A indústria farmacêutica, que já não tem uma boa reputação, principalmente nos países desenvolvidos, sofreu novo arranhão, na semana passada, com a notícia de que o laboratório britânico GlaxoSmithKline foi multado em cerca de US$ 500 milhões na China, por corrupção. O tribunal chinês considerou o laboratório culpado de suborno.
Essa não é uma crise tão incomum nas grandes corporações. Os crimes de colarinho branco correspondem a 16% de todas as crises corporativas mundiais, relacionadas com a gestão, segundo levantamento do Institute for Crisis Management, dos EUA. Na mesma semana, autoridades chinesas haviam multado a Unidade da Audi, pertencente à Volkswagen, em US$ 40.5 milhões, por violação das leis antitruste.
A multinacional global GSK havia investido bilhões de dólares na China, de olho num mercado de 1,4 bilhão de pessoas. A Justiça chinesa alega que a gigante, maior laboratório do Reino Unido, pagou subornos a médicos e hospitais, a fim de ter seus produtos promovidos. O tribunal deu ao ex-chefe das operações chinesas da GSK, Mark Reilly, uma pena de prisão de quatro anos, que foi suspensa sob condições, mas o impede de negociar na China. O destino dele ser a deportação.
Fundos hospitalares foram usados com o propósito de legitimar pagamentos, mas outros desembolsos foram feitos para agentes corruptos, de agências de viagem, que ofereciam propinas ilícitas em dinheiro, presentes e até mesmo favores sexuais para médicos que escolhessem produtos do laboratório Glaxo, segundo reportagem do jornal britânico The Times.
Mais quatro executivos da GSK também foram condenados a penas de quatro anos de prisão, com suspensão condicional. As autoridades chinesas começaram a investigar a GSK em julho do ano passado, no que se tornou o maior escândalo de corrupção relacionado a uma empresa estrangeira nos últimos anos, no Reino Unido. A empresa foi acusada de ter feito uma estimativa de US$ 150 milhões em faturamento e lucros ilegais.
A condenação do GSK, na China, além da considerável multa, representam sério revés para as pretensões do Glaxo naquele país. Quando as acusações surgiram pela primeira vez no ano passado, a empresa disse que os funcionários estavam "fora de nossos sistemas de controles." O escândalo envolveria alguns desonestos funcionários naturais da China.
Mas o caso intensificou em maio, quando a polícia chinesa acusou Mark Reilly, um britânico, de orquestrar uma "rede de corrupção maciça." Reilly e dois executivos de origem chinesa, Zhang Guowei e Zhao Hongyan, tinham até mesmo subornado funcionários do governo em Pequim e Xangai, disseram. Os nomes dos outros acusados são Liang Hong Hong e Huang.
Segundo a BBC News, a GSK publicou uma declaração de desculpas ao governo chinês e ao seu povo. "Chegar a uma conclusão na investigação de nosso negócio na China é importante, mas esta tem sido uma questão profundamente decepcionante para a GSK", disse o executivo-chefe Andrew Witty, em comunicado, na semana passada.
"Estamos e continuaremos a aprender com isso. A GSK está há quase 100 anos na China e continuamos totalmente comprometidos com o país e com seu povo", afirmou ele. "Também continuaremos a investir diretamente no país para apoiar a agenda de reforma da saúde e também os planos de longo prazo governamentais para o crescimento econômico."
Mick Cooper, analista da Edison Investment Research, em Londres, disse åa BBC News que "A GlaxoSmithKline espera que isso vá traçar uma linha sobre os eventos na China, mas levará tempo para que as suas operações comerciais se recuperem no país."
O Serious Fraud Office (órgão britânico que apura fraudes nas empresas) abriu uma investigação interna sobre o crime cometido na China pelo laboratório. Se o SFO constatar que os executivos em Londres sabiam qualquer coisa sobre os malfeitos cometidos pelos executivos na China, eles também poderão ser processados. O CEO britânico e a diretoria do GSK estão sob pressão, porque a ética era uma das bandeiras da gestão. Até mesmo nos Estados Unidos, o Departamento de Justiça está examinando se o laboratório violou o Foreing Corrupt Pratices Act.
Segundo a mesma reportagem do jornal The Times, o laboratório GSK tem sido acusado também de práticas similares de conduta imprópria por denunciantes na Polônia, Iraque, Jordânia e Líbano. Do lado chinês, as autoridades disseram que "uma China aberta, não significa uma China sem lei".
Segundo uma outra reportagem do jornal The Times, o caso da GSK mostra o perigo das grandes multinacionais fazerem negócios, num país onde a corrupção por vezes parece ser tolerada, mas onde o sistema jurídico e regulatório tem mostrado uma vontade cada vez maior de processar empresas estrangeiras.
Análise
“Este é um resultado humilhante para uma das maiores empresas da Grã-Bretanha: declarar-se culpada de suborno sistemático, encarando a maior multa da história chinesa e fazendo um pedido de desculpas abjeto ao governo chinês e às pessoas.
“Mas depois de um caso que durou mais de um ano, não havia nenhuma maneira fácil para a GSK sair dessa situação. Pelo menos por agora, ela pode começar a reconstruir a sua marca despedaçada na China.
“Hoje a GSK afirmou que aprendeu suas lições, e uma delas é claramente que as empresas estrangeiras precisam estar atentas às rápidas mudanças políticas e regulamentares da China, se quiserem prosperar, ou mesmo sobreviver, neste mercado promissor, mas perigoso.” (Carrie Gracie, editora da BBC na China).
Tradução: Jessica Behrens. Edição: João José Forni.