Praia ferias italiaA história foi publicada na mídia britânica. Quando Simon Pearson entrou no mar com a filha, na Itália, na semana passada, ninguém poderia ter previsto a tragédia que ocorreria. O pai de  47 anos e sua filha de dez queriam apenas remar nas águas rasas da praia, em local que parecia seguro. O que eles não conseguiram ver foi a forte corrente do mar Adriático, que rapidamente os arrastou para longe da costa.

Artigo publicado no jornal britânico The Times aborda o problema da própria segurança nas férias, explorando o caso do pai britânico: “Ficou rapidamente claro que os dois estavam lutando” e não se divertindo. Pearson, tentando salvar a filha de forma a evitar que ela fosse para mais longe. “Entrou na água o mais rápido que pôde - mas sem sucesso. O diretor de uma empresa britânica não teve chance de vencer a batalha contra o mar feroz e foi puxado para baixo, ficando inconsciente”, completou o The Times.

“Enquanto o pai lutava, um trabalhador de um clube de praia italiano, Martino Maggi, de 49 anos, mergulhou e fez uma tentativa desesperada de salvar a menina, levando Francesca de volta à praia. Então, ele voltou para ajudar Pearson, mas também foi puxado para baixo. Apesar dos esforços dos serviços de emergência para reviver pai e filha, ambos foram declarados mortos ali mesmo na praia.”

Esse não foi o primeiro caso da semana, naquela praia, segundo a reportagem. Peter Greene, de 74 anos, também enfrentou problemas enquanto nadava na semana passada na praia de Torre Canne, na cidade turística de Ostuni, sul da Itália, onde a tragédia da terça-feira aconteceu. O mergulhador foi levado para o hospital depois que a corrente o puxou para o fundo. Ele diz: "Eu estava apenas a 5 metros da praia e tentava nadar de volta para a margem, mas não podia porque eu tinha engolido água do mar, comprometendo os meus pulmões, apesar de estar usando máscara de mergulho. Fui para o hospital por duas noites e recebi oxigênio durante 24 horas", acrescenta.

Os perigos rondam as férias

O jornal  britânico alerta sobre os perigos que rondam as férias de verão. Segundo o jornal, para milhares de britânicos a cada ano, seu tempo limite termina em desastre. De acordo com estatísticas do Foreign Office, cerca de 3.600 britânicos são hospitalizados no exterior a cada ano - muitos como resultado de acidentes evitáveis. Cada ano, um número semelhante de britânicos morre no exterior. A maioria desses acidentes e óbitos ocorre na Espanha, em parte porque o país é o destino turístico mais popular dos britânicos, mas também pelo alto número de expatriados aposentados que vivem naquele país.

Muitos acidentes de férias acontecem por causa da pouca atenção aos riscos e porque as pessoas estão relaxadas, em lugares desconhecidos e perigosos. Na indústria de viagens, é comum ouvir pessoas discutindo como os turistas deixam seu senso comum no avião.

A Associação Britânica de Agentes de Viagens (ABTA) faz campanha anualmente para lembrar dos perigos dos feriados. "Não é uma questão de tentar fazer o papel de uma babá", diz Sean Tipton, porta-voz da ABTA. "É um caso de tentar alertar as pessoas para os perigos diários que as pessoas enfrentam nas férias".

A tragédia da terça-feira não é a primeira vez que turistas britânicos se afogam em praias europeias, por se descuidarem com fortes marés e correntes perigosas. Em 2007, uma viagem no recesso de outubro de três famílias ao Algarve, em Portugal, transformou-se em tragédia quando dois pais e um amigo da família se afogaram tentando ajudar sete crianças que haviam sido pegas por correntes poderosas enquanto jogavam no mar. Um turista alemão também morreu tentando salvar sua filha. Em 2012, uma menina britânica de cinco anos e seu avô se afogaram em Nazaré, uma pequena cidade, no litoral norte de Lisboa, famosa pelas fortes e perigosas ondas, preferidas para competições de surf de alto nível.

