Uma pequena cidade do Texas, EUA, perto da fronteira com o México, vive até hoje o pesadelo do atentado de 24 de maio, quando um jovem de 20 anos entrou numa escola fundamental de Uvalde e matou 19 crianças e dois professores. Foi mais um capítulo na triste história americana de violência em escolas, casas de diversões, no transporte e até em unidades militares, por meio de atentados.

Desde o dia do ocorrido, a mídia e autoridades americanas começaram a questionar a atuação da polícia local. Principalmente, quando as gravações e os depoimentos revelaram que os policiais que estavam próximos à escola, na hora em que o atirador invadiu, ficaram indecisos e demoraram 70 minutos para entrar na escola e neutralizar o criminoso. Todas as análises indicam que se a polícia tivesse cumprido rigorosamente seu papel e avançado, no início do tiroteio, muitas vidas teriam sido poupadas. O site The Poynter publicou hoje (18/07) um artigo em que a atuação dos policiais é colocada em xeque, não medindo palavras, nos depoimentos de especialistas, sobre os erros cometidos na reação àquele atentado.

Os detalhes do massacre – as vítimas e o suspeito de 18 anos, que foi abatido pela polícia -, são divulgados enquanto o país enfrenta o horror do tiroteio mais mortal, realizado contra uma escola, desde a tragédia na escola elementar Sandy Hook, em Connecticut, há uma década.

“Falhas sistêmicas”. “Foi assim que um comitê especial da Câmara do Texas descreveu a resposta da aplicação da lei em um relatório de 77 páginas sobre o tiroteio em massa que matou 19 alunos e dois professores na Robb Elementary School em Uvalde, Texas, em 24 de maio. “Quase 400 policiais, incluindo alguns de agências federais, estavam no local naquele dia, mas adotaram uma “abordagem geral despreocupada”, segundo o relatório. Segundo o documento, "departamentos mais bem equipados deveriam ter se intensificado para preencher um vazio de liderança, depois que o chefe de polícia das escolas de Uvalde não assumiu o comando." Há um princípio básico de gestão de crises que preconiza a necessidade de ter um comando, uma liderança no momento decisivo. O que, muito provavelmente faltou à polícia local, naquele dia.

Os repórteres J. David Goodman e Edgar Sandoval, do New York Times, escreveram: “As descobertas representaram o relato externo mais completo do que aconteceu durante os 77 minutos entre quando o atirador começou a atirar dentro das salas de aula e quando a polícia finalmente invadiu e encerrou o ataque. Foi o massacre de 24 de maio, que deixou 19 alunos e dois professores mortos. Mas o relatório descobriu que uma resposta policial impecável não teria salvado a maioria das vítimas, que sofreram ferimentos devastadores quando foram baleadas com um rifle de alta potência do estilo AR-15 por um atirador que estava esperando seu aniversário de 18 anos para comprar a arma legalmente.” Relatos dos socorristas são terríveis: várias crianças foram degoladas pelos tiros.

Mas há um consenso entre as autoridades americanas de que falhas ocorreram e a intervenção rápida, tempestiva e imediata poderia ter salvado vidas e evitado esse número terrível de vítimas inocentes.

O artigo do The Poynter acrescenta que os repórteres Emma Tucker, Shimon Prokupecz, Dakin Andone e Peter Nickeas, escrevendo para a CNN, têm “5 principais conclusões do relatório do tiroteio em Uvalde e vídeo revelando falhas na resposta da lei”.

“Enquanto isso, o repórter Shimon Prokupecz também obteve um vídeo de câmera corporal da polícia, que não havia sido visto publicamente até agora. Isso mostra o quão caótico era o cenário dentro da escola naquele dia e o quão indecisa a aplicação da lei estava.”

E mais: “O colunista de opinião da MSNBC, Frank Figliuzzi, foi enfático em acusar a polícia local: “É hora de falar sobre acusações criminais para os líderes da polícia de Uvalde”. Durante uma aparição num programa de TV, Figliuzzi disse ao co-apresentador Mika Brzezinski que não era fácil para ele escrever uma coluna assim porque costumava carregar um distintivo. Ele foi o diretor assistente de contra-inteligência do FBI e serviu 25 anos como agente especial.”

