No Brasil, a maioria dos jornais com edições na internet restringe o acesso ao conteúdo somente aos assinantes. Isso talvez explique o baixo número de leitores, tanto da edição impressa, como online. Até a perda de leitores, nos últimos anos. A Folha de S. Paulo – considerado um dos principais jornais do país - vendeu nas bancas em média, entre janeiro e setembro do ano passado, 21.849 exemplares diários, segundo o IVC. Em outubro de 1996, a venda avulsa da Folha num domingo chegava a 489 mil exemplares. Entre os jornais auditados pelo IVC, nesse período, a FSP posicionou-se em 24º lugar em venda avulsa.
Por isso a aposta nos leitores on line. Para se ter uma idéia, o New York Times, considerado o melhor jornal do mundo por vários especialistas, tem entre 18 a 20 milhões de acessos on line por mês, embora seja o terceiro em circulação nos EUA. Tudo gratuitamente.
Mas até o NYT começa a se render à tese de que não é possível mais oferecer conteúdo totalmente livre. Já anunciou que a partir de 2011 irá cobrar. Só não definiu como. Se toda a edição ou cobrança por matéria, como se usa hoje para adquirir uma música na internet. Visitantes frequentes do site passarão a pagar uma mensalidade fixa depois de ultrapassarem um número de artigos lidos de graça num período de 30 dias. O medo da direção do jornal americano é perder boa parte dessa massa de leitores on line, que pelo menos garante um bom faturamento publicitário (cerca de US$ 100 milhões anuais). Nos EUA, vários jornais pequenos em crise fecharam a edição impressa e migraram para o conteúdo on line. Foi uma aposta arriscada que, em muitos casos, não deu certo.
O dilema dos grandes jornais
O problema de produzir conteúdo noticioso e oferecê-lo de graça se agravou com as sucessivas crises econômicas e a consequente redução da receita publicitária. É ela, em última instância, que garante a independência e a sobrevida dos jornais. Assinaturas não cobrem todas as despesas. O dilema dos grandes jornais é manter e se possível aumentar os assinantes da versão impressa. Isso, porque as pesquisas têm mostrado que é um público restrito àquelas gerações com tradição de ler jornais em casa, como faziam seus pais. Ou seja, a geração pós-II Guerra Mundial, que hoje está na faixa acima de 50 anos. Como fazer então para renovar esse universo de leitores?
Essa geração não abre mão de receber de manhã cedo o jornal impresso em casa ou no trabalho. A sensação de manusear e folhar o jornal ainda é insubstituível e há sérias dúvidas se conteúdos densos, muito comuns na mídia impressa, seriam bem aceitos por leitores virtuais, como acontece com os grandes jornais e revistas.
Rupert Murdoch, o todo poderoso dono na grupo News Corporation, que controla a Fox, Sky News e vários jornais nos EUA, Europa e Austrália, quando comprou o The Wall Street Journal, manifestou a intenção de cobrar pelo conteúdo. Fez isso e mantém. Assim também com o Financial Times, que permite a aquisição de matérias isoladamente. Murdoch é um dos mais ferrenhos defensores de que todos os jornais deveriam cobrar pelo conteúdo oferecido nos sites, o que lhe valeu até um desentendimento com o Google. Mas não tem a unanimidade dos seus pares.
Como os jornais diários, tablóides, revistas irão enfrentar essa realidade? A cobrança pode ser realmente uma forma de afastar leitores. Hoje, além do NYT, jornais importantes como The Times, El País e Le Monde, permitem acesso livre aos seus sites. É um manancial de informações que atrai milhões de leitores pelo mundo. A geração mais nova não quer saber de leitura em papel. Prefere se informar na leitura rápida, condensada e asséptica da internet. Especialistas duvidam que a internet faça os jornais desaparecerem. Como em todos os temas do mundo, os profetas do apocalipse já apareceram. Philip Meyer, autor do livro Os jornais podem desaparecer? aventurou-se até a fixar a data da circulação do último jornal impresso: ano de 2043.