Em artigo no site Observatório da Imprensa, o jornalista Luciano Martins Costa aborda as manchetes dos últimos dias no país, fartas em temas que, invariavelmente, caem na palavra que parece ter entrado para o vocabulário não só da mídia, como também dos gestores atuais: crise. Ou pelo menos ameaça de crise.
Se não, vejamos. O acidente com o avião que conduzia o candidato do PSB à presidência, Eduardo Jorge, parece ter sido o estopim de uma sucessão de notícias negativas que pautam os jornalistas. A começar pela crise do PSB, que da noite para o dia viu-se na contingência de aceitar Marina Silva como candidata, no lugar de Eduardo. Meio a contragosto, pelo menos para alguns dos membros.
Se a morte do político por si só já representa uma crise, o que dizer do partido, sem tradição ainda numa grande eleição, tentando apaziguar várias correntes? Sacudido pela tragédia, o tsunami no PSB atingiu por tabela os outros dois maiores competidores, PT e PSDB.
Mas, se o país, antes da Copa do Mundo, já transpirava um ambiente meio carregado, por crises recorrentes na educação e na saúde, passando pela área de energia e de abastecimento de água, esta no âmbito de S. Paulo, a derrota por 7 X 1 para a Alemanha foi o mote para entrarmos num período de humores e cenários extremamente negativos.
A economia persiste em patinar e os empresários não escondem a insatisfação. A cada semana o Banco Central vem reduzindo os percentuais de aumento do crescimento do PIB para este ano. E os primeiros sinais de desemprego começam a turvar o cenário das eleição. Há problemas sérios na área econômica, em vários setores, mas o governo continua com um discurso descolado da realidade, tentando dourar a pílula antes das eleições. A situação está tão deteriorada que nos últimos dias o ministério da Fazenda foi acusado de estar devendo aos bancos públicos, principalmente Banco do Brasil e Caixa, por compromissos do Tesouro Nacional, que são normalmente assumidos por eles, como o pagamaento do INSS. A mídia é caudatária do que o mercado reflete. Não poucas vezes é acusada de catastrofista.
O ex-Presidente Lula acaba de afirmar em reuniões políticas que a imprensa é o mais forte partido da oposição. Exageros à parte, porque certamente até hoje ele não entendeu o papel da imprensa, numa sociedade democrática, o fato é que ele e o governo gostariam, à la Chávez, que a imprensa fosse porta-voz só de boas-novas. E que os equívocos do governo fossem esquecidos. Ainda bem que vivemos num clima de ampla liberdade de imprensa.
As empresas de modo geral abominam notícias sobre crises, principalmente aquelas que se referem a eventos negativos ocorridos no próprio quintal. Mas talvez o mais importante seja o que não tem sido publicado nos jornais. Como, por exemplo, o iminente agravamento do abastecimento de água em São Paulo, até agora negado oficialmente e não reconhecido como uma crise iminente. Segundo Luciano Costa, o noticiário navega ao sabor das eleições. Mas, se a escassez de água, junto com a prevista crise da energia, realmente se transformarem em crise, talvez sejam elas que vão decidir o voto em outubro.
É Luciano Costa que diz, no Observatório da Imprensa:
"Começou a campanha eleitoral na televisão, considerada o recurso mais eficiente para a colheita de votos, e não se fala de outra coisa nos jornais. Evidentemente, trata-se apenas de uma força de expressão, porque os diários seguem trazendo aquele mesmo cardápio variado de assuntos, determinado pela divisão das folhas em seções especializadas. O que muda é a abordagem dos mesmos temas: agora, mais do que nunca, o que sai, como sai e principalmente o que não sai na imprensa fica condicionado ao efeito que a notícia pode produzir nas urnas.
"Nesta quarta-feira (20/8), o destaque do trivial variado é a prisão do ex-médico Roger Abdelmassih, condenado a 278 anos de prisão por 48 estupros e foragido desde janeiro de 2011. Também há registros sobre a crise hídrica que afeta principalmente a região metropolitana de São Paulo, além de outras variedades. Mas já se percebe que o noticiário político foi conectado ao que dizem os candidatos na propaganda eleitoral – e o noticiário econômico tende a seguir no mesmo tom.
"Também aparecem nas primeiras páginas, como sempre, notícias de futebol, com a primeira convocação da seleção brasileira depois do vexame na Copa do Mundo. O novo técnico, Carlos Eduardo Bledorn Verri, conhecido como Dunga, tem a missão de tirar das cinzas aquele que já foi o melhor futebol do mundo, em duas partidas amistosas, contra as seleções do Equador e da Colômbia, nos Estados Unidos. A crônica especializada se empenha em um debate sobre os escolhidos, e observa que Dunga convocou dez dos atletas que falharam na Copa.
"Aparentemente, nada além do corriqueiro.
"Sobre a campanha eleitoral, há relatos detalhados do que disse cada um dos candidatos na televisão, mas poucas análises sobre o que eles realmente podem fazer caso sejam eleitos. Assim, a mensagem imaginada pelos criadores da propaganda eleitoral acaba predominando sobre a realidade, que deveria orientar a escolha do eleitor. Ou seja: em última instância, quem define a pauta da imprensa nesta temporada de caça a eleitores são os marqueteiros de campanha."
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