protestos_egito_umFim do ano, mídia, governos e empresas fazem uma retrospectiva dos últimos 365 dias. Fatos marcantes nas áreas política, econômica, científica e nas artes são rememorados, principalmente aqueles que ficarão na história.

Mas 2011 ultrapassou todos os limites dos últimos anos. Foi um ano de crises agudas, principalmente no âmbito político e econômico, para muitos países. Alguns cientistas sociais o comparam a 1989, quando caiu o Muro de Berlim e grandes mudanças começaram a acontecer na geopolítica internacional, com a paulatina dissolução da União Soviética.

Como diz o colunista do El País Luís Bassets, as imagens emblemáticas deste ano são as dos tiranos caídos, entre elas se destacam as de Mubarak enjaulado e Kadaffi preso, linchado e sumariamente executado. Ou nada mais se assemelha a cenas do fim do mundo do que as imagens que nos proporcionou o tsunami do Japão, quando centenas de câmeras nos ofereceram a impressionante visão de pessoas, animais, carros e casas sendo arrastados e tragados como formigas por ondas gigantes.

Ainda não é possível, pela proximidade histórica, dimensionar a importância de 2011. Mas realmente o cenário internacional sofreu abalos violentos. Alguns marcantes, como a série de protestos populares – que ainda não acabaram – responsável pela queda de regimes totalitários, principalmente em países árabes. Da saída dos americanos do Iraque, à decisão da Standard & Poor's, de rebaixar a classificação máxima da dívida dos EUA para AA+, não precisamos nos aprofundar muito para perceber que ninguém esquecerá 2011.

Cenário internacional abalado

No âmbito internacional, os três fatos mais importantes aconteceram nas áreas econômica e política e no mundo da comunicação, com o escândalo do News of the World. A crise econômica que começou em setembro de 2008 não acabou. Ao contrário. Os efeitos perversos da retração econômica e do derretimento das bolsas de valores, tanto nos Estados Unidos, quanto na Europa, atingiram economias tidas até agora como desenvolvidas e avançadas.

Resultado: o desemprego agravou a crise na Europa. O refúgio de brasileiros e outros sul-americanos, em busca de emprego e futuro, ruiu. A Espanha ultrapassou 20% de desempregados. A França tem 2,8 milhões e o Reino Unido 2,5 milhões de pessoas à procura de trabalho, cenário parecido com os da Irlanda, Portugal e Grécia, com desdobramentos também na Itália. A União Europeia teria 140 milhões de pessoas na iminência da linha da pobreza, pela crescente perda do poder aquisitivo, principalmente de países do leste europeu, como Bulgária e Romênia. 

A Grécia quebrou, literalmente, e teve que ser duplamente socorrida pela União Europeia. O auxílio de países como Alemanha e França diz menos sobre a importância daquele país, para eles, do que sobre o futuro do Euro, este sim um fantasma a rondar a Europa o ano todo. No rastro do aperto financeiro, o povo foi para as ruas protestar, quebrar, incendiar. E governos começaram a cair, num efeito dominó. Portugal, Grécia, Irlanda, Espanha e Itália derrubaram os primeiros-ministros.

A crise econômica atingiu níveis tão alarmantes, que levou a líder alemã, Angela Merkel, afirmar que a Europa enfrenta o período mais grave dos últimos 60 anos, desde a II Guerra Mundial. Com a crise, o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, anunciou socorro de 489 bilhões de Euros a 523 bancos, mergulhados na onda de inadimplência e na desconfiança do mercado financeiro. 

Não bastasse a crise econômica, de repente um grupo de jovens se reúne na Praça Tahir, no Cairo e começa a protestar contra o governo do ditador egípcio Hosni Mubarak, no poder desde 1981. Com o apoio das redes sociais, esse grupo consegue a adesão popular e até de militares, além da simpatia internacional. Embora os egípcios tivessem recebido mais cobertura da mídia, não foram os pioneiros nesse tipo de protesto. Antes, durante um mês, jovens da Tunísia, com índice de desemprego de 30%, protestaram e derrubaram o ditador Ben Ali, cansados do aumento do preço dos alimentos, da corrupção e da falta de liberdade.

