Neste 3 de dezembro completam-se 30 anos de uma das maiores tragédias da indústria mundial, quando um vazamento da indústria química Union Carbide, na pequena cidade de Bhopal, na Índia, causou a morte, nas primeiras horas do acidente, de três mil pessoas. Os efeitos tóxicos deste vazamento nunca desapareceram da cidade. Matou e contaminou, ao longo destes anos, milhares de pessoas.
Os moradores da cidade dizem que as visitas periódicas aos hospitais, a quantidade de pessoas que sofrem com os efeitos do gás liberado no vazamento e o descaso das autoridades fazem com que essa crise seja lembrada todos os dias. Repórteres que visitaram a cidade agora, quando passaram 30 anos da tragédia, dizem que a população sente-se desamparada em relação ao passado, mas consegue se agarrar com um fiapo de esperança em relação ao incerto futuro.
Muitas crianças na cidade até hoje nascem com sérias deficiências. 30 anos depois, (veja detalhes do acidente no artigo abaixo) as ruínas do que foi a indústria da Union Carbide permanecem lá, como eterna lembrança da “noite dos horrores”, quando milhares de pessoas morreram ou foram definitivamente incapacitadas pelos efeitos do gás tóxico. Bhopal entrou para a história não apenas como um dos maiores acidentes industriais, mas como um emblemático case de gestão de crises. O CEO da empresa à época, nos Estados Unidos, Warren Anderson, que morreu no último dia 29 de setembro de 2014, aos 92 anos, chegou ao país quatro dias após a tragédia, mas foi preso. Pagou fiança e rapidamente fugiu da Índia. Nunca mais voltou ao país e os EUA se negaram a deportá-lo.
"Há uma alta prevalência de anemia, atraso na menstruação de meninas e as condições da pele são dolorosas. Mas a maior incidência é de defeitos congênitos em crianças", disse à Agência Reuters o ativista Satinath Sarangi do Bhopal Medial Appeal, que dirige uma clínica para vítimas do venenoso gás .
"As crianças nascem com doenças como membros torcidos, danos cerebrais, doenças osteomusculares... isto é o que vemos em cada quarto ou quinto das famílias nessas comunidades", concluiu.
Ongs e grupos de direitos humanos dizem que 30 anos depois o legado tóxico da fábrica de Bhopal continua, já que toneladas de resíduos venenosos permanecem enterrados no solo, lentamente envenenando a água de 50 mil pessoas que vivem na cidade. Ativistas querem que esses resíduos tóxicos sejam retirados para fora da cidade. Mas não veem ação das autoridades indianas para limpar a área ou se empenhar em responsabilizar a Union Carbide.
Não há consenso sobre os efeitos nem os números atuais da tragédia. O governo reconhece oficialmente 5.295 mortes, mas grupos ativistas calculam entre 25 a 30 mil mortes ao longo desses 30 anos e mais de 100 mil pessoas, que foram expostas ao gás tóxico, continuam a sofrer hoje com doenças como câncer, cegueira, problemas respiratórios, imunológicos e distúrbios neurológicos, algumas com deficiências permanentes.
Os efeitos da crise já passaram para a segunda geração de habitantes da cidade. Eles costumam chamar a noite de 2 para 3 de dezembro de1984, de a “noite que não teve fim”.
30 anos depois do desastre, sobreviventes e outras pessoas atingidas pela catástrofe continuam a lutar por justiça pelos efeitos da contaminação. Proprietários que perderam bens em função da contaminação do solo pela toxina apelaram à Corte Superior americana para permitir que a Union Carbide seja responsabilizada pelas consequências do vazamento, fato que a Corte de instância menor nunca aceitou. Na verdade, a Union Carbide não existe mais. Em 2001, depois de anos brigando na Justiça para se defender das inúmeras ações por causa da crise em Bhopal, foi comprada pela Dow Química, que assumiu todos os ativos e passivos, inclusive as ações sobre a tragédia, da Union Carbide.
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Artigo publicado em 29 de novembro de 2009, neste site
Noite de 2 de dezembro de 1984. A liberação de 42 toneladas de metil isocianato (conhecido como MIC) de uma fábrica da Union Carbide, na cidade de Bhopal, interior da Índia, expôs 500 mil habitantes aos efeitos do gás tóxico. Mais de 10 mil pessoas teriam morrido nas primeiras 72 horas do acidente. Para lembrar os 25 anos do maior acidente catastrófico em uma indústria, na história, a Índia pretende abrir a antiga fábrica da Union Carbide para visitação, sob protestos dos sobreviventes atingidos pelo gás fatal da empresa.
