Crises pelo mundo em 2013
No exterior, o ano de 2013 também foi recheado de crises, sob qualquer aspecto que entendamos o conceito de “crise”. Talvez o episódio mais marcante, que gerou mais polêmica e constrangimentos continentais foi a informação vazada pelo ex-agente da CIA, Edward Snowden, sobre os processos de vigilância da NSA – National Security Agency, dos Estados Unidos.
Até Obama deve ter se surpreendido com o grau de invasividade da agência e a extensão dos tentáculos desse “Big Brother” moderno. As reportagens sobre o vazamento foram coordenadas pelo jornalista Glenn Greenwald, trabalhando, na época, para o The Guardian londrino. O mais grave foi a denúncia de que gigantes da Internet, como Apple, Google e Microsoft, teriam colaborado para a bisbilhotice.
O escândalo da NSA, podemos chamar assim, foi um dos temas controversos mais comentados pela mídia mundial em 2013. Talvez, em grau de exposição, fique numa disputa acirrada com a Igreja Católica, tanto pela surpreendente renúncia do Papa Bento XVI, quanto pela não menos surpreendente eleição de um latino-americano, o argentino, Jorge Mário Bergoglio, agora Papa Francisco.
Durante o ano, fizemos uma análise do surgimento de Edward Snowden e da repercussão dos vazamentos, à medida em que os fatos eram revelados. Ninguém escapou da vigilância da NSA. Sob o manto da proteção ao mundo contra o terrorismo, a empresa se avocou o direito de monitorar emails, fax, celulares, redes sociais e qualquer outro tipo de comunicação, inclusive de chefes de estado, de Dilma Roussef a Angela Merkel.
Que os Estados Unidos vigiam comunicações e governantes, ninguém desconhecia. Só o governo brasileiro pareceu surpreendido pelo fato de Dilma e empresas serem grampeadas. Talvez não conheçam os bastidores do Golpe de 64, quando os americanos monitoravam todas as comunicações e praticamente ditavam aos militares o que deveriam fazer. Jango poderia ter resistido. Mas os americanos tinham um Plano B.
As revelações de Edward Snowden prestaram um serviço ao mundo. Escancararam o que todos sabiam e não tinham coragem de enfrentar. E colocaram Obama no córner. Ele, pelo menos para a mídia e para a oposição, pediu estudos sobre os tentáculos da poderosa NSA. Talvez apenas para jogar para a plateia. Eles continuarão de olho em tudo que você fala, transmite ou recebe. Não tem escapatória. Pouco adianta Dilma protestar.
Veja como foi tratado o tema nos artigos publicados no site
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Agência monitora telefones de milhões de americanos
Governo dos Estados Unidos acessou secretamkente dados de jornalistas da AP
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Desastres Naturais. Tempestades ainda matam
Os serviços de meteorologia detectaram um fenômeno em 2013. Enquanto no Oceano Atlântico, a estação de tufões foi das mais calmas, com apenas dois ciclones, no Pacífico ocorreu o contrário: das mais violentas. Neste, registraram-se 16 tufões, sendo seis considerados de alta intensidade. O mais devastador ocorreu em novembro nas Filipinas, o tufão Haiyan, com um recorde de intensidade de 313 km/h. Ele devastou a cidade de Tacloban e deixou 6 mil mortes e 1.800 desaparecidos.
Em outubro, na Índia, a mais forte tempestade em 70 anos, o ciclone Phailin inundou o nordeste do país e causou um número pequeno de mortes, dada a intensidade do ciclone, cerca de 100. As plantações foram devastadas. Mas um extraordinário trabalho de evacuação, que atingiu mais de um milhão de pessoas, permitiu salvá-las preventivamente.
O custo desse desastre natural foi elevado devido ao grau de destruição da infraestrutura de estradas, pontes e residências, que levarão anos para serem reconstruídas, numa economia que, embora esteja se recuperando, tem vários problemas para continuar com vigor. A Índia, junto com o Brasil, era um dos países emergentes mais badalados há dois anos, com crescimento sustentável. Mas os dois países atualmente já não empolgam. Analistas internacionais criticam a forma como esses dois países têm conduzido a economia.
Em maio, nos EUA, o mais forte tornado do ano, o Moore, atingiu bairros inteiros de Oklahoma. Foi classificado na categoria 5, a mais alta para tornados, com ventos de até 322 km/h. O número reduzido de mortes, 24, com 242 feridos, se deve à eficiência das ações preventivas. A população possui abrigos blindados e por isso a devastação, embora de um aspecto terrível, causou em sua maior parte apenas prejuízos materiais. Calcula-se o custo de reconstrução em mais de 6 bilhões de dólares. 13 mil imóveis foram destruídos.
