O Brasil contrariou uma tendência mundial em 2010. A circulação de jornais cresceu 1,5% em relação ao ano anterior. A maior alta foi do jornal O Estado de S. Paulo, que cresceu 9%, com média de 236 mil exemplares. Mas a notícia mais surpreendente dos dados do IVC (Indice Verificador de Circulação) é a liderança do jornal Super Notícia, de Belo Horizonte. Com média anual de 296 mil exemplares em dezembro, superou a Folha de S. Paulo, até então o líder no segmento.
A Folha de S. Paulo ficou com média de 294 mil exemplares em 2010. O Globo foi o terceiro (262 mil exemplares). Outro jornal do Rio, Extra, ocupou o 4º lugar (238 mil exemplares). Por estado, entre os dez primeiros no ranking nacional de circulação, considerando apenas os grandes jornais, o Rio lidera, com 753 mil (quatro jornais); São Paulo ficou em segundo, com 530 mil (dois jornais), seguido do Rio G. do Sul (três jornais), com 493 mil exemplares, em média.
É bom esclarecer que o crescimento dos jornais chamados “populares”, como o Super Notícia, é um fenômeno muito peculiar no Brasil, pelo crescimento da renda das classes C e D. É de notar que o preço dos jornais populares (R$ 0,50 em média) faz a grande diferença para a elevada tiragem em relação aos chamados jornalões (Folha, Globo, Estado). Sob qualquer aspecto que se analise, a assinatura e venda avulsa de jornais no Brasil é cara. Por isso, a estagnação no número de assinantes, nos últimos anos.
Além disso, existe hoje muita facilidade para encontrar informação de forma gratuita, na internet. Mesmo que os grandes jornais não permitam acesso grátis às páginas on-line, inúmeros blogs reproduzem notícias da grande imprensa. Sempre haverá uma forma de obter informações no Google. É por isso que o magnata da imprensa, Rupert Murdoch, questiona o Google, ao não admitir que o gigante de buscas mundial ofereça de graça informações jornalísticas que implicam alto investimento para serem produzidas. É um tema polêmico e ainda não pacificado entre os grandes produtores de mídia.
Mídia impressa em queda
Fora do Brasil, o mercado não está com essa bola toda, principalmente nos países desenvolvidos. Há uma tendência de queda na circulação da mídia impressa. Na Inglaterra, a circulação de todos os jornais caíram entre novembro e dezembro de 2010, sendo os índices mais acentuados nos três principais jornais The Times (menos 14,01%), The Guardian (menos 11,89%) e Daily Telegraph (menos 10,23%). E não foi só a crise econômica que teve influência nessa queda.
Mesmo os jornais considerados “populares”, na Inglaterra, sofrem com a queda na circulação. O Evening Post, cancelou a edição paga e passou a ser distribuído gratuitamente, no metrô de Londres. É uma estratégia arriscada. Até porque a empresa Metro, que possui vários títulos de jornais gratuitos no mundo, resolveu suspender uma das edições diárias, distribuídas no metrô de Londres. Hoje só distribui uma única edição, pela manhã.
No ano passado, cálculos da OCDE diziam que, entre 2007 e 2010, a Inglaterra teve a mais acentuado declínio na circulação de jornais, com cerca de 25%, só perdendo para o desempenho dos jornais americanos, que caíram 30%. O crescimento do mercado global de jornais caiu progressivamente desde 2004, em contraposição à circulação on-line que tem crescido, embora em números muito pequenos para animar a indústria jornalística. Ele não acompanha o crescimento do tráfego na internet.
Cai lucro publicitário dos jornais americanos
Dados da Associação de Jornais dos EUA mostram que editoras de jornais e revistas, em todo o país, sofreram queda da receita publicitária, ao longo dos últimos anos, por conta da recessão e da competição com a web. Os últimos números marcam 15 trimestres consecutivos – quase quatro anos – de declínio. Uma boa notícia: a queda é a menor desde que a recessão começou, no fim de 2007. No ano passado, foram registrados declínios de 29%.
Se a circulação dos jornais americanos continua caindo e a receita publicitária não cresce, para garantir um futuro para os jornais, as empresas buscam alternativas, sem saber ao certo qual o caminho melhor. O New York Times já anunciou que começará a cobrar por conteúdo on-line em 2010. Segue o exemplo do The Wall Street Journal e do Times, de Londres, este cobrando pelo acesso, desde junho de 2010. A expectativa é quanto ao impacto da cobrança no número de acessos às páginas do NYT.
Os 10 milhões de page views mensais do Times, após a cobrança caíram para três milhões e o número de pagantes ainda está em torno de 120 mil. Ou seja, cobrar, para jornais que acostumaram a audiência ao acesso gratuito, é um tiro no escuro. Pode dar certo, manter um faturamento equilibrado. Mas também pode ser uma forma de afastar leitores e, com isso, levar de roldão os anunciantes. É quase uma escolha de Sofia.