O ano de 2014 se despede como 2012, nos Estados Unidos. Com o assassinato covarde de dezenas de crianças, sempre as vítimas inocentes da insensatez humana. Agora, foram 132 mortes de inocentes, no Paquistão, e outro tanto de feridos, muitos em estado grave. Não bastasse o que aconteceu durante o ano, com atos de decapitação filmados ao vivo e divulgados na Internet, para provocar o mundo civilizado e fazer propaganda do terror, o mundo hoje ficou sabendo que não há mais limites para a barbárie.
Ataque feito por sete militantes do Talibã, grupo radical apeado do poder no Afeganistão, pelos Estados Unidos, logo após os atentados de 11 de setembro de 2001, atingiu uma escola militar (Army Public School) em Peshawar, uma grande cidade do Paquistão.
Cerca de sete militantes, que pularam o muro da escola, pegaram um grupo de alunos no auditório, assistindo a uma apresentação, e começaram a atirar em crianças e professores, indistintamente. Mesmo os que se esconderam eram fuzilados. Depois, eles foram de aula em aula e continuaram o massacre. Muitos estudantes receberam tiros na cabeça. A ação durou pelo menos oito horas.
Um estudante que sobreviveu, ferido no braço, na coxa e no peito, disse que ficou uma hora caído em meio aos corpos sem se mover, como se estivesse morto, até ser resgatado pelos soldados. Ele acredita que havia 18 colegas na sala que foi invadida, mesmo depois de eles terem fechado a porta, e que nenhum sobreviveu.
A BBC visitou nesta quarta-feira o cenário onde os alunos foram encurralados e fuzilados e viu um cenário de horror, com sangue e marca de balas nas paredes, como se a escola tivesse sido atacada por um exército. O covarde ataques a crianças recebeu o repúdio unânime da comunidade internacional, incluindo os líderes das principais potências, como EUA, Reino Unido, Alemanha e França.
Na escola, estudavam 1.100 alunos. Além de 132 mortos, entre alunos e professores, 125 foram feridos e sete militantes teriam sido mortos pelos militares que chegaram durante o tiroteio. Eles seriam homens-bomba. O Talibã assumiu a autoria do ataque e divulgou um comunicado: Escolhemos a escola do Exército para o ataque porque o governo está alvejando nossas famílias e mulheres", disse o porta-voz do Taliban, Muhammad Umar Khorasani. "Queremos que eles sintam a dor."
A paquistanesa Malala Yousafzai, vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 2014, que sofreu uma tentativa de assassinato dos talibãs, lamentou o ataque. "Tenho o coração partido por este ato de terrorismo sem sentido e a sangue frio em Peshawar", afirma jovem de 17 anos em um comunicado.
"Eu, ao lado de milhões de pessoas em todo o mundo, choro por estas crianças, meus irmãos e irmãs. Mas não vão nos derrotar nunca", completou.
Nesta quarta-feira, quando por todo o país os parentes velam e choram as crianças mortas, diante da comoção nacional, o Primeiro Ministro Nawaz Sharif disse que as mortes das crianças não serão em vão, e declara guerra total ao Talibã, não havendo distinção “entre bons e maus”. “Nós continuaremos a guerra contra o terrorismo até que o último terrorista seja eliminado”.
O Paquistão, que sistematicamente luta contra o terror de radicais, vítima constante de atentados, também acabou com a moratória sobre pena de morte para atos terroristas, o que permitiu que muitos acusados e envolvidos em atos terroristas tivessem escapado da Justiça.
Em 2012, os Estados Unidos, e em 2004, a Rússia
Há exatamente dois anos (14/12/12), até os Estados Unidos contumaz vítima desse tipo de ataque, ficaram chocados com o crime praticado por um maníaco de 20 anos que, após matar a própria mãe, dirigiu-se a uma escola onde havia estudado, e matou 20 estudantes e cinco professores. Um dos piores atentados dos EUA, entre tantos outros que ocorreram em escolas americanas, vitimou a escola Sandy Hook, em Newtown, Connecticut, em 14 de dezembro de 2012. O atirador foi morto pela polícia.
Em 2004, um grupo rebelde da Chechênia invadiu uma escola em Beslan, na Rússia e fez mais de 300 crianças reféns. Durante os combates para a retomada da escola pelo exército russo, os rebeldes mataram 330 pessoas, a maioria eram alunos da escola. Foi o maior atentado desse tipo na história recente. Os alunos ficaram num fogo cruzado e foram fuzilados pelos rebeldes ou por armas do próprio exército russo, numa tragédia nunca totalmente esclarecida pelos russos.
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