Há dois meses a área econômica tem acompanhado um fato que acabou redundando na queda do Presidente do Banco Mundial. Dele podemos tirar várias lições sobre a administração de crise nas grandes organizações. O fato é que Paul Wolfowitz, presidente do Banco Mundial, admitiu em abril último ter favorecido sua namorada Shaha Riza, funcionária do mesmo banco, ao promovê-la para um cargo com salário milionário.



Saha Riza era funcionária do Banco Mundial e foi transferida para o Departamento de Estado em setembro de 2005, logo depois de Wolfowitz assumir a presidência do Bird. A namorada teve um aumento de US$ 61 mil (mais de 40%) sobre o salário anterior.

Em abril Wolfowitz foi à televisão (veja matéria no Jornal Nacional de 12/04/07) admitir que errou. “Sinto muito disse ele, cometi um erro”. Na ocasião especulava-se que o pedido de desculpas seria suficiente para o executivo se safar. Essa é uma admissão de culpa. Em alguns casos, funciona. A mídia esquece e o atingido pelas acusações acaba também esquecido. A crise, então, passa.

No caso do Wolfowitz não foi assim. O governo americano tentou manter o apoio ao presidente do Bird. Mas as pressões dos funcionários e do mundo todo foi muito grande. Em 10 de maio, quase 52 mil pessoas, entre elas 506 brasileiros, assinaram um pedido de renúncia do presidente do Banco Mundial. Os protestos foram organizados por uma ONG na porta do banco, em Washington.

O acontecimento teve a cobertura da imprensa. A mídia não deu sossego à crise pessoal do presidente do Banco. As explicações dele não foram suficientes para reduzir o impacto do escândalo.

Na mesma ocasião, o comitê do banco, formado por 24 integrantes, o considerou culpado de favorecer a namorada e o conselho de administração do Bird passou a aguardar a resposta do presidente ao relatório e a defesa do acusado. Quando o conselho do Bird considerou procedente a queixa de favorecimento à namorada, a situação ficou indefensável.

No dia 17 de maio, não agüentando as pressões o presidente do Banco Mundial anunciou sua saída do cargo para o dia 30 de junho. Em entrevista concedida no fim de maio, ele atribui essa decisão à pressão da imprensa. Ao anunciar a saída, Paul Wolfowitz disse “Acho que (o ocorrido) nos diz mais da forma de atuar da imprensa que do banco; as pessoas se deixaram influir por afirmações inexatas e, quando conseguimos estabelecer mais ou menos a verdade, os sentimentos já estavam transbordados”, numa queixa às pressões que teria sofrido da mídia, mais que do banco.

É uma prática comum dos executivos que se envolvem em escândalos atribuir a culpa à mídia. Na verdade, a imprensa reverbera os fatos. A crise na presidência do Bird tem um único culpado: Paul Wolfowitz, quando ele promoveu sua namorada, certamente pela força do cargo. O resto é conseqüência.

Do caso, podemos tirar várias lições. Hoje, a sociedade exige transparência nos negócios públicos e privados. Ao promover a namorada ou dar um jeitinho para que ela tivesse aumento de salário, o presidente do Bird usou da prerrogativa do cargo e isso a mídia também não perdoa. Ele achou que a confissão de culpa seria suficiente. Não foi. A imprensa não foi a única a cobrar. Funcionários e a própria sociedade americana deixaram Paul Wolfowitz numa situação delicada.

Foi a primeira vez que um presidente do Banco Mundial é levado a renunciar. Trata-se de um precedente que tem todos os ingredientes de uma crise de proporções ocorrida por um fato trivial, que diz respeito à vida privada do ex-presidente. Misturar as duas coisas é nitroglicerina pura. Deu no que deu. A reputação do homem público não pode sofrer qualquer arranhão. Aqui vale a máxima do gerenciamento de crise: se não quiser que publique, não faça.

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