Saiu mais uma pesquisa sobre a credibilidade e avaliação do atual governo. E o que já era ruim, ficou pior. De acordo com o Ibope, somente 12% dos brasileiros aprovam o governo Dilma. Talvez seja a parcela que, por falta de informação, ainda não percebeu o tamanho do buraco em que o país se encontra. Ou faz parte daquela parcela de torcedores que, mesmo com o time caindo, acredita que ele vai se safar. Para 64% dos brasileiros, a gestão é ruim ou péssima. E o percentual dos que não confiam no governo Dilma foi de 24% para 74% dos brasileiros.
Ou seja, em menos de um ano, o capital de credibilidade da presidente, que em meados do ano passado, antes do segundo turno da eleição, era de 46%, esvaiu-se. Isso mostra como a percepção das pessoas é extremamente deletéria para a imagem. E como se constroem essas percepções? Seria apenas pela profusão de notícias negativas, que a mídia, sempre ela a culpada pelos males do governo, como dizem os governistas, divulga? Ou por outros fatores?
Percepção é formada por muitas variáveis. Até o fim do ano passado, as pesquisas mostravam que os maiores problemas dos brasileiros eram a saúde e a segurança, aparecendo também a corrupção nos primeiros lugares. Mas algumas pesquisas já indicavam que os preços altos incomodavam a população. Segundo o Ibope, esse pior índice de avaliação de um governante, da série histórica divulgada desde 1995, tem muito a ver com a economia, porque a “lua de mel” da classe média e o marketing do Bolsa Família não seguram quando o dinheiro some do bolso. Isso pode ser percebido quando a dona de casa vai ao supermercado ou recebe as contas em casa para pagar. Basta ver uma delas, a conta de energia, aumentos que variam de 30% a 55%. Que percepção um trabalhador pode ter de um governo que, por má gerência, deixou as coisas chegarem onde chegaram?
O governo, a presidente Dilma, o PT estão sendo cobrados pelos erros cometidos nos últimos anos. E não apenas no governo Dilma. Começou no segundo governo Lula. A elevação irresponsável dos salários dos funcionários públicos, para agradar às centrais sindicais, sustentáculo do governo, os gastos sem controle da máquina oficial, a maquiagem oficial nas contas do Tesouro, patrocinadas pelos "maquiadores" do primeiro governo Dilma, tudo contribuiu para o resultado que a pesquisa mostra.
Em 2014, os sinais foram dados. Mas como era ano eleitoral, a presidente preferiu mergulhar no autoengano e os menos esclarecidos acreditaram que passada a eleição, tudo iria melhorar. Só acreditou, quem não acompanhava os dados do país, acusados em sua maioria de catastrofistas, mídia golpista, impatriotas, elite branca e outras bobagens que têm povoado o vernáculo governista nos últimos anos. Só que agora não adiantam os gritos roucos de Lula nos encontros do PT, com gracinhas que servem apenas para a claque rir e se divertir, menos para apontar caminhos para o país. Gritos e susurros não contribuem para ajudar a presidente a sair do impasse. O Criador da Criatura deveria estar mais preocupado em ajudá-la a sair da crise, do que em fazer marketing eleitoral como se ele fosse o Messias.
Governos perderam a confiança
O argumento é recorrente. Falta um líder, com cacife internacional e postura de estadista para assumir o comando dessa crise que o país atravessa. A presidente está precisando de ajuda, não de puxa-sacos ou ministros que mais atrapalham do que ajudam. São raríssimas as interferências coerentes e úteis. O que se ouve são discursos vazios e recorrentes de defesa, sem humildade para reconhecer os erros, arrogantes, como no infeliz manifesto do PT, recentemente publicado, como se os brasileiros que produzem e pagam impostos fossem os culpados pelos erros de quem está no governo.
Ao eleger um candidato, os eleitores lhe dão uma procuração para assumir o cargo e cumprir aquilo para o qual ele se candidatou, prometeu e foi escolhido para fazer. Na hora em que esse preposto falha, o povo não perdoa. E os governos nos últimos anos têm falhado bastante, não apenas no Brasil.
Pesquisa recente da empresa de PR Edelman (Edelman Trust Barometer 2015), feita em 27 países de economias mais avançadas, com mais de 30 mil pessoas, mostra que há uma deterioração da confiança das populações nos governos e até mesmo nas empresas. Esse dado se agravou a partir da crise econômica de 2008, quando milhões de empregos, principalmente de jovens, despareceram. Dos 27 países, em 21 a confiança da população de que eles são capazes de fazer as coisas certas está abaixo de 50%, portanto negativa. No Brasil, enquanto 73% confiam nas empresas, apenas 37% confiam no governo. A confiança do governo brasileiro só não é pior do que a do México, Itália, África do Sul, Polônia, Espanha, Argentina e Irlanda, países que tentam sair da crise, após quase sete anos de recessão e desemprego. Não é o caso do Brasil.
A rápida deterioração da confiança da população na capacidade de o governo solucionar a crise parece estar por trás desses índices. E, pior, o discurso do governo e da presidente, desde que a crise política, econômica e institucional se agravou é evasivo e desfocado. A presidente se limita a fazer viagens onde se criam factoides para ela aparecer na imprensa, mas sem demostrar firmeza no discurso e nos atos de que existe disposição e ações para atacar os problemas do país. A falta de horizonte e a desconfiança na capacidade da presidente em encontrar soluções têm levado os empresários a adiar investimentos, num cenário pessimista para as perspectivas de emprego de 2015.
O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, previu nesta quinta-feira (3) que a indústria poderá demitir 50 mil pessoas neste ano. As montadoras de automóveis, as empresas dessa cadeia de negócios e dos fornecedores da Petrobras não param de demitir. É esse cenário que contribui para o pessimismo com que o ano de 2015 começou. Analistas reconhecem que nenhum governo, nos últimos anos, começou um novo mandato com um quadro de tanto pessimismo. Parece que o governo está perdido, sem um projeto para o país. E isso é péssimo para a percepção geral e o humor para sair da crise.
Para agravar tudo isso, temos uma relação com o Congresso Nacional que parece de namorados amuados, loucos para casar, mas que fazem “bico” de público e conchavos no escurinho do cinema. Renan Calheiros, de passado sempre nebuloso e complicado, agora decidiu virar patriota. Apenas porque seus apaniguados políticos, sempre acostumados a remunerados cargos nos governos atuais e passados, não estão sendo correspondidos, ameaça jogar o país no caos. Não muito diferente do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que adora posar de estadista, perfil que certamente não lhe cabe e nem faz jus ao seu passado, aproveitando o momento de "fraqueza" política da presidente Dilma.
O resultado da pesquisa Ibope não foi surpresa para os analistas e nem para quem acompanha o país nos últimos anos. Ele apenas reflete que quando as empresas ou os governos não respondem às expectativas dos constituintes, dos clientes, o que é uma característica dos tempos de crise, eles os rejeitam. E não há comunicação, por mais competente que seja, nem polpudas verbas publicitárias, que resolvam esse impasse.
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