*Jessica Behrens
Em relação à comunicação, o que um pequeno país insular e isolado geograficamente, como a Nova Zelândia, tem a ensinar ao Brasil? Mais do que esportes radicais, kiwis e belos cenários cinematográficos (dignos de uma verdadeira Terra Média), a Nova Zelândia revela uma beleza muito mais preciosa que o anel de Frodo: o apreço e a valorização da diversidade.
Kia ora! Esse é o cumprimento de um típico kiwi, facilmente substituído pelo tradicional “hi” ou “hello”. O inglês não é a única língua oficial do país, como também é o maori, o idioma dos povos nativos. Embora a maioria da população seja de origem europeia (69%), os maoris são a maior minoria (14,6%). Talvez sejam eles umas das minorias que mais conquistou respeito, espaço e direitos no mundo durante o século XX.
Inseridos em uma sociedade que igualmente tentou por diversos meios prevalecer somente o que fosse identificado culturalmente com a matriz europeia, hoje a cultura maori é parte integrante da vida neozelandesa e é motivo de orgulho para todos os kiwis.
Após décadas de lutas e conflitos, hoje os maoris contam com importantes vitórias políticas e sociais. Muitos direitos foram conquistados, dentre eles, o direito à comunicação. É de se admirar que em um país com apenas 4,4 milhões de habitantes (dentre esses, apenas 4,1% falam maori) haja um canal de televisão e diversas emissoras de rádio somente no idioma maori com a missão de manter viva a cultura tradicional.
O primeiro país a instituir o voto feminino, continua a ser exemplo no quesito pluralidade. Ao incentivar e apoiar o direito de autorrepresentação das minorias na mídia e nos veículos de comunicação, abrem-se portas a uma sociedade mais rica, inclusiva e criativa. A Nova Zelândia ensina que a comunicação tem um papel primordial no incentivo da diversidade cultural entre os povos. Afinal, ter direitos significa também ter direito de ter voz, de escrever sua própria história e discurso. Em suma, é o direito de construção da realidade.
Desse modo, cria-se um mundo mais rico, com mais pontos de vistas, ideias e diferenças. E isso não tem somente a beleza de um caleidoscópio cultural, mas tem o poder de uma democracia mais forte e uma economia mais criativa e inovadora. Está aí uma lição inspiradora para um país tão grande e tão rico culturalmente como o Brasil, acostumado a representar somente uma pequena parte da cultura carioca e paulista em seus principais veículos de comunicação. Quantas vozes, cores e perspectivas ainda estamos deixando de integrar e aprender?
*Jessica Behrens, aluna do 7º semestre do curso de Comunicação Organizacional da UnB, passou 30 dias na Nova Zelândia, fazendo o curso "Liderança Global para o Futuro".