Primeira Guerra homenagem das papoulas“Segundos antes de um armistício formalmente terminar a Primeira Guerra Mundial, em 11 de novembro de 1918, o Pvt. Henry Nicholas Gunther, um soldado americano de Baltimore, montou uma carga final de um homem contra um ninho de metralhadora alemão, no nordeste da França.

"Os artilheiros alemães, conforme relato, muitos anos depois, do jornal The Baltimore Sun, tentaram afastá-lo, mas ele continuou correndo, apenas para morrer em uma explosão de fogo - o último soldado de qualquer nacionalidade a morrer no conflito - às 10h59, horário local, desse dia 11 de novembro. Um minuto depois, sob os termos de um armistício assinado cerca de seis horas antes, a chamada Grande Guerra, a "guerra para acabar com todas as guerras", acabou e o mundo era um lugar diferente.

I Guerra mulher da flor a soldado prussiano 11 nov 18"As baixas desde os primeiros compromissos do conflito em 1914 atingiram muitos milhões, tanto militares quanto civis. A própria natureza da guerra mudara irrevogavelmente. Impérios desmoronaram, novas nações surgiram e os mapas do mundo foram redesenhados de maneiras que reverberam poderosamente um século depois.

"Com os homens distantes, nas linhas de frente, as mulheres assumiram papéis na força de trabalho em casa, que apressaram sua emancipação e mudaram as formas sociais para sempre." (The New York Times, 10/11/18).

Vítimas na Primeira Guerra Mundial

Em termos de número absoluto de vidas perdidas ou interrompidas, a Grande Guerra ou 1ª Guerra Mundial foi a guerra mais destrutiva da história até ser ofuscada pela que a seguiu, a Segunda Guerra Mundial: cerca de 10 milhões de mortes militares por todas as causas, mais 20 milhões de mutilados ou severamente feridos. Estimativas de baixas civis são mais difíceis de fazer; eles morreram de bombas, doenças, fome e acidentes como explosões em fábricas de munição; em alguns casos, eles foram executados como espiões ou como "lições objetivas".

Primeira Guerra civis em Londres comemoram dia 11 nov 18Além disso, como Neil M. Heyman* escreveu: "Não fisicamente feridos, mas ainda assim cicatrizes da guerra foram 5 milhões de mulheres viúvas, 9 milhões de crianças órfãs e 10 milhões de pessoas foram arrancadas de suas casas para se tornarem refugiadas. ”Nada disso leva em conta as mortes na Guerra Civil Russa ou na Terceira Guerra Balcânica, que resultaram diretamente da Primeira Guerra Mundial, nem da pandemia de gripe espanhola, de 1918, que matou 50 milhões de pessoas em todo o mundo, e que se espalhou em parte por condições na frente e por soldados que voltavam para casa.

O significado dos 100 anos da I Guerra Mundial

Para os brasileiros e talvez até para os latino-americanos soa meio estranho o tamanho das “comemorações” dos 100 anos do dia da vitória. Em 11 de novembro de 1918, cessaram todas as batalhas e escaramuças nos campos da Europa, quando finalmente a Alemanha se rendeu, acabando essa que foi chamada de “A grande Guerra”, que durou de 1914 a 1918 e envolveu os principais países da Europa.

I Guerra Mundial o dia da vitoria 11 nov 1918Para quem vivia no Brasil, há cem anos, a Europa significava um Continente distante, praticamente inatingível para a maioria da população. Uma viagem à Europa levava mais de um mês, de navio. Uma menina nascida em 1913, no interior do Rio Grande do Sul, portanto com cinco anos em 1918, entrevistada para um livro biográfico, em 2010, respondeu que jamais ouviu falar que havia uma grande guerra, na sua infância. Ficou sabendo, sim, da gripe espanhola, que se seguiu à Guerra, epidemia esta que vitimou entre 50 e 100 milhões de pessoas pelo mundo (ou até 5% da população mundial), sendo considerada a pandemia mais letal da história da humanidade. Mesmo os adultos que moravam no interior pouco ouviram falar de uma guerra tão longínqua.