Novembro foi o mês mais quente do ano na temperatura global. No verão de 2013, Austrália, Alaska, China, Alemanha e Áustria bateram recordes de temperatura. E em dezembro, também no Brasil os termômetros apontavam para um dos verões mais quentes do ano. A temperatura no Rio de Janeiro atingiu em dezembro picos de até 48 graus.
No extremo oposto, no início e no fim do ano, a Europa congelou. O frio intenso que provocou nevascas em regiões onde não nevava nos meses de março e abril, mostrou mais uma vez que o aquecimento da terra tem provocado mudanças climáticas bruscas e irão intensificar a intensidade dos desastres naturais nos próximos anos. 2013 teve um dos invernos mais rigorosos na Europa, principalmente no Leste europeu.
Desastres naturais expulsam população e batem recorde de prejuízo
Prevenção reduziu custos das catástrofes naturais em 2013
Acidentes evitáveis
Em julho, um trem de alta velocidade descarrilou na Espanha, a 190 km/h, e matou 79 pessoas, ferindo centenas de passageiros. Foi o mais grave acidente ferroviário daquele país em 41 anos. A culpa foi atribuída ao maquinista, que atendia o telefone celular, numa curva em que o trem não poderia ultrapassar 80 km/h. Não fosse pelo trágico nessa explicação, como entender que um trem, com centenas de passageiros, depende, ao que se entende, unicamente de um maquinista para prevenir acidentes dessa monta? No mínimo, uma falha grave de prevenção da empresa concessionária. Ela cometeu vários erros de gestão de crises nesse acidente.
Acidentes de aviões, que geralmente causam mais impacto de mídia, ocorreram na Rússia, África e Ásia. Mas foi um ano em que a segurança aérea recebeu nota alta. Não houve acidentes de grandes proporções. Na Rússia, um acidente matou 50 pessoas em outubro; em novembro, na Namíbia, cai avião da Embraer, 34 mortos. Em julho, um Boeing 777 da empresa coreana Asiana Airlines se estatelou no Aeroporto de San Francisco, EUA, com 307 pessoas a bordo. Apenas 2 mortos e 182 feridos. Atribui-se o número baixo de mortes ao preparo da tripulação no resgate. Em poucos minutos, todo o avião, em chamas, tinha sido evacuado.
Economia: a crise que não acaba
A crise econômica, que desde 2008 assombra os Estados Unidos e a Europa, não deu trégua em 2013. Os países europeus, principalmente Portugal, Espanha, Itália, Irlanda, Grécia e Chipre, ainda sofrem consequências devastadoras no emprego e no crescimento do PIB. Em alguns países, o desemprego beira os 26% da mão de obra ativa e o dos jovens na faixa de 18 a 29 anos atinge incríveis 56%. Toda uma geração de jovens considera o futuro perdido pela falta de oportunidade para consolidar um emprego numa faixa de idade em que deveria estar com a carreira definida.
A crise econômica tem os seus subprodutos. Em outubro, o mundo ficou chocado com a morte de 360 imigrantes da África, num naufrágio que se dirigia à Ilha de Lampedusa, na Itália. Era o desfecho de meses de viagens arriscadas de imigrantes africanos, provenientes de vários países, que buscam na Europa a solução para os problemas insolúveis do continente africano. Mas escancarou também um problema que passava meio despercebido em meio à crise europeia. O que fazer com esses imigrantes, num país que luta contra o desemprego dos seus próprios cidadãos?
Jovens europeus perderam a batalha da crise
Cinco anos de uma crise que não acaba
Europa dribla a crise por espasmos
Atentados
O terrorismo também não deu trégua em 2013. Em países como Iraque, Afeganistão, Síria, Egito, Paquistão e outros do Oriente Médio e Ásia os atentados fazem parte da rotina diária das populações. Transformaram-se numa praga do século XXI. Os grupos responsáveis pelos atentados variam, mas grande parte é atribuída à organização terrorista Al Qaeda, que treina militantes em vários lugares do mundo para ameaçar, principalmente países ocidentais.
Mesmo países que vivem o pesadelo do terror, e onde a segurança virou uma paranoia, não escapam dos atentados. No início do ano, durante a maratona de Boston, nos EUA, duas explosões causaram pânico no meio da multidão que assistia à corrida. Três mortes, sendo um menino de 10 anos, e centenas de feridos, muitos com amputações. Os terroristas, dois irmãos de origem chechena, que moravam e foram educados nos Estados Unidos, deixaram mochilas no meio da multidão, com bombas caseiras de alto poder destruidor.
No mesmo país, um fanático expulso da Marinha americana entra num quartel, nas proximidades da Casa Branca, em Washington, e começa a atirar: 12 mortos. Vários atentados durante o ano, nos EUA, mantêm a triste rotina de americanos psicopatas que fuzilam estudantes, professores ou quem cruzar o caminho. A crise da violência americana, atribuída à facilidade com que se compram armas no país, não tem horizonte para acabar. As discussões sobre desarmamento, apesar dos discursos a cada tragédia, não avançaram.
