A maior crise do brasileiro - aquele contingente que deveria comemorar, todos os dias, porque está empregado - que causa estresse, depressão e até dependência de remédios é o receio de perder o próprio emprego. Esta é a principal conclusão de pesquisa da Stress Management Association (Isma-BR), feita pela empresa americana, com brasileiros, no início do ano. O resultado foi publicado no jornal “Valor Econômico”, no início do mês, e traz dados preocupantes para a saúde mental e física dos brasileiros.
Aqui, as principais conclusões da pesquisa feita com 920 profissionais, todos empregados, e que escancara uma crise para a qual a saúde pública não está preparada para resolver.
- A combinação entre falta de reconhecimento e medo de perder o emprego traz sérias consequências à saúde dos brasileiros.
- Dos profissionais pesquisados, 87% declarou sentir ansiedade como consequência direta da relação com o trabalho. Ou seja, o trabalho pode não estar representando um meio de vida, mas uma fonte de doença física ou emocional.
- 89% das pessoas ouvidas disseram sentir dores de cabeça constantes; 42% enfrentam distúrbios do sono. Esses dados batem com conclusão da Organização Mundial da Saúde (OMS), que aponta o Brasil como o país com maior proporção de pessoas com depressão na América Latina, 5,8% da população.
- 64% dos entrevistados declarou estar desmotivado no trabalho e 53% confessa usar algum tipo de medicamento ou droga, prescrita ou ilícita, como saída para aliviar a pressão que sentem. O uso de medicamentos, maioria sem receita médica, compromete não apenas o desempenho, mas exacerba o medo de perder o emprego.
- Seguindo uma tendência global, a pesquisa detecta o aumento das incertezas em relação ao futuro profissional, principalmente pela insegurança em relação à manutenção não só do emprego, mas também do cargo.
- A reportagem do “Valor Econômico” faz menção ao exemplo de pressão exercida pela empresa do empreendedor Elon Musk, CEO da Tesla, classificado pela mídia e o mundo dos negócios como um visionário e revolucionário. Ao mencionar as dificuldades financeiras do negócio, ele anunciou o corte de 7% dos postos de trabalho (3.000 demissões) e convocou os que ficaram na empresa para a missão de suprir a falta dos colegas. Ele chegou a afirmar num Twitter, meses antes, que ninguém “vai mudar o mundo trabalhando 40 horas por semana”, acrescentando que sua prática pessoal era o dobro disso, ou seja, 120 horas semanais (média de 17 horas diárias).
- Essa pressão corporativa de Musk encontra guarida principalmente na sociedade oriental. No Japão, as empresas estão adotando práticas de desligar toda a energia em determinada hora para estimular os empregados a irem para casa, uma vez que, pressionados por melhor desempenho, querem continuar trabalhando além do horário.
- Essa “doutrinação” de ícones do mercado de trabalho e da modernidade tecnológica “ilustra como a sociedade, influenciada pelo fantasma de ficar sem emprego, permite que a dedicaçãoo ao trabalho extrapole os limites, diluindo-se potencialmente por qualquer uma das 168 horas semanais.”
- A coordenadora da pesquisa chama a atenção que “muita gente já esqueceu como é a sensaçãoo de estar inteiramente desconectado dos assuntos profissionais”, principalmente após a incorporação do celular como instrumento e extensão do trabalho. Ela recomenda para evitar os danos causados pelo estresse o máximo possível de separação entre trabalho e vida pessoal.
- Embora a tecnologia tenha chegado com a esperança e a promessa de facilitar o trabalho, inclusive reduzindo as horas trabalhadas, “na vida real, contudo, as horas de trabalho continuam aumentando, mesmo com a crescente automatização”, diz o artigo do Valor Econômico.
- Estudo da consultoria McKinsey projetou que, em um cenário de adoção acelerada de novas tecnologias, 30% dos atuais postos de trabalho no mundo poderão ser eliminados até 2030. Mas o mais provável é que essa taxa fique em torno de 15%.
- Qual a alternativa para quem está insatisfeito no trabalho ou procura algum novo tipo de atividade, ainda que não seja a dos sonhos? Segundo a Consultora da pesquisa, “o melhor a fazer é construir alternativas e um eventual plano B. Por mais que a gente sempre tenha controle sobre as situações geradoras de estresse, podemos desenvolver controle sobre como reagiremos a essas situações para recuperar o equilíbrio perdido”.
Não há dúvidas de que uma fonte de doenças psicossomáticas é a forma como estabelecemos a relação profissional com uma empresa, uma corporação e as pessoas que nos rodeiam. Ficar pelo menos oito horas diárias, de segunda a sexta, implica se envolver com o trabalho numa forma como se fosse a extensão da própria casa. Se essa relação é conflituosa e complicada, certamente terá reflexos na saúde da pessoa.
Recomendam os especialistas que, abrir mão de um emprego que esteja fazendo mal, especialmente quando essa situação já perdura há algum tempo e não parece ter perspectivas de melhora, pode ser a decisão mais acertada a longo prazo. “O que causa o adoecimento não é o estresse em momentos pontuais, mas a repetição frequente desses momentos e a continuidade por longo tempo”, segundo a pesquisadora, conclui a reportagem do Valor Econômico.
Leia o artigo completo “Medo de perder emprego é principal causa do estresse” no jornal "Valor Econômico".