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Se você fosse instalar um grande negócio, em escala mundial, disposto a apostar num mercado emergente, que metrópole escolheria? São Paulo, Tel Aviv (Israel), Kuala Lumpur (Malásia) ou Warsaw (Polônia)? Quem sabe, Buenos Aires?

Provavelmente, pelo desempenho da nossa economia, o empresário brasileiro cravaria S. Paulo, até porque conhece pouco o potencial das primeiras três cidades e a economia argentina não dá sinais de que possa ser um bom retorno para o investimento.

Mas a escolha de S. Paulo talvez não fosse um bom negócio. Todas essas cidades são mais competitivas do que S. Paulo. A resposta está no levantamento da Economist Intelligence Unit, unidade de pesquisa da revista The Economist, patrocinada pelo Citigroup, divulgada no início de março, com o ranking de competitividade das 120 maiores cidades do mundo. 

Para chegar ao resultado, os pesquisadores levaram em conta potencial para atrair negócios, em comparação com centros tradicionais e com os novos polos de desenvolvimento, principalmente os do Oriente. O Instituto define “competitividade” como a habilidade para atrair capital, negócios, talento e visitantes. Levam em conta também cidades onde surgirão novas oportunidades, propícias a criar valor e progresso em pouco tempo. 

O estudo comparou oito categorias de competitividade: força econômica, capital físico, maturidade financeira, eficácia institucional, caráter social e cultural, capital humano, risco ambiental e natural e apelo global. E 31 indicadores individuais, entre eles qualidade dos serviços de saúde, carga tributária, PIB per capita, transporte aéreo e facilidade de contratação de estrangeiros. 

Há de se levar em conta que metade da população mundial vive em cidades, onde se produzem 80% do PIB mundial. Para os pesquisadores, o rápido crescimento de muitas cidades, particularmente nos mercados emergentes, como China e Índia, tornará a competição por negócios, investimentos e talentos cada vez mais acirrada. O tamanho da cidade não foi indicador importante. Embora Nova York e Tóquio possam ser centros tradicionais de competição, Ahmedabad (Índia) e Tianjin (China), apresentam crescimento de dois dígitos, com potencial para evoluir mais rápido. 

O que determina uma cidade ser mais competitiva do que outra? Tamanho da economia e do crescimento são importantes e necessários. Mas, ambiente de negócios e de regulação, qualidade do capital humano, qualidade de vida e potencial para atrair visitantes fazem a diferença. São fatores que sustentam alta taxa de crescimento, mas também propiciam negócios e ambiente social estável e sustentável. 

As cidades europeias e americanas, apesar da crise econômica, são as mais competitivas no ranking. Nova York, Londres, Singapura, Hong Kong, Paris, Tóquio, Zurich, Washington, Chicago e Boston despontam nas dez primeiras posições. 

 "As cidades americanas e europeias têm valores históricos que lhes dão forte vantagem competitiva", afirmou o diretor de previsões europeias, Leo Abruzzese, citado no comunicado distribuído pelo Citigroup. Nada menos que onze cidades europeias ficaram no Top 30, incluindo Frankfurt (11º), Genebra (empatada em 13º), Amsterdã (17º) e Estocolmo (empatada em 20º). Dez cidades americanas também estão neste grupo: San Francisco (empatada em 13º), Los Angeles (19º) e Houston (empatada em 23º).

Quinze das 20 cidades consideradas por ter mais "força econômica" estão na Ásia: doze cidades chinesas, entre elas Tianjin, Dalian e Shenzhen encabeçam a lista; mas também a Cidade de Cingapura, Bangalore (Índia), Ahmedabad (Índia) e Hanói.

A primeira cidade brasileira, São Paulo, aparece em 62º lugar, abaixo de Buenos Aires (60º) e de várias cidades menores ou com potencial econômico inferior ao da capital paulista. Philadelphia, EUA (30), Auckland, Canadá (36), Birmingham, Inglaterra (37), Taipei, Taiwan (37) e Incheon, Coreia (56) são cidades de porte médio, com menos de 3 milhões de habitantes, bem posicionadas entre as 60 primeiras. 

Além de S. Paulo, apenas mais três cidades brasileiras figuram no ranking da EIU: Rio de Janeiro (76), Belo Horizonte (98) e Porto Alegre (102). Por que tão poucas cidades brasileiras? Mesmo assim, numa posição para lá de ruim? A resposta está na leitura da metodologia utilizada para produção do ranking. 

Por que o Brasil ficou para trás 

O Brasil ficou abaixo da média das 120 cidades mais competitivas. Não é difícil encontrar explicação. É um país considerado atrasado na regulação do mercado para negócio. Enquanto no Japão, em apenas algumas horas se abre uma empresa, no Brasil o empreendedor pode levar meses para conseguir regularizar um negócio. Quantas guias um exportador precisa para viabilizar a exportação de produtos brasileiros? Um sistema tributário atrasado, extremamente complexo do ponto de vista legal, além de oneroso para as empresas, eleva o “custo Brasil” a níveis bastante difíceis para competir com países de economia equivalente à brasileira, mas dispostos a atrair investidores, como a Índia, por exemplo. 

Além disso, cidades brasileiras, com potencial para despontar no ranking, continuam patinando por enfrentar sérios problemas de infraestrutura, principalmente transportes, comunicações e qualificação de mão de obra. Por isso, capital humano é outra categoria em que fomos reprovados. S. Paulo, melhor colocada nesse ranking, ficou em 96º lugar. Embora Porto Alegre tenha se destacado em eficácia institucional, na posição 61, Belo Horizonte, Rio e S. Paulo ficam atrás. 

Com explicar Lisboa, Praga e Budapest, situadas em países acossados por sérios problemas econômicos, serem mais competitivas do que São Paulo e Rio? Capital físico é outra categoria em que nosso desempenho também foi pífio no estudo: S.Paulo (73) ficou atrás de Santiago (66) e Buenos Aires (71). De positivo, apenas risco ambiental e natural para Belo Horizonte e Porto Alegre; e apelo global e maturidade financeira, para S. Paulo e Rio de Janeiro. 

Para quem imagina termos alcançado o paraíso, apenas porque ultrapassamos o Reino Unido, como sexta economia mundial, quando cotejamos os dados da pesquisa e os analisamos com mais profundidade, vemos que o caminho para nos tornar globalmente competitivos ainda é longo e penoso. 

Interessados no estudo completo, e no ranking das 120 cidades mais competitivas do mundo, até mesmo por categoria, podem acessar:

Benchmarking global city competitiveness .

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