Se a chegada do WikiLeaks, praticamente acabou com os segredos dos governos, prepare-se. A privacidade pessoal também está sob séria ameaça, se é que ainda existe. Uma empresa privada ofereceu os dados de 27 milhões de usuários de telefones celulares para venda à polícia metropolitana de Londres, o que lhes permitiria acompanhar todos os movimentos dos usuários, segundo denúncia publicada no The Sunday Times, deste domingo.
O mais grave é que não há, aparentemente, nada ilegal, a ponto de eles oferecerem o produto para a própria polícia. A Ipsos Mori, uma das maiores empresas de pesquisa da Grã-Bretanha, foi flagrada oferecendo a comercialização de textos e registros de chamada de celulares de consumidores britânicos para as autoridades policiais. A empresa afirmou em reuniões com membros da polícia metropolitana de Londres que cada movimento dos usuários podem ser rastreados em até 100 metros.
Neste fim de semana, a MET (Polícia metropolitana de Londres), que tem entabulado conversações com a Ipsos Mori sobre o compra de alguns dos dados controversos, resolveu suspender qualquer discussão, depois de ser contactada pelos repórteres Richard Kerbaj e Jon Ungoed-Thomas, autores do artigo no Times.
Segundo o jornal londrino, as informações para “vender” os dados revelam que o pacote inclui "gênero, idade, código postal, sites visitados, a hora da mensagem enviada e a localização do cliente, quando a chamada é feita." A empresa intermediadora da negociação informa que o uso do telefone móvel das pessoas e a localização podem ser monitorados em tempo real, com os registros de movimentos, chamadas e textos, também disponíveis para os seis meses anteriores.
Os dados, obtidos pela Ipsos Mori em um acordo de exclusividade com a EE, a maior operadora de telefonia da Grã-Bretanha, vai além de qualquer coisa que a polícia pudesse ter imaginado ou praticado, anteriormente, , sem uma ordem de aplicação, nos termos do Regulation of Investigatory Powers Act 2000. Ou seja, o que nem a polícia britânica conseguiu, sob o argumento de monitorar imigrantes ilegais ou terroristas, a empresa privada conseguiu.
Para o Times, especialistas asseguram que a oferta de acesso aos dados dos usuários de celulares tem um nível semelhante ao de uma proposta anterior do governo, arquivada pelos ministros, após protestos sobre invasão de privacidade.
Forças policiais, conselhos administrativos, grandes empresas e o Google estão entre os clientes potenciais para os dados oferecidos pela empresa. A Scotland Yard admitiu que discutiu a proposta em março e que outra outra reunião foi realizada quinta-feira passada, com a presença de Mark Rowley, o comissário assistente encarregado da ordem pública e grandes eventos.
Segundo a reportagem, no entanto, poucas horas depois de ser contactado pelo The Sunday Times, a polícia metropolitana disse que estava abandonando a proposta, apesar de fontes assegurarem que os policiais haviam se entusiasmado com o potencial de rastreamento dos dados dos usuários, principalmente dos telefones pré-pagos.
Veja mais detalhes da reportagem do The Sunday Times
Secrets of 27m mobile phones offered to police