A revista britânica The Economist novamente escolheu o Brasil como tema de capa desta semana. Mas, ao contrário de 2009, quando a capa anunciava “Brazil takes off” (O Brasil decolou), com a imagem do Cristo Redentor em forma de foguete, prestes a decolar, agora a revista foi implacável. “Has Brazil blown it” (O Brasil estragou tudo?). A resposta vem numa reportagem de 14 páginas, da jornalista Helen Joyce, bastante crítica à política econômica atual.
Em dezembro do ano passado, diante do resultado pífio do PIB brasileiro, a revista pediu em artigo a demissão do ministro Guido Mantega e da equipe econômica, fato que irritou a presidente Dilma.
“Economia estagnada, um estado inchado e protestos em massa significa que Dilma Rousseff deve mudar de rumo”, diz a revista.
“Quatro anos atrás, esta revista colocou em sua capa uma foto da estátua do Cristo Redentor subindo como um foguete do Corcovado do Rio de Janeiro, sob o título "O Brasil decola".
“A economia, tendo estabilizado sob Fernando Henrique Cardoso, em meados da década de 1990, acelerou-se sob Luiz Inácio Lula da Silva no início de 2000. E quase tropeçou após o colapso do Lehman, em 2008 e em 2010 cresceu 7,5%, seu melhor desempenho em um quarto de século. Para aumentar a magia, o Brasil foi premiado tanto com a Copa do Mundo de futebol do próximo ano, quanto com as Olimpíadas de 2016. Com a força de tudo isso, Lula convenceu os eleitores no mesmo ano para escolher como presidente sua protegida tecnocrática, Dilma Rousseff.”
“Desde então, o país voltou para a terra com um solavanco. Em 2012, a economia cresceu 0,9%. Centenas de milhares de pessoas saíram às ruas em junho nos maiores protestos de uma geração, reclamando dos altos custos de vida, serviços públicos deficientes, da ganância e da corrupção dos políticos. Muitos já perderam a fé na ideia de que seu país estava indo para a órbita e diagnosticaram apenas outro "voo da galinha", como eles batizaram surtos econômicos anteriores de curta duração.”
Alguns tópicos da reportagem da The Economist
“Não existem desculpas para a desaceleração. Todas as economias emergentes se desaceleraram”.
"O Brasil tem feito muito pouco para reformar seu governo nos anos de boom econômico. Ele não está sozinho nisso: a Índia tinha a chance similar, e perdeu. Mas o setor público do Brasil impõe um fardo particularmente pesado em seu setor privado, como o nosso relatório especial explica. As empresas enfrentam o código tributário mais pesado do mundo, impostos sobre salários aumentam o custo em 58%”.
“Apesar de ser um país jovem, o Brasil gasta uma enorme parcela da renda nacional no pagamento de pensões, como o sul da Europa, onde a proporção de idosos é três vezes maior. O governo não tem dinheiro para investir, porque o Brasil tem uma Previdência loucamente generosa. O sistema grego está quebrado, e lá as pessoas se aposentam aos 61 anos. No Brasil, mais jovem, isso ocorre em média aos 54. Os dois países já gastam o mesmo em Previdência: 11’% do PIB.“
“Apesar das dimensões continentais do país e ligações de transportes ruins, seus gastos em infra-estrutura são tão acanhados como um biquíni. Ele gasta apenas 1,5% do PIB em infra-estrutura, em comparação com uma média global de 3,8%."
“Os problemas (do Brasil) têm acumulado ao longo de gerações. Mas Dilma tem sido relutante ou incapaz de enfrentá-los, e criou novos problemas, interferindo muito mais do que o pragmático Lula. Ela tem assustado os investidores, que ficam longe de projetos de infraestrutura e minou a reputação conquistada a duras penas pelo Brasil para ter uma retidão macroeconômica; as taxas de juros têm agora que subir mais do que de outra forma poderiam para conter a inflação persistente”.
“Felizmente, o Brasil tem grandes vantagens. Graças à eficiência dos seus empreeenderores e agricultores, é o terceiro maior exportador de alimentos do mundo. Mesmo que o governo tenha tornado o processo mais lento e mais caro do que ele precisava ser, o Brasil será um grande exportador de petróleo até 2020.”
“O Brasil precisa recuperar o apetite para reformas. Com os impostos que já tomam 36% do PIB, a maior proporção no mundo emergente ao lado da caótica Argentina de Cristina Fernández, o governo não pode procurar nos contribuintes o dinheiro extra que deve gastar em cuidados de saúde, escolas e transporte para satisfazer os manifestantes. Em vez disso, ele precisa remodelar o gasto público, especialmente as aposentadorias e pensões.”
“O país tem esbarrado na sua baixa produtividade – o brasileiro produz 18% do que produz um americano”.
“Dilma é tardia e relutante em aceitar que vai precisar do setor privado em estradas, ferrovias e aeroportos”.
“O setor industrial inova pouco, porque se dedica mais a fazer lobby por proteção do governo do que à competição”.
"Metade dos jovens de 15 anos são analafabetos funcionais. Os professores, que têm aposentadoria especial e na maioria são mulheres, começam a trabalhar aos 25 e param aos 50 anos - e recebem salário integral até a morte, em média aos 79, quase 30 anos depois."
Veja o artigo completo da The Economist