O recorde de 24,4% de desemprego na Espanha e 21,8% na Grécia, além de mostrar a fragilidade da economia dos países da zona do Euro, trouxe um efeito devastador no equilíbrio psicológico dos habitantes. Os desempregados na Europa já chegam a 25 milhões.
A recessão econômica que se estende à Itália, Reino Unido, Portugal, Irlanda e outros países provocou um aumento alarmante no índice de suicídios.
O New York Times publicou artigo na semana passada contando pequenas histórias de comerciantes italianos, com mais de 50 anos, que se suicidaram depois de não receberem as contas dos devedores e outros porque a quebra da empresa familiar, que existia há várias gerações, provocaria demissões na época do Natal. “Me desculpem. Não suporto mais”, desabafou Giovanni Schiavon, de 59 anos, em Pádua.
O efeito perverso da crise obrigou os países a fazerem ajustes muito fortes na economia, com corte de empregos, benefícios, pensões, aposentadorias e planos de saúde. As estatísticas oficiais escondem o problema. Na Irlanda, entre 2007 e 2009, houve aumento de 16% no índice de suicídios entre os homens e na Itália de 123 suicídios em 2005, foram registrados 187 em 2010.
Na Grécia, o índice de suicídios entre homens, no mesmo período, aumentou 24%. Desde 2009, um quarto de todas as empresas gregas encerrou suas atividades e metade das pequenas empresas no país não consegue pagar os empregados. A taxa de suicídios no país aumentou 40% no primeiro semestre de 2011, segundo Russel Shorto, colaborador do New York Times.
Até na Alemanha, país que menos tem sentido os efeitos da crise econômica, desde 2008, foram registrados suicídios de empresários com dívidas. Em 2009, o milionário empresário Adolf Merckle, de 74 anos, cometeu suicídio, atirando-se na frente de um trem, segundo familiares, abalado com a crise financeira e por especulações com ações da Volkswagen. Ele também se desesperou pelo número de empregados de seu império que poderiam ficar sem emprego.
Para 2012 o quadro não muda. Especialistas dizem que a tendência é se intensificar, por conta de medidas de austeridade que países como Espanha, Grécia e Portugal continuam tomando por não sinalizarem recuperação imediata. Na Espanha, o próprio governo reconheceu que somente a partir de 2014 poderá pensar em estabilizar a economia. Já considera 2013 um ano também sem crescimento.
Embora seja um tema tabu, difícil de abordar publicamente, os suicídios estão localizados nas regiões mais afetadas pela crise. Na Itália, o Vêneto registrou pelo menos 30 suicídios de pequenos empresários nos últimos três anos. Foi quando a região sofreu uma queda nas encomendas industriais, a concorrência da China e o arrocho no crédito bancário, segundo o New York Times. Mas Bolonha, Catânia e Roma também entram nesse mapa macabro.
Na Irlanda, os suicídios se intensificaram após a literal quebra do país, com o estouro imobiliário na economia, no período pós-2008. Pesquisadores que entrevistaram familiares de 190 pessoas que cometeram suicídio, entre 2008 e 2011, constataram que as vítimas eram na maioria homens, com idade média de 36 anos. Quase 40% estavam desempregados e 32% trabalhavam na construção. Dificuldades financeiras, desemprego, relacionamentos rompidos e solidão, entre as causas principais.
Na Grécia e na Espanha, metade da população abaixo de 25 anos está desempregada. A Espanha, em quatro anos, pulverizou 4 milhões de postos de trabalho. Que equilíbrio esperar das pessoas, principalmente jovens, num país onde em 1,7 milhão de residências ninguém da família trabalha? Após vários anos de prosperidade. O caso mais emblemático foi do aposentado de 77 anos, que se suicidou na frente do Parlamento grego, em 4 de abril.
O surpreendente, diante desse quadro de desespero, é que há pouco tempo, os países com maior índice de suicídio no mundo eram desenvolvidos, como Japão, Rússia, Coreia do Sul, além de outros situados na Ásia oriental, com média de 20 a 25 suicídios por ano para cada 100 mil habitantes. No Brasil, a média anual de suicídios é considerada baixa, adequada aos padrões de países do mesmo nível socioeconômico: varia, dependendo da região, entre 6 a 10 suicídios por 100 mil habitantes.
O suicídio é atualmente uma das três principais causas de morte entre os jovens e adultos de 15 a 34 anos, embora a maioria dos casos aconteça entre pessoas de mais de 60 anos.
“Esta é a loucura desta crise: que as pessoas se matam porque não foram pagas por instituições públicas”, disse Massimo Nardin, porta-voz da Câmara de Comércio de Pádua, criticando o governo italiano que não paga suas dívidas com empresários em dificuldades.
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