"As pessoas precisam apreciar e entender os riscos ao nadar no mar e que as condições podem mudar muito rapidamente", diz Mike Dunn da Royal Lifesaving Society. "É sempre mais seguro nadar em uma praia protegida por guarda-vidas e sempre se deve nadar paralelamente à costa - não há absolutamente nenhuma necessidade de nadar no mar".

O heroísmo também pode custar caro. Ele acrescenta: "Por mais corajoso que seja correr para o mar e ajudar alguém com problemas, é extremamente perigoso e todos os anos há casos em que as pessoas locais se apressam para ajudar os turistas e, tragicamente, acabam se afogando".

Foi uma falta de compreensão das condições de praia que levaram à morte do britânico Alison Tooby em 2012. O homem de 52 anos correu para o mar, depois que os dois filhos, com 11 e 13 anos, tiveram dificuldades, enquanto brincavam com um bodyboarding no mar. Os meninos foram arrastados para fora ao enfrentar uma forte maré que eles não tinham percebido.

Não é só o afogamento que pode nos matar durante as férias. Motos de quadro rodas, Jet-Skis, bicicletas e ciclomotores estão entre as maiores causas de lesão - e morte - de turistas. Muitas empresas de locação solicitam apenas um depósito e identificação e não têm como verificar se o usuário possui habilitação para conduzir esses veículos. Para contratar jet skis, muitos dos quais alcançam velocidades de mais de 80 km/h no mar, os usuários não são obrigados a possuir licença para dirigir. Por causa do número de acidentes, a ABTA exorta os britânicos a não alugar esses veículos quando estão de férias.

Segundo o The Times, casas particulares com piscinas também são particularmente perigosas. A maioria dos afogamentos em piscinas de moradias acontecem pouco depois da chegada. Após um longo voo, os turistas chegam, descarregam as malas e começam a se instalar. As crianças aproveitam e entram na piscina fora de vista de seus pais, podendo rapidamente enfrentar problemas graves, muitos deles fatais.

Nos Alpes - onde a maioria das pessoas considera o perigo apenas no inverno - os britânicos morrem no verão, diz o The Times. Muitos caem de penhascos ao caminhar ou andar de bicicleta de montanha, se afogar em rios que ficam inundados rapidamente com águas derretidas das montanhas glaciais, ou despencam para a morte, participando de esportes radicais, como o parapente e a asa delta. Nos meses de inverno, durante a temporada de esqui, mais de 60 britânicos morreram nos Alpes nos últimos quatro anos.

Apesar de todas as campanhas de segurança e avisos do governo, um quarto dos britânicos ainda faz férias no exterior sem seguro de viagem. Pessoas de 18 a 24 anos, com maior risco de vida, viajam para o exterior sem seguro-saúde. O custo do tratamento médico em outros países pode ser extremamente caro. No ano passado, as seguradoras de viagens britânicas pagaram £ 1 milhão por dia em indenizações. Apenas a indenização para o tratamento de uma perna fraturada em um acidente de moto na Tailândia custou £ 16,000 (R$ 68 mil) de acordo com a Associação Britânica de Seguradoras.

Para os turistas que viajam para as férias de verão, a tragédia de terça-feira deve servir de oportuno lembrete para respeitar o mar e verificar as condições locais antes de mergulhar. "A tragédia trouxe algumas lembranças muito dolorosas para mim e minha esposa", diz Peter Greene, que quase se afogou no ano passado. "O Mediterrâneo parece calmo e maravilhosamente convidativo, mas sempre há perigos ocultos no mar. As pessoas precisam ser cuidadosas, e não complacentes".

Crises de férias: como evitá-las

Afogamento

Na Europa, só é permitido nadar em praias que oferecem um sistema de sinalização de advertência. Bandeira verde indica que é seguro nadar. É melhor evitar a natação se uma bandeira amarela estiver sinalizando. Vermelho indica que o mar é proibido. Se alguém está se afogando, por mais que parecer estranho, não entre na água. Em vez disso, alerte um salva-vidas ou ligue para a polícia, Marinha ou Corpo de Bombeiros.

