bolsas_mergulhamBolsas caindo no mundo todo, principalmente nos países de economia mais forte. A perspectiva de nova recessão global, com o agravamento da crise sem precedentes na zona do euro, transformou a semana no pior momento da economia global, desde a crise de 2008, com o colapso do Lehman Brothers.

Não se salvou ninguém, da América Latina à Europa, passando pelos Estados Unidos. A Bovespa foi a bolsa que mais caiu no mundo, na quinta-feira negra (4): 5,72%. Na semana, o tombo foi de 10,2%, mostrando que os investidores da Bolsa brasileira fugiram da renda variável. O tamanho do estrago foi tão grande que a Bovespa perdeu num único dia o equivalente ao valor de mercado de um Bradesco. A quinta-feira foi “calamitosa”, nas palavras de um assessor de investimentos.

Depois da Grécia, com situação econômica ainda na UTI, da Irlanda e de Portugal também com economias instáveis, ajudou a agravar o cenário econômico a perspectiva de uma crise da dívida soberana na zona do euro, prestes a atingir a Itália, a terceira maior economia do bloco, e a Espanha. Os espanhóis amargam um desemprego da ordem de 21% da população economicamente ativa. A instabilidade econômica afetou também o cenário político da Espanha, que teve que antecipar as eleições por falta de apoio ao Primeiro-Ministro.

O dinheiro é o ativo mais covarde do mundo. O cenário mostra turbulência e os investidores fogem para abrigos mais seguros. Por isso, aplicações em renda variável, principalmente num cenário incerto como o atual, não é para amadores. O pequeno investidor, por ter pouca experiência, acaba sendo a principal vítima da crise.

Na quinta-feira (4), a saída das pessoas físicas, tanto da bolsa quanto dos investimentos ligados à renda variável, e apesar dos prejuízos que certamente amargaram, foi determinante para a forte queda do Ibovespa. Os especialistas em crise alertam ser esse o pior momento para mudar posições na carteira de ações, por causa das turbulências e da incerteza, devendo se evitar o pânico. Para os pequenos investidores, portanto, recomendam não ser a hora de mexer nos ativos. Esperar até a tempestade passar. O prejuízo será realizado se o investidor vender suas ações.

O efeito manada parece ter contaminado os mercados, principalmente porque o sentimento de pânico acaba afetando o humor dos aplicadores. A crise econômica tem um efeito perverso sobre toda a cadeia de negócios, gerando desemprego e insegurança nas empresas, que evitam contratações e novos investimentos, por causa da incerteza sobre o futuro.

O mais preocupante, segundo análise do jornal Valor Econômico, é que “as principais bolsas do mundo já estão 10% abaixo de seus picos recentes, uma indicação de mudança significativa de rumo. Vários sinais de perigo iminente que assombraram os mercados ao longo da semana confluíram ontem para compor um quadro assustador”.

“O medo de uma recessão – diz o Valor -, nutrido pela perda de fôlego da indústria nas principais economias do mundo, moveu as commodities para baixo e, com mais força, o petróleo, que teve a maior queda em cinco meses em Nova York, onde o barril do WTI foi cotado a US$ 86,83. As ações de mineradoras e dos grandes traders de commodities levaram uma surra, embora não tão forte quanto a dos bancos europeus, que estão no olho do furacão”.

No Brasil, embora o terremoto tenha abalado a Bolsa de Valores em proporções catastróficas e históricas, parece que a mídia estava mais preocupada com a queda do ministro da Defesa do que com a situação da economia. A importância da saída de Jobim para a economia significa zero, até porque a Defesa é um ministério com pouca influência ou importância para a política econômica. Os grandes jornais, com raras exceções, não trouxeram análises consistentes sobre a crise econômica global e os efeitos sobre o dia-a-dia do brasileiro. Análises centradas na macroeconomia são muito boas para analistas, grandes investidores e jornalistas econômicos. Passam batidas pelo leitor comum, até porque o cenário é tão conturbado que é difícil explicá-lo numa linguagem acessível.

A julgar pelas declarações do ministro da Fazenda, um eterno otimista, o Brasil continua navegando como se a tempestade passasse aqui meio a bombordo. O Brasil não tem como ignorar – e a Presidente Dilma tem se mostrado preocupada, como afirmam várias reportagens – que uma sacudida como essa na economia vai ter desdobramentos internos. Nós não conseguimos ficar imunes, apenas com isenção de IPI para estimular vendas. Mesmo as medidas tomadas para estimular o setor industrial, nesta semana, anunciadas com grande pompa pelo governo, foram consideradas por economistas mais isentos, como uma "colcha de retalhos", que não mexe com os problemas estruturais da indústria brasileira.

Na sexta, a notícia da criação de 117 mil vagas de emprego, no mês de julho, nos EUA, de certo modo amainou a catástrofe e acalmou o mercado. É incrível como esse número tão insignificante de vagas, para a dimensão da economia americana, fez o mundo dar um suspiro de alívio. Estamos muito mal, portanto.

Mas a contida euforia americana, não foi suficiente para segurar algumas bolsas européias, como a de Frankfurt que caiu 2,78%; Londres, menos 2,71%, Paris, 1,26% e Madrid 0,18%. O índice FTSEurofirst 300, que mede as principais ações da Europa, recuou 1,67%, para 976 pontos. É o menor nível em 13 meses. Na semana, a queda é de 9,8%, a maior variação desde outubro de 2008. O Ibovespa encerrou a semana subindo 0,26%, praticamente estável. Alinhado com o que acontecia nos Estados Unidos, com índice Dow Jones mantendo 0,54%.

Para complicar ainda mais o cenário de incerteza, na sexta-feira, a agência de análise de risco Standard & Poor's rebaixou o rating de crédito soberano de longo prazo dos Estados Unidos da América de AAA para AA+. O rating da dívida de curto prazo dos EUA foi mantido inalterado em A-1+. Tanto o rating de curto prazo como o de longo prazo foram retirados do CreditWatch negativo, no qual haviam sido colocados em 14 de julho; a perspectiva do rating de longo prazo, porém, permanece negativa.

Segundo o relatório distribuído à imprensa pela Standard & Poor's, "O rebaixamento reflete nossa opinião de que o plano de consolidação fiscal com que o Congresso e o governo concordaram recentemente fica aquém do que, em nossa visão seria necessário para estabilizar a dinâmica de médio da dívida. Mais amplamente, o rebaixamento reflete nossa visão de que a eficácia, a estabilidade e a previsibilidade das instituições políticas e formuladoras de políticas dos EUA enfraqueceram, num momento de desafios ficais e econômicos, a um grau que prevíamos quando atribuímos uma perspectiva negativa para o rating, em 18 de abril de 2011".

"Desde então, mudamos nossa visão das dificuldades para a superação das divergências entre os partidos políticos quanto à política fiscal, o que nos torna pessimistas quanto à capacidade do Congresso e do governo de alavancarem seu acordo, esta semana, para um plano de consolidação fiscal que estabilize a dinâmica da dívida do governo em algum momento próximo", prossegue o relatório.

A decisão da agência, criticada por autoridades americanas e causando um susto na China, o país com maior volume de títulos americanos, colocou mais pimenta no cenário de incerteza, que está longe do fim. Ou seja, o fim do mundo ainda não chegou. Mas as economias mais fortes do planeta continuam sem saber para onde correr.

Foto: Stan Honda/AFP/Getty Images

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