twitter_foto“Imagine um mundo no qual nos é atribuída uma nota, que indica quão influente nós somos. Este conceito numérico iria ajudar a determinar se você recebe um emprego, um upgrade do quarto de um hotel de luxo ou amostras grátis no supermercado. Se a sua pontuação de influência é baixa, você não consegue a promoção, a suite ou os cookies de cortesia”.

“Isto não é ficção científica. Está acontecendo a milhões de usuários de redes sociais”. É assim que Stephanie Rosenbloom começa um artigo no New York Times, com o título: Você está noTwitter? Você está sendo medido. O artigo envereda por uma outra paranoia que começa a incomodar os profissionais de comunicação e quantos fazem das redes sociais uma forma de se projetar.

“Se você tiver uma conta no Facebook, Twitter ou LinkedIn, você já está sendo julgado - ou será em breve. Empresas com nomes como Klout, PeerIndex e Twitter Grader estão utilizando tecnologia para pontuar milhões, eventualmente bilhões de pessoas, de acordo com seu nível de influência – ou, no jargão das empresas de rating "Influenciadores". Mas os avaliadores não estão simplesmente olhando para o número de seguidores ou amigos que você acumulou. Ao contrário, eles estão começando a medir a influência de formas mais sutis e estão postando os julgamentos - na forma de uma pontuação ou escore – online”.

A autora do artigo vê um lado positivo nessa medição. Alguns especialistas a encaram como uma ferramenta inspiradora, que está incentivando a democratização da influência. “Já não tem que ser uma celebridade, um político ou uma personalidade de mídia para ser considerado influente. O escore social também pode ajudar a construir uma marca pessoal. Para os críticos, esse escore social é um vistoso novo mundo tecnológico, onde o seu rating poderia ajudar a determinar quão bem você é tratado por todos com quem você interage”.

"Agora você está sendo recebendo uma “nota” de uma forma bastante pública, quer você queira ou não", disse Mark W. Schaefer, professor adjunto de marketing da Rutgers University e diretor executivo de Soluções de Marketing Schaefer. "É um caminho para se tornar publicamente acessível às pessoas que você encontra, às pessoas para quem você trabalha. Ou seja, isso está rapidamente se tornando uma tendência".

Stephanie Rosenbloom explica que o escore de influência geralmente varia de 1 a 100. No Klout, um dos sites que domina esse espaço, a pontuação média fica nos “teens”, entre 13 e 19. A pontuação na casa dos 40 sugere um forte nicho de seguidores. Uma de 100, por outro lado, significa que você assemelha-se a Justin Bieber. No site da PeerIndex, a pontuação média é de 19. Um 100 perfeito, diz a empresa, equipara você a um "quase-deus". Desse ponto de vista, Justin Bieber teria mais influência no mundo virtual do que o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ou o lider tibetano, Dalai Lama. Isso porque o cantor mobiliza mais atenção das massas nas mídias sociais do que os dois líderes.

De acordo com o site Klout, enquanto Justin Bieber bateu o teto de 100, no ranking de influência nas redes sociais, Dalai Lama é o segundo com 90 e a popularidade e influência de Barack Obama ocupa a quarta posição, com 88. Ele perde até para a excêntrica cantora Lady Gaga, com índice de 89.

Não há ainda uma metodologia fechada para saber quão influenciadoras as pessoas são. Segundo Stephanie Rosenbloom , “as empresas ainda estão refinando suas metodologias - peneirando os dados e avaliando outros sites de relacionamento. Este mês, o Klout anunciou que estava começando a incorporar perfis do LinkedIn”.

Mas já há sinais no mercado de que as empresas estão levando a sério esse escore de influência nas redes sociais. “Mais de 2.500 empresas estão usando dados do Klout. Há duas semanas, o Klout revelou que a Audi iria começar a oferecer promoções para os usuários do Facebook com base na escore (notas obtidas) do site. No ano passado, a Virgin America usou a empresa para oferecer a influenciadores muito bem cotados voos de ida e volta de Toronto para San Francisco ou Los Angeles. Em Las Vegas, o Palms Hotel e Casino está usando dados do Klout para oferecer aos clientes altamente cotados um upgrade ou bilhetes para o Cirque du Soleil” .

