“Pode ser pior que o Valdez”. Essa é a expressão de ambientalistas que acompanham de perto o maior desastre ecológico do últimos tempos nos Estados Unidos. O acidente representa um baque não apenas financeiro para a British Petroleum, mas um estrago a longo prazo na sua reputação e, possivelmente, nas suas intenções de continuar com negócios no Golfo do México.
O vazamento, que começou após explosão e afundamento da Plataforma Deepwater Horizon, dia 20 de abril, no Golfo do México, assumiu proporções catastróficas. Atingiu as praias do estado da Lousiana e, ajudado por ventos fortes e a maré ameaça mais três estados. Ambientalistas acreditam que segunda-feira atingirá as costas de Mississipi e Alabama. A extensão da tragédia levará Obama neste domingo ao local do desastre. O Comandante da Guarda Costeira dos EUA afirmou não ter condições de estimar a extensão do vazamento e dos impactos.
Para o CEO da BP, Tony Hayward, o acidente ameaça anular todos os esforços que ele tem feito para limpar a reputação da empresa após a explosão de uma refinaria no Texas, em 2005 e o vazamento de um oleoduto no Alasca em 2006. “O que droga nós fizemos para merecer isto”? perguntou o executivo para seus colegas em Londres.
O CEO da empresa tem consciência de que, sob o aspecto da reputação, sob qualquer ângulo que se analise,” nós seremos julgados pela qualidade, intensidade, velocidade e eficácia de nossa resposta”. Embora atribua a responsabilidade pelo acidente à operadora da plataforma Transocean, o CEO admite que era responsabilidade da BP cuidar imediatamente do problema. ”Nós encaramos esse fato com o máxima seriedade”.
Ambientalistas americanos, uma semana após a explosão, já criticam tanto a empresa quanto o governo americano por terem sido lentos na descoberta da extensão da catástrofe. A BP admitiu na sexta-feira (30), dez dias após o acidente, que as consequências poderiam ser piores do que a empresa pensou inicialmente. A quantidade de óleo que vaza da plataforma seria cinco vezes maior do que inicialmente a BP estimou. Autoridades do governo americano criticaram publicamente a maneira como a BP está conduzindo essa crise, ao considerar inadequados os recursos utilizados para conter o que está se tornando uma catástrofe ambiental.
Falta de atenção? Ou uma característica muito presente nas crises empresariais: tentar minimizar o problema, para desestimular uma cobertura muito grande da mídia. Embora o estopim do acidente esteja a 1.500 metros de profundidade, não há como esconder a mancha que toma conta do litoral de quatro estados americanos. As imagens falam por si: mudou a cor do mar, pássaros e peixes aparecem cobertos de petróleo, ampla cobertura da mídia internacional, enfim, um pesadelo que a BP agora terá que carregar por muito tempo.Muito semelhante ao que assistimos pela TV em 1989, quando do vazamento de 40 milhões de litros de petróleo na costa do Alaska, do petroleiro Exxon Valdez.
As primeiras informações davam conta de um vazamento de mil litros diários de petróleo. Depois, firmou-se a convicção de que eram 5 mil litros por dia. Mas neste sábado (1º), admite-se já como de 100 mil litros diários o estrago nas costas do sul dos Estados Unidos. Ou seja, pode se tornar o maior acidente ambiental dos Estados Unidos. Isso é que assombra autoridades e trabalhadores da região. Acidentes ambientais não são crises frequentes. Mas a extensão deles é sempre maior do que outros tipos de crises.
Prejuízos incalculáveis
Ninguém realmente sabe qual o prejuízo financeiro que a onda gigante de petróleo poderá acarretar, no que pode se tornar o maior vazamento de petróleo da história. O desastre ecológico com o petroleiro Exxon Valdez, por exemplo, já custou à Exxon Mobil mais de US 4,3 bilhões, incluindo pagamentos compensatórios, indenizações a pescadores e à população, limpeza da costa, acordos e multas.
A magnitude do desastre ecológico atual atingiu também os investidores. As ações da BP caíram mais de 8% na quinta-feira na Bolsa de Nova York e o valor de mercado da BP caiu US$ 25 bilhões desde o início da crise. Desde o acidente, os ADR (títulos) da empresa caíram cerca de 13%. Analistas de Wall Street afirmam que enquanto a empresa estiver gastando US$ 6 milhões por dia tentando consertar o estrago, é impossível calcular quanto vai lhe custar o desastre.
Como calcular, no estágio atual, quanto custará a limpeza das áreas atingidas, dependendo de onde o óleo chegará. Além das penalidades a serem aplicadas pelos órgãos ambientais, advogados admitem uma quantidade de ações contra a BP e demais empresas envolvidas, movidas por pescadores e trabalhadores do mar atingidos pelo óleo.
Independentemente da avaliação da culpa pelo acidente, os analistas de Wall Street previnem também que tudo que a BP fizer de agora em diante estará sob o escrutínio dos órgãos reguladores e potenciais parceiros em perfurações naquela região.
Fadel Gheit, diretor e analista de petróleo da Oppenheimer & Company, disse que nos últimos dois anos, parece que a BP realmente conseguiu limpar sua reputação. Mas, ao se referir ao vazamento, afirmou que agora é como se um castelo de cartas tivesse desandado totalmente”.
O problema é que a BP nos últimos anos vinha tentando firmar um conceito “Além do Petróleo”, como uma empresa que tem consciência ambiental e quer desenvolver fontes alternativas de energia, como energia solar e eólica. Mas a empresa parece ter perdido o foco na manutenção e segurança, segundo os próprios executivos da BP reconhecem.
A explosão da refinaria no Texas, em 2005, que matou 15 trabalhadores e feriu centenas, ocasionou uma multa recorde de US$ 87 milhões por negligência na correção de ações de segurança. Apenas um ano depois, o vazamento num oleoduto no Alasca forçou o fechamento de um dos maiores campos de petróleo dos EUA. Mais uma multa de US$ 20 milhões em processo criminal pela empresa ter negligenciado na manutenção dos oleodutos. Muito passivo para quem tentava mudar a imagem.
O direcionamento da empresa para explorações cada vez mais agressivas em águas profundas do golfo indicam que, a despeito do acidente, a BP não mudará sua política. Os executivos insistem que a explosão, que afundou a plataforma Deepwater Horizon e matou 11 trabalhadores, não repercutirá nos padrões de segurança da empresa. “O acidente ocorreu numa torre de propriedade, dirigida e operada pela Transocean” disse o porta-voz da empresa. “Envolve a falha de uma peça do equipamento naquela torre. Isso não leva a conclusão de falha no sistema de segurança da BP”. Analistas admitem que essa é uma prova de fogo para a BP. “Isto testará Tony e sua habilidade para responder a esta situação. Nós veremos se realmente estamos vendo uma nova BP”.
Nos próximos dias, sob pressão do governo americano e diante de uma crise para a qual se acordou tarde, a empresa britânica terá que mostrar para o mundo como se administra uma crise dessa dimensão. Por qualquer ângulo que se olhe, ela está diante de um desafio que poderá ficar na história. Ou seja, um grande case de crise para se acompanhar nas próximas semanas.
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