A I Guerra Mundial, portanto, para nós brasileiros, apesar de o Brasil ter participado com um contingente bem pequeno, nas escaramuças da Europa, diferentemente da II Guerra Mundial, é um acontecimento pouco citado e pouco entendido pela maioria da população. Diferentemente dos europeus. As duas grandes guerras até hoje são lembradas pelas sequelas deixadas na população da maioria dos países europeus. No caso da I Guerra, principalmente para alemães, britânicos, franceses e russos, foi um conflito que os antepassados viveram e acarretou longo sofrimento. Muitas pessoas têm descendentes que lutaram e morreram na I Grande Guerra.

Por isso, todo ano, em novembro, eles lembram o fim da guerra, com várias cerimônias. Até na Escócia, a população cria canteiros de papoulas nos parques das cidades, algumas famílias põem cruz de madeira, com o nome do parente morto. E este ano, pelo centenário, acontecimentos marcantes lembraram cerca de 10 milhões de soldados, que morreram, e 20 milhões de feridos, de todos os lados, vítimas dessa que foi a Guerra mais violenta, antes da II Guerra Mundial, da história mundial.

A Europa foi o cenário onde a guerra se desenvolveu. Milhões de jovens de várias nacionalidades perderam a vida, lutando para impedir que a Alemanha e aliados vencessem a guerra. A maioria foi para a guerra sem saber direito pelo que estavam lutando. Os Estados Unidos demoraram a entrar nessa guerra, o que ocorreu somente em meados de 1917, após os alemães terem torpedeado navios americanos. Mesmo nos EUA, a dimensão dessa guerra é bem diferente do que significou para a Europa.

Segundo David Smith, comentarista do jornal britânico  The Guardian - no artigo The first world war helped shape modern America. Why is it so forgotten? -, “no centenário da entrada dos EUA, os americanos refletem sobre uma guerra que ajudou a tornar os EUA uma potência econômica e militar preeminente, mas faltou uma clara lição moral. Essa guerra redefiniu os direitos das mulheres, as relações raciais, as liberdades civis e o papel dos Estados Unidos no mundo. Causou o dobro de mortes americanas do que a guerra do Vietnã. Mas não há memorial nacional em Washington e pouca referência sobre o conflito na América.

Segundo Smith, “o envolvimento dos Estados Unidos foi crucial para a derrota dos alemães em 1918, moldando profundamente o que veio a ser conhecido como "o século americano". No entanto, em contraste com as extensas comemorações do centenário na Grã-Bretanha, há três anos - um memorial na Torre de Londres contou com 888.246 papoulas vermelhas para representar cada soldado que morreu - isso para muitos americanos se tornou uma guerra esquecida.”

"A América não sofreu do jeito que a Grã-Bretanha, certamente", disse o historiador A Scott Berg durante um painel organizado pela PBS em Washington na segunda-feira. “Woodrow Wilson nos manteve fora da guerra por três anos; nós realmente só lutamos por cerca de seis meses. A Grã-Bretanha perdeu uma geração. Perdemos muito comparativamente, mas nada comparado ao que a Grã-Bretanha perdeu ”.

O mais marcante dessa guerra é que ela modificou o mapa da Europa. Países desapareceram e outra configuração geográfica surgiu no Continente a partir da I Guerra Mundial. Pode soar acaciano dizer, mas o mundo, e principalmente a Europa, a partir de 1918, nunca mais seriam os mesmos. Até porque a Europa anterior a 1914 era um Continente que vivia em função da herança do século XIX, completamente diferente. Além disso, essa guerra ajudou a desencadear outros acontecimentos históricos marcantes, como a própria revolução bolchevique na Rússia, em 1917.

Fotos: Mar de vermelho: exposição de papoulas, símbolo da I Guerra Mundial, na Torre de Londres teve 5 milhões de visitantes, antes de percorrer o país. Mulher entregua flores, em Berlim, a soldados da Prússia, entrando na cidade. Imperial War Museum. Civis comemoram no dia da vitória, em Londres, 11/11/18.

*"Primeira Guerra Mundial" (Greenwood Press, 1997)

 Outros artigos sobre o tema

The Courage and Folly of a War That Left Indelible Scars (A coragem e a loucura de uma guerra que deixou cicatrizes inesquecíveis)

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