesses pessoais e partidários. Unicamente. Mas o “frisson” causado pela indecisão da presidente em nomear o ex-aliado, com medo de tirar um apaniguado de Renan Calheiros do cargo, deixa Brasília em suspense. Para um país em crise, perder tempo com assunto tão pequeno chega a ser um deboche aos brasileiros. Que pobreza de agenda!
Como admitir que estamos em pleno século XXI, com temas tão pobres ocupando o tempo da prinicipal mandatária do país? O que Henrique Alves vai fazer lá em benefício do nosso Turismo não tem a menor importância. Interessa aqui e apenas o ato de nomeá-lo; se agrada ou não ao PMDB e ao todo poderoso Renan Calheiros, de quem Dilma agora também se tornou refém.
Em meio a essa disputa por um ministério considerado pequeno e pouco cobiçado, não se viu qualquer debate sério ou informação sobre algum projeto do Congresso, do governo ou do próprio ministério do Turismo para aumentar o fluxo de turistas interno ou externo; ou de tentar reverter o déficit bilionário na conta corrente do exterior, registrado em 2014. Ou para se analisar se Henrique Alves é o melhor nome para a pasta. A resposta parece óbvia. Não é.
Ele é mais um desses políticos que nasceu e amadureceu pendurado na franjas da Corte, misturando cargos e benesses em sucessivos governos. Nesse compadrio, amigos e parentes sempre conseguiam uma “boquinha”, sem vergonha de se pendurar em algum órgão público, como herdeiros do patrimonialismo que campeia por Brasília e arredores, como se eles fossem os donos do país. O curriculum dele é tão inútil para o Turismo quanto para qualquer outro ministério. Suas credenciais existem apenas porque é um dos caciques do partido que hoje está dando as cartas na base aliada do governo.
Por isso, nesse contexto pouco importa o que Henrique Alves irá fazer lá. Para ele, Turismo provavelmente será apenas o que ele fará nos fins de semana, nos aviões da FAB em direção à base aérea de Natal. Cargo por cargo, poderia ser Pesca, Articulação Política, ministérios que se transformaram em tábua de consolação para aliados que perderam a eleição ou entraram em desgraça no próprio governo. Os objetivos e a missão do ministério, daquela autarquia, nesse cenário de loteamento, não tem a menor importância. Se é que missão existe.
Nessa salada política em que se enredou a presidente, o que menos importa é a utilidade das pastas, dos 39 ministérios e de quem vai pra lá. O que interessa é se o PMDB está ou não contente com o pupilo indicado no cargo. Se o partido A tem menos ministério do que o partido B. Não tem a mínima importância quem está lá, até porque são figuras que o país não conhece, ignora o que fazem e andam a reboque da crise. Para esses políticos, importa menos servir ao país, com espírito público, do que o país se curvar e se render aos interesses paroquiais e privados deles mesmos e de toda a máquina de interesses políticos que estão por trás da nomeação.
Pobre país. Como empobreceram as instituições nacionais. Aí talvez esteja parte da explicação por que não temos um projeto de governo e quiçá de país. E como vai ser duro e difícil sair da crise. Nessa paranoia para agradar o próprio partido, com ciúmes do PMDB, e aliados, talvez esteja o cerne do labirinto em que a presidente entrou e não consegue sair.