A Tunísia foi o primeiro dos países de origem árabe a apear do poder dirigentes longevos e decrépitos. Logo em seguida vem o Egito, a Líbia, seguidos de mais protestos no Iêmen, na Síria e Argélia. Alguns, como a Líbia, conseguem derrubar e executar o ditador Muamar Kadaffi, após uma luta sangrenta de vários meses. Para isso, precisaram do apoio de potências ocidentais. Em alguns países, como a Síria, as ditaduras continuam resistindo à custa de uma brutal repressão. Enquanto aumenta o número de vítimas, principalmente da população civil. Fala-se de 4 a 5 mil mortes nesse país, nos últimos meses. Acusações graves de violência e tortura, até mesmo contra crianças, mancham um ano que jamais será esquecido pelo povo sírio. 

Natureza enfurecida pega Japão de surpresa

tsunami_terremotoMas países estáveis politicamente também tiveram suas crises. A tragédia que se abateu sobre o Japão, na madrugada de 11 de março, é o mais caro desastre natural enfrentado pelo homem no mundo moderno. O resultado de três catástrofes – terremoto, tusnami, seguidos do risco de um vazamento nuclear com os acidentes na Usina Nuclear de Fukushima – expôs uma dura realidade. Por mais preparado que uma organização ou um país estejam para as crises, as tragédias podem superar qualquer tipo de prevenção.

O ano acaba e o Japão não conseguiu se recuperar da tragédia. Até o primeiro-ministro acabou reprovado nos quesitos transparência e agilidade. A população dos locais atingidos, principalmente os próximos à Usina Nuclear de Fukushima, não aceitaram as explicações sempre controversas sobre os níveis de radiação e a segurança em relação à ameaça nuclear.

Houve falhas na prevenção, apesar da magnitude da catástrofe. O Japão historicamente conhece muito bem o risco de terremotos e tsunamis. Só errou em prever a extensão da tragédia. Ondas de 11 metros ultrapassaram as barreiras de contenção e atingiram a usina nuclear. Em função disso, vários países começaram a revisar os programas de energia nuclear. Alguns, como a Alemanha, suspenderam a construção de novas usinas. O Japão, o país mais preparado para enfrentar crises naturais, desta vez também falhou. Ou pelo menos não soube como se prevenir.

A tragédia natural do Japão desencadeou crises em cadeia. Além dos gastos necessários para recuperação das áreas devastadas e deslocamentos de populações inteiras, calculados em quase US$ 300 bilhões, o país não conseguiu até agora apagar os efeitos da tragédia. Calculam-se as vítimas fatais entre 10 a 15 mil pessoas. Ninguém sabe. Não se conhecem ainda os efeitos da contaminação nuclear e dos impactos em pessoas, animais, alimentos, no ecossistema do Oceano e na natureza em geral, nos próximos anos. 

O país já sente os efeitos dessa crise na economia, em um ano agravado pela crise econômica internacional. Indústrias japonesas precisaram parar a produção, em função da tragédia. O que afetou também as exportações, sobretudo de veículos. Tudo isso somado, pode-se assegurar que os japoneses foram as maiores vítimas de crises em série no ano de 2011.

Para quem pensa que o problema se atém ao Japão, é bom ficar atento. O Secretário de Desenvolvimento Internacional da ONU, Andrew Mitchell, alertou nesta segunda-feira, 26, que o mundo "está perigosamente despreparado" para futuras catástrofes. "A comunidade internacional deve acordar para o desafio", disse. O Central Emergency Response Fund, mantido pelas Nações Unidas, com recursos de países desenvolvidos, foi duramente exigido este ano pela série de catástrofes naturais, como o tsunami no Japão, o terremoto na Nova Zelândia, a fome na África e inundações no Paquistão e nas Filipinas. Ou seja, existe uma outra crise para quem enfrenta calamidades: a falta de recursos para minimizá-la. 

Foto: Getty - Protestos no Egito.

Nos próximos posts analisaremos outras crises internacionais e as crises brasileiras.

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