Um atentado como o acontecido ontem em Paris, com a morte de 12 pessoas numa redação, causa uma comoção, naturalmente. Mas o ataque à revista satírica Charlie Hebdo tem um componente especial. Os terroristas já haviam assassinado jornalistas, com fuzilamentos e até degolamentos gravados e divulgados pela Internet. Nunca, porém, tinham ousado tanto: invadir uma redação em pleno horário de funcionamento e fuzilar uma equipe inteira. Foram dois policiais e 10 profissionais ou convidados do jornal.
Não foi um atentado qualquer. Eles sabem, como fazem com as gravações dos degolamentos de reféns ocidentais divulgadas nas redes sociais, que o marketing do terror é um componente importante da estratégia de atemorizar e incomodar as potenciais ocidentais. O ataque à revista francesa faz parte dessa estratégia de terror midiático.
Como aconteceu também no atentado ao World Trade Center, em 2001. Primeiro um avião se choca com o prédio. De início surpresa, estupefação. Em seguida, já sabendo que todas as televisões do mundo estariam com as câmeras voltadas para as torres gêmeas, vem o segundo avião. Praticamente um atentado ao vivo, para todas as gerações que o assistiram não o esquecer.
Por isso, a mídia internacional tratou esse atentado não apenas como mais um, como acontece quase todos os dias, mas como uma violação ao sagrado direito da livre expressão, um atentado à liberdade de imprensa, como todo o mundo admitiu. Daí a forma criativa e compungida com que a mídia internacional está cobrindo a tragédia. Sem falar na reação nas redes sociais e nas manifestações espontâneas da população que foi às ruas. Milhares de pessoas nas principais capitais do mundo e maiores cidades da França saíram em passeatas para protestar contra o atentado.
Um sinal de que nem tudo está perdido. O pior seria o mundo livre se acomodar e passar a acreditar que a violência gratuita e sectária tomou conta do nosso dia a dia, de fato, e que pouco haveria por fazer.
Talvez, de tudo que foi publicado, a frase mais emblemática tenha sido recuperar o que o editor da publicação Charlie Hebdo, Stéphane Charbonnier, disse um dia: "Eu prefiro morrer de pé a ficar de joelhos".
Vale a pena refletir, ver o belo trabalho dos ilustradores e diagramadores e analisar algumas capas de jornais deste 8 de janeiro de 2015 pelo mundo. Certamente ficarão na história. Para também nunca nos esquecer deste atentado.
Analistas internacionais temem também, vendo pelo outro lado. Esse atentado é extremamente perverso para as minorias, inclusive árabes, que aos milhares migram para a Europa, fugindo dos conflitos e guerras contínuas, principalmente no Oriente Médio e África. O Continente africano está enfrentando uma crise grave com grupos terroristas que tentam criar naquela região territórios controlados, como o Boko Haram, na Nigéria.
A radicalização acaba reforçando o discurso de grupos de direita ou conservadores. Eles veem os imigrantes como uma ameaça aos empregos, num momento em que a Europa continua enfrentando os rescaldos da crise econômica de 2008. Em alguns países europeus já havia o temor com milhares de jovens, nascidos na Europa, mas de descendência árabe, que são cooptados pelos jidhaistas para engrosssar as fileiras do chamado exército islâmico. Por isso, os controles na imigração já estavam ficando mais rígidos.
Foto: Capas da edição de 08/01/15 dos jornais: Diário de Notícias, de Lisboa, Portugal; Aftenposten, de Oslo, Noruega e Correio Braziliense, de Brasília.
Como os jornais do mundo cobriram o ataque em Paris
How cartoonists around the world responded to the Charlie Hebdo attack