Jornalistas e demais profissionais da BBC – a rede pública de comunicação do Reino Unido – decretaram uma paralisação nos feriados de Páscoa. Protestam contra cortes de empregos, acusações de assédio moral, bullying e carga excessiva de trabalho.

A data da greve não foi anunciada, mas a União Nacional dos Jornalistas (NUJ) disse que era esperado para ser na Páscoa. Em 18 de fevereiro, a BBC sofreu uma paralisação, quando os apresentadores da Rede, incluindo Lauren Laverne, da BBC Radio 6 Music, se recusaram a furar o bloqueio dos piquetes.

A greve é apoiada pelos dirigentes dos dois maiores sindicatos, BECTU e do NUJ.  O NUJ disse que 61,2% de seus membros votaram a favor da greve, e 79,9% para a ação curta de uma greve, segundo o jornal britânico The Guardian.

A disputa é sobre o programa da BBC de corte de custos, parte de uma estratégia da Rede, chamada “Delivering Quality First“, um programa de melhoria da qualidade da programação.  Michelle Stanistreet, secretário-geral do NUJ, disse ao jornal The Guardian que os cortes de jornalistas e demais empregados da BBC estão prejudicando o jornalismo de qualidade, uma das marcas da rede pública mais popular do mundo.

Ela sugeriu que os executivos da BBC estão sentados sobre uma bomba-relógio de queixas de assédio, que seriam expostas pela revisão das políticas de pessoal da corporação, lideradas por Dinah QC Rose.

"É decepcionante que mais uma vez a BBC tenha decidido não levar em conta nossas reivindicações, recusando o nosso apelo para uma moratória, que daria espaço para discussões significativas sobre o impacto preocupante dos cortes de pessoal, na programação", disse Stanistreet.

"Os executivos da BBC sabem que eles têm um grande problema em suas mãos - o recente inquérito sobre bullying e assédio moral levantou a tampa de um problema que pode crescer a níveis chocantes, sob os narizes dos altos executivos que  deveriam ser os primeiros responsáveis por defender os "valores da BBC."

Um porta-voz da BBC disse: "Temos tido reuniões construtivas com os sindicatos nas últimas semanas e concordamos que é importante monitorarmos como a nossa equipe está sendo afetada pelos cortes que estamos fazendo.”

"No entanto, nossa posição sobre demissões compulsórias permanece a mesma, devemos avançar com os dados das economias significativas que temos de fazer e a ação de uma greve simplesmente não vai mudar isso."

Leia o artigo completo do The Guardian - BBC faces Easter strike action

A mancha do ícone britânico

A BBC, uma das mais tradicionais redes de comunciação pública do mundo, foi abalada no ano passado com um escândalo envolvendo famoso apresentador de programas infantis da Rede. A polícia britânica descobriu, após denúncias, que o famoso apresentador da Rede, Jimmy Saville, que morreu em 2008, aos 84 anos, estaria envolvido, há vários anos, numa rede de abusos sexuais a crianças e adolescentes, o que incluiria também mulheres maiores de idade.

Quando esse escândalo veio à tona, o Reino Unido ainda estava curando as feridas do maior escândalo da mídia britânica da história, que envolveu a News Corporation, do magnata Rupert Murdoch. Em 2011, diante das evidências gravíssimas de que o jornal News of the World, editado pela corporação, fazia grampos ilegais, com a conivência da Scotland Yard, a pressão popular e da mídia fez o executivo fechar o jornal, fundado há 168 anos.(Veja artigo sobre o escândalo do News of the World, neste site).

O que causou maior impacto na história de Jimmy Saville é que a BBC teria sido, de certo modo, conivente ou omissa com os crimes do apresentador. O gabinete do ex-diretor-geral da BBC, Mark Thompson – contratado ano passado pelo New York Times, foi alertado duas vezes sobre as denúncias de que o excêntrico apresentador e estrela da BBC abusava de crianças e jovens.

A empresa, portanto, teria colocado para baixo do tapete o escândalo, ao cancelar, em 2012, um programa jornalístico que levantava dúvidas sobre o comportamento do apresentador.  Thompson afirmou diversas vezes que nada sabia sobre a investigação planejada pelo editor do programa Newsnight. Foi a partir dessa recusa que o escândalo vazou.

As investigações sobre esse escândalo estão apenas no início. Centenas de pessoas já fizeram denúncias e estão sendo ouvidas, num inquérito que já envolveu outras pessoas do staff de programas da BBC. A empresa, financiada com contribuições pagas por todo o comprador de um aparelho de TV, no Reino Unido, com administração nomeada pelo governo, enfrenta uma dos maiores crises de sua história.

Os ajustes no quadro de pessoal, que estão levando à ameaça de greve, é o resultado da política mais recente adotada de reestruturar a empresa, pelos cortes no orçamento impostos pelo governo britânico, por causa da crise econômica. Pelo jeito, a BBC tida como modelo para várias televisões do mundo, vai continuar, infelizmente, nas manchetes negativas.

Veja o artigo “Escândalo da BBC arranha ícone britânico”, com mais detalhes sobre o escândalo do apresentador Jimmy Saville.