uspLaura Greenhalgh, do O Estado de S. Paulo

Rombo financeiro, 'reajuste zero' e risco de greve são elos de uma estrutura que precisa ser revista, admitem veteranos da universidade.

"A primeira condição para superar esta difícil conjuntura é compartilhar as informações e não esconder a gravidade." Em uma carta de duas páginas, ilustrada com dois gráficos preocupantes, o médico e recém-empossado reitor da USP, Marco Antonio Zago, atestou a debilidade financeira da mais importante universidade pública do País e uma das cem melhores num ranking de 10 mil instituições pelo mundo.

"A USP mantém seus sinais vitais preservados. Há prognóstico de cura. Só que o diagnóstico desafia o tratamento, tantas são as enfermidades - do desequilíbrio financeiro do mês a mês a desajustes no seu papel institucional, num País que pleiteia cada vez mais posição de destaque no cenário global, embora com déficit educacional cada vez menos tolerável.

"A carta de Zago, ao revelar que o pagamento da folha de pessoal da USP consome 106% do orçamento geral e que a reserva financeira da universidade tombou de R$ 3,6 bilhões, em 2013, para R$ 2,3 bilhões em 2014, preconiza medidas duras, desde a suspensão de obras e contratações até a disposição de congelar salários ante a ameaça de "reajuste zero" para o ano.

"A penúria uspiana, até em relação a seus pares - Unesp e Unicamp -, acende a luz vermelha: o que vem acontecendo a esse gigante do ensino superior, público e de qualidade, com seus 92 mil alunos, 5.860 professores e quase 17 mil funcionários técnico-administrativos? O comunicado do reitor surtiu efeito previsível: a mobilização das três universidades paulistas, que prometem entrar em greve nos próximos dias.

usp violencia"De novo, voltamos a falar de orçamento. Mas os desafios vão além dessa conversa de verba, verba, verba", diz o filósofo José Arthur Giannotti, professor emérito da USP. Ao colocar a questão financeira como consequência, e não causa, de uma crise que abala o futuro da instituição, prefere atacar as amarras do funcionalismo público ao qual USP, Unicamp e Unesp se subordinam.

"Acha que a última reforma universitária para valer aconteceu no tempo da ditadura, em 1969-70, e que, de lá para cá, viu a USP se transformar numa grande repartição. "Penso que não faltam recursos, mas são muito mal empregados.

"Vocaliza boa parcela do professorado ao pleitear a criação de um regime jurídico especial para a USP, custeada desde o final dos anos 1980 com repasses do ICMS da ordem de 5% do bolo geral - mecanismo que assegurou a autonomia financeira, ao lado da didática e administrativa.

Baderna, fora!.

"Em 1988, pressionado por protestos às portas do Palácio dos Bandeirantes, o governador Orestes Quércia acatou sugestão do então reitor da USP, o físico José Goldemberg, que por sua vez tinha o respaldo dos reitores da Unicamp e da Unifesp.

"Por decreto, Quércia destinaria 8,5% da arrecadação do ICMS para as três universidades públicas estaduais, e os reitores deixariam de passar o pires do orçamento anualmente. Quércia topou, o reitor saiu vitorioso e o índice do repasse de 8,5% para as instituições subiu para 9,57% com o passar dos anos. Mas hoje Goldemberg se arrepende de não ter incluído itens balizadores no texto do decreto governamental." (Ver entrevista de José Goldemberg)

Leia a íntegra do artigo no jornal O Estado de S. Paulo

Crise na USP tem múltiplas facetas

Fotos: Campus da USP, S. Paulo; Danilo Verpa/AE - Tentativa de invasão da Reitoria, outubro de 2013.

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