A tragédia de Bhopal, chamada de a Hiroshima da indústria química, continua sendo um dos cases de crise mais lembrados e discutidos no mundo. A situação foi tão dramática, que a empresa envolvida nunca mais se reergueu, apesar de ter liberado milhões de dólares em indenizações e procurado responder a todas as demandas do governo indiano. A americana Dow Chemicals adquiriu a fábrica em 2001. O passivo é tão grande que nenhuma empresa resistiria.
A empresa Union Carbide aceitou, em 1985, a “responsabilidade moral” pelo acidente e fez um acordo com a Índia para pagamento de US$ 470 milhões de indenização. O valor foi depositado no Banco da Reserva da Índia. Parte dele foi utilizado para indenizar algumas vítimas, mas elas não podem entrar com ação contra a multinacional americana, pelo acordo feito com o governo. Mais do que o impacto financeiro, o arranhão na imagem pelo efeito do acidente e as repercussões internacionais inviabilizaram a Union Carbide.
Agora, a corte de Madhia Pradesh, onde fica Bhopal, ordenou que os portões da fábrica, de triste memória, sejam abertos para os visitantes lembrarem e orarem pelos mortos.
Mas os sobreviventes alegam que o sítio ainda está contaminado, sendo necessária uma completa limpeza de um dos piores desastres industriais do mundo, tendo contabilizado até agora 15.274 mortes. “Isto é puro mercúrio, e você o encontrará por todo esse lugar contaminado”, disse um sobrevivente de 55 anos. O número de mortes em decorrência da contaminação, nestes 25 anos, é estimativa do governo. Mas ativistas falam em quase 33 mil vítimas no total. Organizações de saúde asseguram que ao menos 25 mil pessoas já morreram.
“É a fábrica da morte. Há veneno dentro da fábrica que continua a entrar nos nossos corpos”, disse Rajbai Moolchand, de 70 anos, que vive nas favelas e esteve exposto ao gás fatal. Ele diz que o governo da Índia quer enganar o mundo. Em 1999, investigação do Greenpeace encontrou severa contaminação química do meio ambiente ao redor da antiga fábrica, que foi poluída com metais pesados e componentes químicos.
Os efeitos do horrendo legado de Bhopal, como o chamou o site theage.com.au, da Austrália, não cessaram. Muitas pessoas que vivem em favelas perto da antiga fábrica levaram seus casos à Corte municipal, sob alegação de que o solo e o lençol freático contaminado ainda causam doenças à população e defeitos genéticos em recém-nascidos. Centenas de crianças nasceram com deformidades e problemas de saúde mental. Segundo a Anistia Internacional, dezenas de milhares de pessoas continuam a sofrer “doenças crônicas e debilidade” por causa da contaminação de 25 anos atrás. Outras organizações humanitárias dizem que milhares de moradores, extremamente pobres, sofrem na atualidade de doenças como cegueira, câncer, tuberculose, problemas respiratórios, depressão, irregularidades menstruais e problemas de articulação.
Autoridades locais, que preconizam a visita, alegam que locais como Hiroshima, Chernobyl e o ground Zero do World Trade Center se transformaram em locais de visitação. Por que Bhopal não poderia também atrair, para que as pessoas aprendam mais sobre o desastre?
O mundo com toda razão ficou chocado em 2001 com a morte de quase 3 mil pessoas no ataque ao World Trade Center. Mas por que a tragédia de Bhopal, que continua a matar, parece ter sido varrida para baixo do tapete? Só porque ocorreu numa comunidade pobre?
Enquanto até hoje, uma quarto de século depois, depoimentos chocantes continuam a nos assustar, problemas levantados há cinco anos em Bhopal, quando se lembrou os 20 anos do acidente, continuam sem solução. Apesar de todas as promessas do governo indiano, da pressão de movimentos ecológicos e humanitários e da Anistia Internacional, a crise de Bhopal continua. Parece que os efeitos do gás venenoso, além de aterrorizarem a população, continuam a assombrar os responsáveis pelo acidente, tanto nos EUA, como na Índia.
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