Como em todas as guerras, na atual incursão bélica de Israel sobre Gaza, a primeira vítima sempre é a verdade. Israel bloqueou o acesso de jornalistas à faixa de Gaza, desde o início do conflito, alegando motivos de segurança. A região foi declarada “zona militar fechada” pelas autoridades locais. As notícias que o mundo recebe vêm de canais oficiais ou de jornalistas árabes que estão dentro da faixa de Gaza. A única TV presente no local é a Al Jazeera, que tem correspondente local.
As versões, portanto, estão sempre contaminadas pelo viés de quem as divulga. Os israelenses procuram minimizar as críticas de que a força utilizada é desproporcional à ameaça. Defendem-se sob o argumento de que o Hamas esconde armas contrabandeadas do Irã e continua atacando o território israelense com mísseis.
Do lado dos palestinos, as notícias mostram a versão de um genocídio, com vítimas civis, principalmente mulheres e crianças. As fotos de crianças e civis dilacerados, que ocupam as primeiras páginas dos jornais de todo mundo, chocam e mobilizam líderes políticos. Mas a retórica não é suficiente para segurar os aviões israelenses. Cada lado procura maximizar sua versão. De um lado e de outro, a principal vítima é a verdade.
O ataque a uma escola administrada pela ONU dia 6 de janeiro, com 40 vítimas fatais, teve o repúdio unânime do mundo e choca pela violência contra crianças e civis desarmados. O argumento de que um foguete teria partido da escola, é muito fraco para justificar a truculência do ataque. Como disse um autor, nós adultos, temos sempre alguma culpa para purgar. Mas as crianças, que culpa têm as crianças para serem as vítimas mais frágeis dessas disputas?
Custamos a entender que na origem dessa guerra existem diferenças históricas, interesses eleitorais e até fanatismo religioso. São chocantes as imagens de militantes e soldados rezando, antes de arremessarem uma bomba para matar crianças. Como diz a historiadora americana Barbara Tuchman, na notável obra A Marcha da Insensatez, “A interferência divina não absolve o homem da insensatez; muito ao contrário, não passa de estratagema humano destinado a transferir as responsabilidades de suas tolices”.