Outro atentado que chocou o mundo, pelo inusitado, ocorreu em setembro na capital do Quênia, Nairóbi. Grupo terrorista somali, ligado à Al Qaeda, invadiu o maior shopping Center da cidade e começou a atirar principalmente em pessoas que não fossem muçulmanos. 59 mortes e dezenas de feridos, entre eles vários estrangeiros. O governo queniano bateu cabeça durante quase 5 dias para controlar a violência no shopping, nas mãos dos terroristas. Eles alugaram uma loja e transportaram armas e explosivos, sem que a polícia queniana tivesse percebido. Foi uma crise muito mal conduzida, sob qualquer aspecto que analisemos.
Dentro do cenário da violência, mais um ano em que a crise da Síria não foi resolvida. Chega a 130 mil o número de mortos no conflito. O ditador Bashar al-Assad esteve prestes a cair, mas parece que os países desenvolvidos, que geralmente intervêm nesses conflitos, começaram um jogo de empurra, sob o beneplácito da ONU, para empurrar a crise da Síria com a barriga.
Ninguém gosta do que está acontecendo lá, com matanças diárias de inocentes, as principais vítimas. Mas nenhum país se anima a botar o guizo no gato. Porque, por trás dos rebeldes, que querem a queda de Assam, está a Al Qaeda, organização terrorista que assombra a Europa e os Estados Unidos. O que é pior, manter Assad e a matança? Ou permitir que um regime ditatorial o substitua e transforme a Síria num novo Afeganistão ou Iraque? Mais ou menos como a escolha de Sofia.
Ataque no Quênia mostrou falhas incríveis de gestão de crises
Gritos são a música para terroristas dramatizarem suas queixas
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A Igreja em crise leva um susto
11 de fevereiro de 2013. Segunda-feira de carnaval no Brasil. Às 9h05, postei no Twitter, entre incrédulo e estupefacto, meio sem entender, um despacho da agência italiana Ansa: O Papa Bento XVI renunciou... Foi a notícia mais bombástica do ano. Há pelo menos 700 anos não havia uma renúncia de um Papa.
Os católicos se acostumaram a só trocar de Papa, quando este morria. Ter dois Papas vivos realmente foi uma das experiências mais surpreendentes do ano. 2013 teve a cena histórica de dois Papas se cumprimentando e rezando juntos. Nenhum especialista em Vaticano ou um roteirista de cinema sequer cogitaram de especular sobre tão surpreendente cena. Nem na ficção.
Em meio à crise que representou a renúncia do Papa, atribuída por vaticanistas a intrigas palacianas, pressão da Cúria Romana, que Bento XVI não soube controlar, vazamento de documentos secretos, por mordomo demitido, além de denúncias graves sobre pedofilia em instituições católicas, a Igreja conseguiu novamente surpreender. O drama de Bento XVI foi muito bem retratado em artigo publicado na revista alemã Der Spiegel "A crise da Igreja e os bastidores do Vaticano", em julho de 2012.
Após semanas de especulações, sem que os vaticanistas prevessem, o Colégio de Cardeais elegeu Papa o cardeal argentino, Jorge Mario Bergoglio, o primeiro latino-americano a comandar a Igreja em 2 mil anos. Ele escolheu o nome de Francisco, como a dizer ao mundo que o tempo do fausto, do luxo e do poder da Cúria tinha acabado na Igreja. Pela popularidade amealhada, desde o primeiro momento em que apareceu em público, Francisco foi escolhido pela revista Time “A personalidade do Ano Time”.
Carne de cavalo contamina imagem das empresas
Um escândalo que estourou em 2012, se alastrou em 2013 na Europa. A contaminação de carne de gado por carne de cavalo, fato descoberto num exame de rotina num laboratório da Irlanda. No início de 2013, o escândalo se alastrou em função da descoberta de que não eram apenas Reino Unido, França e países limítrofes que teriam sofrido a fraude. Mas vários países da Europa também teriam sido vítimas de um enorme esquema de fraude na venda de carnes, com muitos frigoríficos envolvidos. As empresas revendedoras, como supermercados e outras multinacionais de alimentos, apressaram-se em se comunicar com os clientes para evitar também a contaminação da própria imagem no escândalo.
Escândalo da carne de cavalo se alastra das escolas ao Parlamento britânico
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Quando a resposta à crise é um desastre
Seis meses depois de negar uso de crack, prefeito de Toronto se retrata
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Alguns artigos publicados no site sobre as crises de 2013
Jovens europeus perderam a batalha para a crise
O acidente com o trem na Espanha e as redes sociais
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Como o carisma do Papa ameniza a crise da Igreja
Igreja enfrenta a sucessão de Bento XVI em meio a crises históricas
A crise da Igreja e os bastidores do Vaticano
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