dsk_prostitutaHá pouco mais de um mês, o mundo das finanças foi abalado pela denúncia de uma camareira de luxuoso hotel de Nova York. Bastou uma investigação mais acurada da polícia e do FBI para descobrir que a acusação de estupro ao ex-todo poderoso diretor do FMI, Dominique Strauss-Kahn, tinha inconsistências.

As acusações da camareira, apoiada pelo hotel, causou arranhões difíceis de consertar na vida profissional e política do executivo. Ela está sob suspeita de ter ligações com um traficante, atualmente preso, e de lavagem de dinheiro. Constataram-se depósitos em seu nome, de pelo menos 100 mil dólares, em bancos diferentes. Além disso, gravação feita 28 horas após o suposto estupro, a flagrou afirmando ao ex-namorado: "Não se preocupe, esse cara tem muito dinheiro. Sei o que estou fazendo".

Com base nessas investigações, o promotor de Nova York liberou o ex-diretor da prisão domiciliar, determinou a devolução da fiança de um milhão de dólares, mais o depósito de garantia de cinco milhões de dólares, mas manteve, por enquanto, o andamento do processo por estupro. Ele também não pode, ainda, voltar à França, mas há grande probabilidade que, diante das evidências de que a acusação foi forjada, o processo seja arquivado.

Em maio, quando houve a acusação, 57% dos franceses acreditavam que o executivo fora vítima de um complô, para abalar seu favoritismo político. A mídia francesa mais conservadora também foi bastante comedida, na ocasião, condenando a forma como a polícia de Nova York expunha o acusado, com algemas, e o prendendo numa prisão de criminosos, sem levar em conta as alegações de inocência.

Como reparar

Ainda que as suspeitas sobre a vida pregressa da camareira – acusada de ser prostituta pelo jornal New York Post  venham a ser comprovadas, forjando um estupro que não houve, ou que a relação tenha sido consensual, o estrago na carreira política de Strauss-Kahn já foi feito. O partido socialista francês quebra a cabeça para encontrar outro candidato. A “ressurreição” de Strauss-Kahn dificilmente o levará à indicação. Mas é certo que seu apoio será decisivo para quem se candidatar a presidente.

Questiona-se agora, passado 40 dias do episódio, por que a polícia de Nova York levou tanto tempo para descobrir inconsistências no processo. A acusadora foi pega em várias contradições, alterando o depoimento sobre os fatos, logo após ser atacada. Ela também admitiu ter mentido no seu pedido de asilo, ao afirmar que foi estuprada por uma gangue na Guiné, alterado sua renda e dito que era mãe de dois filhos. Todas as informações teriam sido gravadas numa fita para ela decorar. Mesmo assim, o processo continuou. Ou seja, sua história na suíte teve crédito.

Os investigadores alegam que precisaram traduzir os telefonemas, porque foram gravados num dialeto da Guiné. E só após se cientificarem do conteúdo, puderam acionar a promotoria. Desde o início, e foi registrado aqui nesta página, no artigo De Strauss-Kahn a Schwarzenegger, a reputação abalada, que era supreendente um executivo bem sucedido, rico, prestes a sair candidato a presidente, escorregar de maneira tão estúpida. Havia também o passado nem tão ilibado de Strauss-Kahn, acusado de assédio por uma jornalista, que o está processando, e de ter-se envolvido, em 2008, com uma funcionária do FMI.

Tudo isso ajudou a mídia e a polícia de Nova York crucificar o executivo. De qualquer forma, o caso traz algumas lições para jornalistas, blogueiros e autoridades. Não convém embarcar com tanta rapidez na versão inicial, quando se trata de mexer com reputação de pessoas ou empresas. A pressa na avaliação e nos julgamentos causam um mal irreparável. Isso vale para nós todos que vivemos o dia-a-dia sob pressão das notícias, das novidades, principalmente pela instantaneidade das redes sociais.

Não há forma de reparar os arranhões na imagem do ex-diretor o FMI. Nem indenizações financeiras, até porque pouca diferença faria para quem é casado com uma milionária. O estrago político e talvez profissional está feito. Servirá quando muito para os franceses continuarem criticando a mídia e a polícia americana. Para nós, que vivemos de informações, uma séria reflexão sobre o processo de produção de notícias.

Camareira processa New York Post

A camareira que acusou Dominique Strauss-Kahn de tê-la estuprado vai processar o jornal New York Post por chamá-la de prostituta, em manchete no último sábado, dia 3. O jornal estampou a manchete "Camareira de DSK é prostituta", com base em uma fonte anônima, ligada aos investigadores.

O artigo informava que a camareira "tinha uma vida dupla, como prostituta, fazendo programas com hóspedes do hotel". A informação contundente baseava-se numa fonte próxima aos investigadores do caso. Mas analistas, embora reconhecendo ser difícil a camareira lograr êxito numa ação desse tipo, consideram uma ousadia e risco do jornal estampar essa manchete, com fontes anônimas. Somente seria viável,  no caso de o editor ou o repórter ter provas pessoais, ou uma confissão,  de que ela realmente é uma prostituta. Ou seja, a novela Strauss-Kahn ainda parece longe de terminar.  

 

 

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