Desastres naturais são considerados um ‘cluster’ de crise pela ONU. Eles respondem por inúmeras tragédias, em todo o mundo, sobre as quais, mesmo a prevenção, o nível de desenvolvimento de um país ou região e a tecnologia não são suficientes para prever e controlar com um nível adequado de segurança. Esses fenômenos são destruidores e letais, tanto para países desenvolvidos da Europa, Oceania e América do Norte, quanto para regiões pobres da África, Ásia e América Latina. E acontecem em qualquer época.
Na madrugada desta quinta-feira, 2 de setembro, Nova York e vários estados do nordeste americano foram atingidos pelo furação Ida, que já tinha causado destruição e mortes no estado da Louisiana. A violência com que atingiu o estado e a cidade de Nova York, além de New Jersey, surpreendeu até os meteorologistas, uma vez que não foi dado um alarme a tempo de os moradores e pedestres se precaverem do perigo e dos estragos causados, principalmente inundações e desabamentos. No fim do dia, foram contabilizados 45 óbitos em todo o país. Metrô e trens foram suspensos, aeroportos fechados, ruas e lojas alagadas, na região, e muitas famílias ficaram sem casa e perderam tudo. Veja a reportagem do Jornal Hoje, da Rede Globo e fotos da cidade de Nova York atingida em cheio pelo furacão.
O novo relatório da Organização Metereológica Mundial e do Escritório da ONU para a Redução do Risco de Desastres mostra que mudanças climáticas e eventos extremos causaram um aumento nessas catástrofes nos últimos 50 anos. Há anos, Climatologistas vêm alertando há bastante tempo: os desastres naturais estão se tornando mais devastadores e frequentes, além de causarem mais prejuízo.
Em resumo, o relatório Atlas de Mortalidade e Perdas Econômicas de Extremos de Tempo, Clima e Água, dos últimos 50 anos registra:
De 1970 a 2019, os desastres naturais equivaleram a 50% de todos os desastres, 45% de todas as mortes reportadas no período e 74% de todas as perdas econômicas.
Mais de 11 mil desastres reportados foram atribuídos a eventos climáticos, com pouco mais de 2 milhões de mortes e 3,47 trilhões de dólares em perdas. Mais de 91% das mortes ocorreram em países em desenvolvimento. Enquanto isso, as perdas econômicas aumentaram sete vezes no período de 50 anos, indo de uma média de 49 milhões de dólares a estarrecedores 383 milhões por dia globalmente.
As mudanças climáticas e os eventos climáticos cada vez mais extremos causaram um aumento nos desastres naturais nos últimos 50 anos, afetando desproporcionalmente os países mais pobres. As informações são da Organização Meteorológica Mundial (OMM), que lança um novo relatório com o Escritório das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres (UNDRR).
Intitulado "Atlas de Mortalidade e Perdas Econômicas de Extremos de Tempo, Clima e Água", o relatório da OMM mostra que, de 1970 a 2019, os desastres naturais equivaleram a 50% de todos os desastres, 45% de todas as mortes reportadas no período e 74% de todas as perdas econômicas.
Mais de 11 mil desastres reportados foram atribuídos a eventos climáticos, com pouco mais de 2 milhões de mortes e 3,47 trilhões de dólares em perdas. Mais de 91% das mortes ocorreram em países em desenvolvimento.
Perdas econômicas com desastres
Alerta que salva - Em um tom mais positivo, o relatório explica que, graças ao aprimoramento dos sistemas precoces de alarme e gerenciamento de desastres, o número de mortes foi reduzida a quase um terço entre 1970 e 2019 - caindo de 50 mil na década de 1970 para menos de 20 mil na década de 2010.
"As perdas econômicas se acumulam à medida que a nossa exposição a esse tipo de desastre aumenta. Mas, para além das estatísticas sombrias, existe uma mensagem de esperança. Sistemas aprimorados de alerta precoce de múltiplos perigos levaram a uma redução significativa na mortalidade. De maneira resumida: Estamos melhores do que nunca em salvar vidas", disse o secretário-geral da OMM, Petter Taalas.
Uma história contada por números - Dos dez maiores tipos de desastres documentados no relatório, as secas se provaram o mais mortal durante o período, causando 650 mil mortes. Em segundo lugar, tempestades causaram 577 mil mortes, seguidas de enchentes, que tiraram 58,7 mil vidas, e eventos de temperatura extrema, durante os quais 55,7 mil pessoas morreram.
Custos ampliados - Enquanto isso, as perdas econômicas aumentaram sete vezes no período de 50 anos, indo de uma média de 49 milhões de dólares a estarrecedores 383 milhões por dia globalmente. Tempestades, que são a causa mais prevalente de danos, resultaram nas maiores perdas econômicas no mundo.
Três dos dez desastres mais caros são furacões que ocorreram em 2017. Sozinhos eles foram responsáveis por 35% do total de perdas por desastres econômicos em todo o mundo de 1970 a 2019. Nos Estados Unidos, o Furacão Harvey causou 96,9 bilhões de dólares em danos. Maria, no Caribe, custou 69,4 bilhões, ao passo que Irma, no Cabo Verde, resultou em 58,2 bilhões em perdas.
