O Facebook, a rede social com o maior número de usuários no mundo - 2,4 bilhões de pessoas – enfrenta o rescaldo da pós-crise, que afetou não apenas o crescimento no número de seguidores, mas também os resultados financeiros. Valores otimistas do gigante da rede são postos em dúvida pela empresa de análise de negócios Mixpanel.
A preferência pelo Facebook despencou no último ano, mesmo com a empresa insistindo que seu uso permaneceu estável ou mesmo cresceu no período, de acordo com dados do jornal britânico The Guardian, em artigo de Alex Hern, publicado nesta quinta-feira (20).
Desde abril de 2018, o primeiro mês completo após a notícia do escândalo da empresa britânica Cambridge Analytica ter sido anunciado pelo jornal The Observer, as ações no Facebook como curtidas, compartilhamentos e postagens caíram quase 20%, de acordo com a empresa de análise de negócios Mixpanel. Na época, a empresa foi muito criticada pelo silêncio ou demora em responder à denúncia, circulando notícias, inclusive, de que a própria diretoria divergia em relação a como responder à crise, fato que afetou a imagem da poderosa rede.
Tomando aquele mês como base, as ações totais caíram mais de 10% em um mês, recuperaram um pouco durante o verão e caíram novamente durante o outono e o inverno de 2018, exceto uma breve recuperação durante o período das eleições gerais nos EUA, segundo o The Guardian.
Para o analista do jornal britânico, “esses declínios coincidem com uma série de dados, privacidade e escândalos de discurso de ódio na rede social: assim como as revelações da Cambridge Analytica, a empresa admitiu que mais 50 milhões de contas foram violadas em outubro daquele ano, pediu desculpas por contratar uma empresa de relações públicas para atacar o filantropo e investidor George Soros e foi repetidamente criticada por permitir que sua plataforma fosse usada para alimentar a limpeza étnica em Mianmar.”
Todos esses fatos causaram bastante constrangimento à diretoria do Facebook, tendo até mesmo levado o CEO Mark Zuckerberg a dar explicações ao Congresso americano. A última coisa que uma empresa do tamanho do Facebook deseja é frequentar as páginas de crise, porque a reputação da empresa, construída ao longo dos anos, começa a ficar exposta e isso se reflete nos resultados.
“Os números divulgados por empresas de auditoria estão em desacordo com as estatísticas do próprio Facebook, que cita um aumento de usuários ativos diários e mensais (DAUs e MAUs, aqueles que acessam o site pelo menos uma vez em um determinado período) durante o ano que terminou em março de 2019. O relatório de lucros trimestrais, publicado em abril de 2019, afirma que “os DAUs foram de 1,56 bilhão, em média, um aumento de 8% em relação a março de 2018”, e que os MAUs também aumentaram 8% ao ano, constata o The Guardian.
“No entanto, os números do próprio Facebook podem ser comparados com os dados do Mixpanel. Relatos informais no ano passado sugeriram que, enquanto poucos excluíram suas contas no Facebook ou pararam de usar o site inteiramente após os escândalos, muitos deles deliberadamente reduziram o uso no Facebook.
Há evidências estatísticas dessa tendência: neste mês, a empresa de pesquisa de mercado eMarketer relatou um declínio no uso do Facebook nos EUA, com o típico usuário do Facebook gastando 38 minutos no site todos os dias, abaixo dos 41 em 2017. É bom lembrar pesquisa da empresa Edison Research, divulgada em março último, que constatou: somente nos Estados Unidos, o declínio de usuários do Facebook, desde 2017, foi de 15 milhões de pessoas, principalmente jovens.
"Além disso, o Facebook continua a perder usuários mais jovens, que estão distribuindo seu tempo e atenção em outras plataformas sociais e atividades digitais", afirmou o eMarketer. Os concorrentes mais próximos do Facebook são o You Tube e o Instagram. Segundo o The Guardian, o Facebook foi convidado para comentar sobre os dados apurados, mas declinou do convite.
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