Megabrasil congresso*Eduardo Ribeiro e Marco Rossi

As profundas transformações provocadas pela tecnologia e mudanças no comportamento da sociedade dominaram os debates do 20º Congresso Mega Brasil de Comunicação, Inovação e Estratégias Corporativas, encerrado em 25 de maio no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo.

Entre congressistas, palestrantes e convidados para as atividades satélites, foram cerca de mil os profissionais que passaram pelo evento, por muitos considerado o melhor da história. Na linha do tema geral do evento, que prescrevia "Os desafios da transversalidade no universo corporativo", foi notória a multidisciplinaridade dos participantes. A presença de jornalistas, RPs, publicitários, filósofos, administradores, economistas, cientistas, psiquiatras, psicólogos, engenheiros, entre outras formações, refletiu a diversidade cultural e profissional que forma esse universo.

Entre debates instigantes e apresentações inspiradoras, a Arena da Inovação, um dos pontos altos do evento, foi dividida em três momentos, apresentando pesquisa sobre hábitos de consumo de informação pela geração millenials, a nova onda da “chipagem” em seres humanos acionada por smartphones, e uma visão do que a tecnologia nos reserva para o futuro próximo.

Se há pouquíssimos anos game era uma brincadeira de crianças e adolescentes, os jogos cibernéticos e de muita ação ganharam múltiplas aplicações e mercados. Agora, chegam à comunicação como alternativa real de engajamento e integração, a partir de formatos inovadores e muita criatividade, como se viu numa das mesas de debates do Congresso. Do mesmo modo, o uso de aplicativos corporativos para informação e prestação de serviços aos empregados não é mera ficção. Eles já são realidade em algumas organizações de grande porte, provocando um impacto valioso no olhar dos colaboradores sobre elas. É a modernidade chegando, deixando a ficção para se transformar em realidade, como mostrou o painel que debateu o uso da tecnologia na comunicação corporativa.

A Inteligência Artificial, cada vez mais em uso no mundo corporativo, seja para solução de problemas de gestão, seja no relacionamento com consumidores e públicos de interesse, também ganhou importante espaço no Congresso, sobretudo no tocante à sua utilização ética. A mesa de debate que reuniu o filósofo Luiz Felipe Pondé, o cientista-chefe da IBM Fábio Gandour e a especialista em comunicação, semiótica e tecnologias da inteligência Lúcia Santaella buscou refletir sobre os caminhos da interação entre o homem e a máquina, o Transumanismo e o impacto desse processo na sociedade. De forma inédita no evento, esse encontro terminou entre aplausos e assovios.

Mensurar a transparência

Algumas das instituições apoiadoras do 20º Congresso estiveram presentes também na programação. A Associação Brasileira das Agências de Comunicação-Abracom acertou a mão ao propor um debate sobre os novos horizontes da comunicação corporativa, nesta era pós-assessoria de imprensa.

Sem medo de críticas (por falar abertamente do encolhimento dessa ferramenta no segmento), a Abracom promoveu um debate, mostrando os novos desafios e caminhos que estão no horizonte da disciplina, ficando claro, a partir dos vários depoimentos, que terá vida muito difícil quem não se modernizar e encarar este novo momento do mercado. O Observatório da Comunicação Institucional escolheu o Congresso para o lançamento do seu Índice de Transparência Ativa, criado com a proposta de mensurar o nível de transparência percebido em uma organização. A ferramenta mostra com números as consequências de decisões operacionais e se propõe a complementar as demonstrações financeiras e relatórios de administração. Ao todo, são avaliados 210 quesitos operacionais, que englobam a imagem de marca, o relacionamento com as comunidades do entorno, a política de patrocínios ou participação em eventos, o gerenciamento de crises de imagem pública e até procedimentos de compliance, entre outros atributos.

Muito preparados, os comunicadores têm entre suas habilidades a gestão de crises e muitas agências fizeram disso um bom negócio, ao treinar executivos e desenvolver planejamentos para prever crises ou mesmo administrar uma crise em curso. Tudo dentro de um figurino muito bem delineado e com respostas para tudo. Bem, quase tudo. Foi o que mostrou o consultor Eduardo Oinegue, ex-Veja. Seu enfoque foi voltado ao cenário no qual saem do convívio normal das empresas os repórteres, em geral especializados em economia, e chegam os da área policial para cobrir prisões, delações, apreensões etc. Uma confusão que coloca por água abaixo todo tipo de planejamento ascético feito até então.

Mas não é só pelos temas que o Congresso mostrou-se valioso. Também pelas pessoas que dele participaram. Por exemplo, na mesa que debateu compliance, área que ganha protagonismo crescente em ambiente tão corrosivo para as reputações empresariais, o evento contou com a participação de Marcelo Lyra, vice-presidente de Comunicação da Odebrecht, que ali esteve para mostrar o que a área que lidera está fazendo para ajudar a organização a resgatar a imagem e a reputação que foram duramente abaladas com a Operação Lava Jato. Essa foi a primeira participação de um dirigente da empresa em evento público, fora dos autos processuais. Gol de placa do Congresso e um alento para a equipe da Odebrecht.

Mais novidades, mais transformações?

Foram muitas as experiências. Nos dois primeiros dias de evento, o StartLab, outro dos eventos satélites, trouxe para o Congresso a criatividade e a inovação disruptiva na sua mais pura essência. Partindo do princípio de que agências de comunicação são, antes de tudo, empresas, e como tais têm demandas de gestão, a Mega Brasil enxergou nessa iniciativa a oportunidade de aproximar esses dois polos de soluções e demandas empresariais. Estruturado para ser um ambiente B2B, no qual startups e empresas são colocadas frente a frente, o StartLab ocupou um espaço de exposição em que aceleradoras e incubadoras trouxeram startups e suas soluções corporativas, voltadas às mais diferentes áreas de gestão. Antes de cada sessão do Congresso, 28 desenvolvedores trazidos ao evento por marcas como Cubo, Wayra, Oxigênio, Triple Seven, MBC, Liga Ventures, Seed-MG e Empreenda FAAP, fizeram pitches apresentando suas soluções para as organizações presentes. Para as agências mais atentas, essa também foi uma oportunidade de estabelecer parcerias com essas startups, ampliando o portfólio de produtos para os seus clientes.

Ousadia? Também não faltou no evento e vários dos exemplos citados comprovam isso. Mas há outros. Como um serviço que – pasmem – começa a surgir no ambiente da comunicação e a virar negócio para as agências: o social commerce, que tem ajudado as marcas a venderem mais. Buscando compartilhar conhecimentos e incentivar networkings, o Congresso também se propôs a inspirar, daí ter programado em alguns de seus intervalos as chamadas TEDs Inspiradoras, sobre temáticas humanas, com o jornalista Claudio Henrique Santos, que falou sobre o Macho do Século XXI, o publicitário Tiago Bispo e a psicóloga Meiry Kamia, autora do livro Motivação sem truques. Um dos mais ricos debates do encontro deu-se no Fórum do Pensamento, sobre o tema "A retomada do Brasil competitivo", tendo como protagonistas os economistas Antonio Corrêa de Lacerda (comentarista da TV Cultura, diretor da MacroSector Consultores e professor de pós-graduação da PUC-SP) e Ernesto Lozardo, presidente do Instituto de Pesquisas Eco.

Este artigo foi publicado originalmente na publicação Jornalistas & Cia, da Mega Brasil Comunicação.

*Diretores da Mega Brasil Comunicação.

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