O Reino Unido enfrenta um novo escândalo envolvendo grampos telefônicos utilizados criminosamente pela mídia, comparável ao ocorrido com o jornal “News of the World”, há quatro anos. O grupo “Mirror Group Newspapers (MGN)”, que edita os jornais Daily Mirror, Sunday Mirror e a revista People, utilizaram grampos em “escala industrial”, segundo reportagem do jornal britânico The Guardian, entre os anos de 1999 e 2009.
Os fatos vieram à tona há cerca de dois anos quando algumas celebridades britânicas prestaram queixa; o inquérito agora está na fase final, após depoimentos de várias testemunhas e vítimas. Segundo o The Guardian, a extensão dos grampos do Mirror Group fariam o caso News of the World parecer uma “indústria pequena”, se comparados.
Essa prática criminosa, que escandalizou a mídia britânica em 2011, quando o escândalo com o jornal da News Corporation, "News of the World", foi flagrado, da mesma forma, grampeando políticos e celebridades, resulta de uma disputa acirrada por audiência no chamado "jornalismo de celebridades", tradição na imprensa do Reino Unido. São jornais especializados ou que buscam grande audiência com base em fofocas ou furos sobre a vida desses personagens e chegam a tiragens no fim de semana de 2 ou 3 milhões de exemplares. Isso também se tornou um grande negócio. Mas a disputa acabou se tornando caso de polícia, porque o News of the World, bem como o grupo MGN e outros jornais do mesmo naipe, avançaram o sinal. Até mesmo com a conivência da polícia.
O Tribunal ouviu depoimentos que o ex-jornalista do “Sunday Mirror”, Dan Evans, grampeou cerca de 100 celebridades todos os dias, de 2003 a 2004. Entre as dezenas de celebridades estão as atrizes Sadie Frost e Sienna Miller, o ex-jogador de futebol Paulo Gascoigne e o ex-técnico Alex Spence. Nos grampos, foi violada uma mensagem de Sienna Muller para o astro dos filmes 007 Daniel Craig. O advogado de algumas vítimas disse ao Tribunal que os grampos nos veículos eram “completamente sem precedentes” e que os escalões mais altos do MGN tinham conhecimento da atividade.
- Isto não foi apenas o trabalho de repórteres novatos. Muito pelo contrário – disse o advogado David Sherbone. As provas demonstram que a interceptação das mensagens de voz, bem como a obtenção ilícita de informações pessoais por falsidade ideológica ou uso de investigadores privados, estava generalizada na empresa e era comum entre um grande número de jornalistas em todos os veículos da MGN.
Frost teria sido grampeada diariamente por ter sido casada com o ator britânico Jude Law e ainda manter amizade com a modelo Kate Moss. Segundo a atriz, ter suas mensagens de voz interceptadas era como ser “monitorada e perseguida por uma espécie de polícia secreta, que estavam cavando tanto quanto podiam para descobrir todos os detalhes possíveis sobre nossas vidas privadas, bem como nossas vidas profissionais, para usar contra nós”.
Sherbone disse que as informações “mais profundamente privadas” foram interceptadas e publicadas por jornalistas, incluindo a ida da atriz Sadie Frost a reuniões dos Alcóolatras Anônimos, os problemas financeiros de Richie, o divórcio de Ashworth e a relação de Taggart com o ator Steve McFadden, diz o jornal The Guardian.
O advogado acusou o grupo de jornais de deliberadamente tentar esconder seus erros e os altos executivos de mentirem no inquérito Leveson, que coordenou a apuração dos grampos, com o propósito "deliberadamente concebido de produzir declarações enganosas".
No inquérito, o MGN admitiu que, das histórias publicadas como resultado de grampos telefônicos, 49 foram no “Sunday Mirror”, 40 no “Daily Mirror” e 23 na “People”, dos anos 2000 a 2006.
Mais de 40 jornalistas do MGN teriam acessado gravações de celebridades e outras figuras públicas para construir histórias para o jornal. Pelo menos 71 artigos foram publicados nas três publicações do Grupo que tinham informações obtidas pelos grampos, admite a empresa.
O publisher da empresa, também chamada Trinity Mirror, admitiu pela primeira vez em setembro passado que seus jornalistas grampeavam telefones e que iria pagar indenizações a várias celebridades. Ele disse que admitiu responsabilidade e pediu desculpas para quatro pessoas que processaram a empresa por suposto acesso ilegal a suas mensagens do correio de voz.
O jornal já admitiu que tem um fundo de 12 milhões de libras (R$ 50 milhões) para custear as ações indenizatórias que começaram a chegar à empresa.
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