Os desastres naturais mais letais em 50 anos
Pegadas da mudança climática - "A frequência dos extremos de tempo, clima e água estão aumentando e se tornarão mais frequentes e graves em muitas partes do mundo como resultado das mudanças climáticas", resumiu o secretário-geral da OMM. "Isso significa mais ondas de calor, secas e incêndios florestais como aqueles observados recentemente na Europa e América do Norte".
O aumento de vapor de água na atmosfera exacerbou precipitações extremas e inundações, ao passo que o aumento da temperatura dos oceanos afetou a frequência e a extensão das tempestades tropicais, intensificando-as, o chefe da OMM explicou.
O relatório citou artigos revisados por pares e publicados na Revista da Sociedade Americana de Meteorologia (do inglês Bulletin of the American Meteorological Society). Os estudos mostram que durante o período de 2015 e 2017, 62 dos 77 eventos reportados revelaram influência humana considerável. Além disso, a probabilidade de ondas de calor aumentou significativamente devido à atividade humana, de acordo com vários estudos feitos desde 2015.
O Atlas da OMM e do UNDRR esclarece que a atribuição de secas às ações antropogênicas, ou fatores humanos, não não é tão clara quanto para ondas de calor devido à variabilidade natural causada por grandes oscilações oceânicas e atmosféricas, como o padrão climático El Niño. No entanto, a seca de 2016-2017 no Leste Africano foi fortemente influenciada pelo aumento da temperatura da superfície do mar no Oceano Índico ocidental para o qual a influência humana contribuiu.
A mudança climática também aumentou a frequência de eventos extremos no nível do mar associados com ciclones tropicais, que, por sua vez, aumentaram a intensidade de outros eventos extremos, como inundações e impactos associados. Isso contribuiu para tornar mais vulneráveis megacidades baixas, deltas, costas e ilhas em muitas partes do mundo.
Além disso, cada vez mais estudos estão documentando influência humana exacerbada em eventos extremos de precipitação, algumas vezes combinados com outras influências climáticas. Alguns exemplos incluem a chuva estrema no leste da China em junho e julho de 2016 e o Furacão Harvey, que atingiu Huston em 2017.
Necessidade de adaptação - Somente metade dos 193 membros da Organização Mundial de Meteorologia têm sistemas de alerta precoce multi-riscos. Além disso, o relatório alerta para a existência de lacunas severas em redes de observação climática e hidrológica no continente africano, assim como em algumas partes da América Latina e em Estados Ilha no Pacífico e no Caribe.
"Mais vidas estão sendo salvas graças aos sistemas de alerta precoces, mas também é verdade que o número de pessoas expostas aos riscos de desastre aumento devido ao crescimento populacional em áreas expostas à perigos e à crescente intensidade e frequência dos eventos climáticos", avaliou a representante especial da ONU e chefe do Escritório das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres, Mami Mizutori.
O maior desastre natural do Brasil
No relatório da OMM, o Brasil aparece como o país com mais desastres naturais da América do Sul, sendo, entre eles, o mais destruidor e letal, a tragédia acontecida no Rio de Janeiro e baixada fluminense em 2011, que deixou quase 1.000 mortos.
Existem vários trabalhos sobre essa que foi a maior tragédia ambiental do Brasil e, segundo especialistas, teria sido prevista desde 2008, com alertas e pedidos de moradores para que as autoridades tomassem providências.
Um trabalho disponível, publicado pela ENAP, de 2011, de Amarilis Busch e Sônia Amorim, na Introdução assim descreve o que aconteceu no Rio de Janeiro naquele início de ano:
“O desastre natural ocorrido na região serrana do Rio de Janeiro, nos dias 11 e 12 de janeiro de 2011, quando fortes chuvas provocaram enchentes e deslizamentos em sete municípios, foi considerado a maior catástrofe climática e geotécnica do país. Classificado pela ONU como o 8º maior deslizamento ocorrido no mundo nos últimos 100 anos, o desastre foi comparado, por sua dimensão e danos, a outras grandes catástrofes, como a que devastou a região de Blumenau-Itajaí, em Santa Catarina, em 2008, e a provocada pelo furacão Katrina, que destruiu a cidade de Nova Orleans, nos Estados Unidos, em 2005.
Apesar de conviver anualmente com enchentes e alguns deslizamentos, a região não havia até então vivido uma situação dessa gravidade: bairros inteiros foram cobertos em questão de segundos. Decretada situação de emergência e de calamidade pública, formou-se uma grande rede de apoio, integrada por órgãos públicos locais, estaduais e federais, organizações privadas e voluntários.
Não obstante esse esforço, as perdas foram imensas: mais de 900 mortos, cerca de 350 desaparecidos e milhares de desabrigados, além de graves danos à infraestrutura, à economia e à geografia da região afetada.
Restaram grandes dúvidas: o que provocou o desastre nas proporções ocorridas e, em especial, que fatores que levaram a tantas perdas humanas? Qual foi a qualidade da resposta imediata ao desastre por parte dos órgãos responsáveis? Quem comandou a operação, como os diversos atores se articularam e quais as dificuldades enfrentadas nesse processo? São questões importantes para que os governos possam definir com maior clareza uma política nacional de gestão de riscos e de crises.”
Fonte: United Nations - UN News
Fotos: Lafitte, Louisiana. AP; Encostas do Rio de Janeiro, 2011 - Foto Veja
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