A Disney é outra empresa que está de olho no ranking do Klout. Ela convidaria “influenciadores” para verem e divulgarem suas atrações. Joe Fernandez, diretor executivo e co-fundador do Klout, assegura que além das empresas “até os lobistas de Washington vieram solicitar dados do nosso ranking. Eles querem saber quem são as pessoas e quem tem poder de comandar a opinião pública”.

Como se tornar um influenciador?influenciadores

O argumento dos sites de medição é bastante forte. "Pela primeira vez, todos nós estamos jogando no mesmo campo", disse Joe Fernandez. "Pela primeira vez, não é apenas pelo quanto de dinheiro que você tem ou pelo que você parece. É o que você diz e como você diz isso". Mas, certamente, muitos devem estar se perguntando como alguém se torna um influenciador de respeito?

É a jornalista que assegura: “Depois de analisar 22 milhões de tweets no ano passado, pesquisadores da HP descobriram que isso não é o suficiente para atrair seguidores no Twitter - você deve inspirar os seguidores a fazerem alguma coisa”. Ou seja, significa persuadi-los a comprar determinados produtos, a tomar decisões. Por isso, as empresas estão interessadas em estimular o contato ou estabelecer redes com esses “influenciadores”, para transformá-los em divulgadores de produtos e serviços. “Em outras palavras, a influência é sobre o envolvimento e a motivação, e não apenas pelo acúmulo de uma legião de seguidores”, diz a jornalista.

Ainda de acordo com o artigo do NYT, “profissionais do setor dizem que é também importante focar a presença digital em uma ou duas áreas de interesse. Não ser um generalista. O mais importante: ser apaixonado, conhecedor e confiável".

Mas os especialistas em redes sociais admitem que a pontuação é subjetiva e, por enquanto, imperfeita: a maioria das empresas de análise dependem fortemente dos usuários do Twitter e dos perfis do Facebook, deixando de fora outras atividades online, como blogs ou vídeos postados no YouTube. Quanto à influência no mundo offline - ela não conta, pelo menos nesse caso.

De acordo com explicações dos executivos do Klout, eles usam uma complexa fórmula algorítimica para calcular o índice. O cálculo é feito em pesquisas no número de tweets, retuítes, links, conexões, perfis no Twitter, Linkedin, Facebook, Google, levando em conta também a performance em outras mídias sociais.

O diretor da PeerIndex chama isso de "problema do Clay Shirky," referindo-se ao escritor e teórico americano, considerado um proeminente pensador dos efeitos sociais e econômicos das tecnologias da internet e que não usa Twitter, embora seja muito influente. “Uma pessoa pode ser um formador de opinião, com grande influência, e ainda não ter aderido às redes sociais ". Nem por isso deixa de ter influência.

Stephanie Rosenbloom suscita também o questionamento de Jeremiah Owyang, analista do Altimeter Group, uma empresa de consultoria de estratégia digital, que alerta sobre o uso de uma única métrica para avaliar a influência. Seria uma metodologia perigosa. Ele observou que o Klout "carece de análise de sentimento". Assim, um usuário que gera muitas conversas digitais pode receber uma pontuação elevada, embora o que esteja sendo dito sobre ele seja muito negativo. Além disso, uma única métrica pode ser enganadora: alguém com pouca experiência no Twitter pode obter rapidamente uma pontuação elevada, se o fato decorrer a partir de um post de vídeo que vai se transformar num viral.

Outra preocupação. Mark W. Schaefer e outros analistas alertam que estamos nos aproximando da criação do "sistema de castas da mídia social", onde as pessoas com altos escores recebem tratamento preferencial por parte dos varejistas e potenciais empregadores. Nesse caso, alguém poderia ser discriminado ou receber um atendimento pior por não fazer parte desse privilegiado grupo.

A jornalista conclui: “não é de admirar que algumas pessoas estão tentando jogar com seus escores. Alcançar verdadeira influência requer tempo e compromisso. Se você resolver entrar de férias por um bom tempo ou descansar das redes sociais ”o seu lado digital vai pagar o preço”. E adeus escore bom entre os influenciadores. "Entrei de férias por duas semanas", disse Schaefer, "e minha pontuação Klout caiu." Em resumo, não bastasse a paranoia da competição diária por melhor desempenho no trabalho, você agora tem que estar preocupado com seu "rating de influência".

Stephanie Rosenbloom é repórter do The New York Times. Ilustração: Joon Mo Kang



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