banca_de_revistaQuando se fala na agonia dos jornais impressos, os especialistas apontam a facilidade das edições online e o hábito de leitura das novas gerações como culpados. O número de leitores estaria caindo, porque se preferiria as versões digitais, mais práticas e mais baratas, ou porque as novas gerações não seguiram o hábito de seus pais e avós.


 
Artigo publicado no The Observer, de Londres, por Peter Preston, assegura que não há uma correlação clara entre o aumento do tráfego na Internet e uma queda na circulação do jornal. Alguns jornais estão crescendo em ambos os formatos, os outros nem isto estão conseguindo, de acordo com pesquisa divulgada na Inglaterra.

Segundo Preston, uma leitura simples da circulação diária dos jornais britânicos daria razão aos catastrofistas de que não existe futuro para os jornais impressos. Números de setembro, auditados pela empresa ABC, mostram queda de 5,31% na circulação dos jornais em um ano. Aos domingos, 6,7%.  Segundo o articulista, é muito fácil achar um culpado. “É a infernal internet, a revolução digital, o iPad, o laptop e o smartphone assumindo o lugar da mídia impressa. O jornalismo online é a morte anunciada do mundo de Gutenberg, inexorável, inevitável, o inimigo que todos nós usamos para nos apegar. Só que não é”, diz ele.

Como as empresas jornalísticas parecem obcecadas pela ideia de que a internet seria realmente a grande vilã das edições impressas, uma nova pesquisa, feita em outubro, examina em detalhe o sucesso dos sites de jornais e as tentativas para encontrar correlação estatística com a queda nas vendas da edição impressa. Enquanto um sobe, o outro deve ir para baixo, certo?

"No Reino Unido, pelo menos, não existe essa correlação", diz o analista Jim Chisholm, mentor da pesquisa.  "Isso é verdade, tanto a nível micro, em termos de títulos de jornais do Reino Unido, como de grupos editoriais e em um nível macro comparando a adoção da Internet nacional com o desempenho de circulação. Na verdade, o caso oposto pode-se argumentar: que os jornais que se saem bem na web, também podem fazer o melhor nas edições impressas. Ou seja, os tradicionais, e preocupados, jornalistas deveriam saber que a internet não é uma ameaça".

O objetivo das pesquisas é incentivar os editores britânicos para uma ação renovada na web - citando especificamente os jornais britânicos The Guardian, Daily Telegraph, e The Independent, para promover uma melhora significativa na proporção de visitantes únicos mensais para os seus sites, quando comparado com circulação de impressos. (The Guardian, com 125 visitantes únicos em relação à edição impressa, é muito maior do que qualquer outro jornal europeu e também gera mais de três vezes o número de impressões de páginas do Reino Unido em relação à sua circulação). Além disso, os jornais nacionais do Reino Unido conseguem bater nesse quesito em até nove vezes os prestigiados jornais da Alemanha, um dos poucos países onde a mídia impressa não teve queda nos últimos anos.

Poderiam eles, e os jornais regionais britânicos, fazer melhor, então? Na verdade, eles poderiam. "A questão não é só de audiência total, mas de frequência e fidelidade - e na versão on-line, como na impressa, os jornais são ótimos para atrair leitores aleatórios, mas não para atraí-los com frequência suficiente para mantê-los fidelizados”.

Basta lembrar o exemplo do The Times e The Sunday Times, do grupo do todo poderoso magnata da mídia Rupert Murdoch, que resolveu cobrar pelo acesso online a partir de junho deste ano. Nos primeiros meses a audiência online caiu 66%. Menos do que esperava o jornal, segundo seus editores.  Dos mais de 10 milhões de leitores dos dois jornais, pouco mais de 100 mil se animaram a pagar a irrisória quantia de R$ 5,00 por uma assinatura mensal. O que demonstra a dificuldade dos jornais em cativar o público para custear aquilo que se acostumaram a ver de graça, a qualquer hora, na internet. E pior: o acesso online aos jornais caiu para 3,5 milhões de leitores mensais.

O autor do artigo volta a chamar a atenção para a pesquisa ABC sobre a circulação de alguns jornais britânicos bem antes da internet e agora. “Digamos Setembro de 1995 - para fazer o ponto. Um deles, o Daily Star está se saindo melhor do que há 15 anos, sem a presença da net:  757.080 exemplares em 1995, contra 864.315 mês passado. O Daily Mail, com 2.144.229 de leitores neste setembro, contra 1.866.197, 15 anos atrás, está bem acima da média, com um site em crescimento em mais de 60% ao ano. Alguns – como o Daily Mirror, foram noutra direção. O número de leitores caiu de 2.,6 milhões para 1,21 milhões. Ou seja, foi impactado de maneira direta”. Mas seria exclusivamente por causa da web?

Ha alguma luz no fim do túnel? Sim, dizem os analistas. Todos apostam na recuperação econômica em 2011, o que poderia incentivar a indústria. E a proliferação dos tablets eletrônicos, também uma esperança de estimular investimentos na qualidade dos conteúdos, principalmente para os grandes jornais, que já possuem consumidores fiéis.

Para Preston, os jornais “The Guardian, Times e Telegraph todos estão caindo em torno de um terço, e o The Sun perdeu mais de um milhão de leitores: mas de novo não há nenhuma relação mecânica aqui com a internet”. O jornal também se tornou um produto muito caro.

Outro artigo recente, no The Guardian, de Londres, do analista econômico de novas mídias, Rick Edmonds, apontou sete causas para os jornais no mundo continuarem a enfrentar dificuldades. A queda da receita publicitária, cerca de 20% ano em relação a 2009: O crescimento online não cobre o gap das perdas de receita na versão impressa: o preço do papel de impressão, que continua subindo; o custo da mão-de-obra e das instalações também continua elevado; o chamado ciclo da “espiral da morte”, ou seja, baixas tiragens depressia os preços da publicidade.  Com jornais menores, o número de leitores cai. As dívidas das empresas continuam elevadas, principalmente por causa dos juros.

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