Em sua coluna, Figliuzzi escreveu: “Eu instintivamente dou o benefício da dúvida aos policiais porque sei que eles têm um dos trabalhos mais difíceis da nossa sociedade. Quando discuto o uso da força letal pela polícia como analista de televisão, geralmente lembro aos espectadores que não estávamos lá, as aparições iniciais geralmente são incompletas e precisamos esperar por mais fatos”.

No entanto, Figliuzzi escreveu: “Eu assisti o vídeo inteiro. Ouvi o pipocar de mais de 100 tiros disparados pelo atirador. Eu assisti através da perspectiva de um veterano de 25 anos de aplicação da lei e como ex-chefe de investigações internas de tiroteio do FBI. Eu assisti como um pai e avô. O que vi não respondeu a todas as minhas perguntas, mas provocou uma nova: o atirador de Uvalde era o único criminoso na escola naquele dia? Porque o que eu vi naquele vídeo da escola, na minha opinião profissional, pode ser um crime – da polícia.”

“A mídia recebeu críticas por sua busca incansável pela verdade sobre o que aconteceu naquele dia horrível, e quanto mais aprendemos, mais percebemos que muitas perguntas ainda permanecem sem resposta. E essa busca da verdade é mais importante do que nunca.” 

O Chefe da Polícia da cidade foi muito criticado pela mídia, logo após o atentado, ao tentar justificar a lentidão e a indecisão dos policiais, na invasão da escola. Há vídeos vazados, das câmeras da escola, que mostram policiais num corredor, ouvindo uma sequência de tiros, e aparentemente com medo de invadirem a sala. Um deles estava com um colete à prova de balas. Impressionante a cena.

O artigo de Godman e Sandoval, no New York Times, acrescenta? “Se há apenas uma coisa que posso dizer é que houve várias falhas sistêmicas”, disse o deputado estadual Dustin Burrows, que liderou a investigação, em entrevista coletiva no domingo. “Vários policiais no corredor ou naquele prédio sabiam ou deveriam saber que havia uma morte naquela sala de aula, e deveriam ter feito mais, agido com urgência.”

“Os policiais esperaram, segundo o relatório, mesmo quando pelo menos um oficial de alto escalão - o chefe interino do Departamento de Polícia de Uvalde - soube que um professor estava ferido, mas ainda vivo, e que uma criança estava ligando para o 911 pedindo ajuda de dentro das salas de aula. O comitê descobriu que nenhum dos policiais que souberam das ligações defendeu “mudar para uma resposta ativa no estilo de atirador ou agir com mais urgência para invadir as salas de aula”.

Segundo o NYT, “o relatório de 77 páginas, divulgado no domingo (10/07) por um comitê especial da Câmara do Texas, representou uma ampla acusação de inação policial na Robb Elementary School, citando “falhas sistêmicas” que deixaram a escola inadequadamente protegida e os policiais que responderam atolados em confusão e más informações.

“Cerca de 400 policiais responderam à escola naquele dia. No entanto, a decisão de finalmente confrontar o atirador foi tomada por um pequeno grupo de oficiais, incluindo agentes da Patrulha de Fronteira especialmente treinados e um vice-xerife de um condado vizinho, segundo o relatório, concluindo que outros no local poderiam ter assumido o comando e feito até agora. mais cedo.

“As descobertas representaram o relato externo mais completo do que aconteceu durante os 77 minutos entre quando o atirador começou a atirar dentro das salas de aula e quando a polícia finalmente invadiu e encerrou o massacre de 24 de maio que deixou 19 alunos e dois professores mortos.

Em resumo, a apuração não terminou, mas não há dúvidas de que os policiais daquela localidade estavam despreparados para esse tipo de crise. Nos EUA, isso é muito grave. Porque é o país onde praticamente todos os dias do ano ocorre um tiroteio em massa. Para se ter uma ideia, até meados de julho o Gun Violence Archive já tinha contabilizado pelo menos 330 atentados nos EUA, sendo que 15 envolveram quatro vítimas ou mais. As escolas são alvo preferidos dos maníacos, já sabemos. E por que a polícia do Texas falhou naquilo que é elementar no treinamento dos profissionais de segurança: preservar a vida, a qualquer custo. E explicar direito o que aconteceu naquela manhã, em Uvalde, isso a polícia do Texas está devendo até agora.

Fotos: Ivan Pierre Aguirre/New York Times; Chandan Khanna/AFP

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Atualizada em 12/03/2024

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