Bicicletas motorizadas e ciclomotores

São peças extremamente poderosas e podem ser letais. Muitas políticas de seguro de viagem excluem a condução ou pilotagem desse tipo de veículo. A ABTA aconselha não contratá-los. Se o turista decidir utilizar esse tipo de diversão é recomendável juntar-se a uma turnê organizada, por ser mais seguro.

Jet Ski

Barato para alugar e significando muita diversão, o jet ski é um dos veículos aquáticos favorito das férias. No entanto, como as motinhas, muitas políticas de seguro de viagem excluem seu uso. Ao alugar um, certifique-se de estar ciente das leis e regulamentos de navegação no mar ou outros locais, na região em que estiver. Como em muitos países, há multas e penalidades rígidas para delitos marítimos.

Envenenamento por monóxido de carbono

Pode parecer uma medida extrema, mas viajar com um detector de fumaça e monóxido de carbono pode salvar a sua vida - especialmente em países com incêndios e regulamentos de saúde e segurança. Duas crianças britânicas de seis e sete anos morreram de intoxicação por monóxido de carbono em um feriado na Ilha de Corfu, na Grécia, em 2006. No fim de junho, 47 pessoas morreram em Portugal, após tentarem fugir de incêndios florestais no interior do país. Muitas ficaram presas dentro dos carros, numa estrada que deveria ter sido fechada pelas autoridades, encurralados pelo fogo de todos os lados.

Balcões e sacadas

Acidentes com queda de varandas, após festas com bebidas ou sob a influência de drogas, são muito comuns. O Foreign Office britânico fez campanha para alertar as pessoas sobre os perigos de festas nas varandas de hotéis ou até mesmo da residência. Várias tragédias, envolvendo principalmente adolescentes, acontecem nos períodos de férias. Crianças também são bastante vulneráveis a esse tipo de acidente, principalmente em hotéis onde elas se deslumbram com a janela, sem grades, e correm o risco de despencar, por um pequeno descuido dos pais, como tem acontecido. São acidentes banais, mas quase sempre fatais. Em junho, a modelo e ex-miss Luiza Lorellay, 25 anos, morreu quando caiu da janela do seu apartamento, tentando fazer um "selfie", no interior do Rio de Janeiro.

Terrorismo

Embora os ataques sejam raros, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Grã-Bretanha divulgou um vídeo na semana passada, informando os turistas sobre o que fazer se fossem surpreendidos por terroristas. O conselho: "correr, esconder, dizer" se aplica no exterior. Se o esconderijo for em um hotel, faça uma barricada na porta, colocando um colchão atrás dela para diminuir a possibilidade de ser atingido por balas. O grande problema dos ataques terroristas é a surpresa e o potencial de grande número de vítimas, como aconteceu em Paris e Nice, em 2015 e 2016. Apesar de todas as medidas de segurança, as autoridades reconhecem a dificuldade de detectar a tempo um “lobo solitário” que esteja planejando um atentado em locais públicos.

Quanto às praias, a dica de especialistas é evitar frequentar lugares desertos e desconhecidos. Quem você vai chamar se entrar em apuros e não houver salva-vidas por perto? Os acidentes nesses casos sempre acontecem por descuidos com a segurança.

Segundo o The Times, “Os perigos, no entanto, nem sempre são claros, e simplesmente porque existem filas de hotéis e um bar de praia - algo que muitos turistas tomam como sinal de segurança - não significa que os riscos de correntes fortes ou um abrupto desnível no fundo do mar, não possam acontecer. "Os hotéis estão localizados onde estão, para todo o tipo de razão. Mas só porque estão localizados numa praia, algumas vezes privativa, não garantem que o mar seja seguro para nadar", diz Lee Hayhurst, editor de notícias da revista Travel Weekly. "Os turistas devem procurar informações locais com pessoas credenciadas (polícia, guarda-vidas) sobre as condições do mar e não assumir que todos os lugares são seguros".

Foto: Praia de Torre Canne - Lido Bosco Verde - Ostuni - Itália.

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