the guardianA mídia internacional montou um esquema de Copa do Mundo para cobrir a eleição do Papa.  Especialistas em Vaticano, história da Igreja e dos papas foram mobilizados para que nada escapasse à cobertura. E não faltou o perfil dos “papáveis”. Olharam para todos os lados. O brasileiro Odilo Scherer era seguido por jornalistas, onde andasse em Roma, como o segundo ou terceiro mais cotado. Biografias dos quase-papas já estavam prontas.

Esqueceram do argentino, o 13º nas casas de apostas. E toda a imprensa internacional correu, ontem à tarde, aos arquivos para descobrir quem era essa Cardeal latino-americano que foi tirado da cartola do Colégio de Cardeais. Jorge Mario Bergoglio, filho de italianos, foi a surpresa que muitos esperavam, mas nunca imaginado na lista dos favoritos.

Com forma de vida humilde e avesso às pompas tradicionais, pode ser o homem certo para o momento da Igreja, que enfrenta crises históricas: a perda de fiéis para outros cultos, os escândalos financeiros, envolvendo o Banco do Vaticano e o vazamento de documentos secretos, além da grande pedra no sapato, no século XXI: as denúncias de abusos sexuais, que desde 2002 assombram a Igreja.

Segundo o jornalista Juan Arias, do El País, a escolha do Papa carecia de grandes figuras, por isso havia tantos candidatos, como, aliás, acontece no mundo político da Europa. Mas essa conclave foi a emergência do catolicismo extraeuropeu, “de forma que os focos dos meios de comunicação se voltaram para buscar personalidades excepcionais entre os cardeais americanos, africanos e até mesmo asiáticos, uma plêiade de personagens pouco conhecidos mundialmente, submetidos nestes dias ao escrutínio público, tanto por suas biografias, quanto por seu caráter e capacidade de liderar a Igreja Católica.

Segundo Lluís Bassets, em artigo para o jornal espanhol El País, “a fumaça branca de ontem veio corroborar esta tendência com um dos candidatos extraeuropeus mais profundamente europeus, por origem, formação e também por suas posições conservadoras”.

Bergoglio conhece como poucos os bastidores do Vaticano, porque vive em Roma há muitos anos. E, segundo especulações, teria sido o segundo mais votado na eleição de Bento XVI, ou seja, o viés da mudança não aconteceu somente nesta eleição. Ele começou a soprar em 2005, na eleição do agora Papa emérito Bento XVI. No entendimento dos vaticanistas, é um latino-americano com profundos vínculos com a tradição da Igreja de Roma.

jornais novo papaA idade de 76 anos para a escolha do Pontífice indica também que o Colégio de Cardeais não quer um papado longo e que a mudança na cúpula da Igreja é benéfica pelo menos em períodos não maiores do que oito ou dez anos.

 

Veja como a mídia internacional deu as chamadas de capa para a eleição do Papa.

Ilustração: primeira página do jornal The Guardian, de 14/03/2013.

Ilustração: Turistas disputam jornais com a cobertura da eleição do Papa. Foto: Valdrin Xhemaj/EPA

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