reputacao_e_imagemA recente polêmica envolvendo o Secretário Nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior, suscita uma reflexão sobre a importância da reputação na trajetória de pessoas e de organizações. De autoridades públicas, o mínimo que se exige é ter a reputação ilibada. Principalmente aqueles que desempenham cargos de extrema confiança, porque lidam com áreas sensíveis, como, por exemplo, as de saúde, segurança, justiça, entre tantas outras.

Apenas para lembrar, o Secretário Nacional de Justiça foi apanhado em grampos da Polícia Federal. As conversas gravadas, que apuravam um outro caso, trouxeram a público conversas pouco adequadas para uma autoridade do ministério da Justiça, principalmente pelas relações promíscuas que vazaram das conversas. O grampo mostra o secretário, presidente do Conselho Nacional de Combate à Pirataria, tentando comprar videogame oriundo de comércio ilegal.

O pivô das conversas grampeadas é o chinês conhecido com Paulo Li, que seria o chefe de uma quadrilha investigada pela Polícia Federal. Os telefonemas mostram uma intimidade muito suspeita entre o secretário e o contrabandista, acusado de importar celulares baratos, falsificá-los no Brasil e vendê-los como autênticos.  Também foi divulgada pela imprensa cópia de cartão de visita que o contrabandista utilizou em recente viagem à China, acompanhado de quem? Do Secretário Nacional de Justiça. O cartão o apresentava como “Assessor Especial” da Secretaria Nacional de Justiça. Bota “especial” nisso. Ninguém conseguiu explicar o acompanhante e o cartão. Só há uma verdade nessa história: ele nunca foi funcionário da Secretaria.

O pior nessas horas não são apenas as relações pouco republicanas do secretário com um chinês mais do que enrolado. São as pífias explicações das autoridades. O pai do secretário, Senador Romeu Tuma, o defendeu e achou muito natural a amizade do Secretário Nacional de Justiça com contrabandista acusado de vários crimes. Quando questionado, perguntou à imprensa se o filho não tinha o direito de ter suas amizades, independentemente da ficha dos amigos. Pode até ter, mas fora do governo. Não há autoridade em cargo de confiança que resista à intimidade telefônica mostrada nas gravações do secretário. As interferências são no mínimo estranhas.

Tuma Júnior se diz vítima de extorsão política. Admite conhecer Paulo Li, suspeito de comandar a máfia chinesa em São Paulo, há mais de 25 anos. Ninguém pode ser condenado por ter um amigo que cometeu algo ilícito, disse. Do jeito que estão dizendo, parece que eu andava com ele debaixo do braço, promiscuamente.

Mas não ficou no pai. O próprio presidente da República saiu em defesa do secretário no primeiro dia da denúncia, afirmando que não havia nada contra o secretário de Justiça e, se culpado, ele seria afastado. Ora, isso é óbvio. Também, segundo publicado, Lula só nomeou o filho do Senador, em apreço ao político. Tuma, o pai, teria sido magnânimo com o presidente, quando este esteve preso na época da ditadura. Ou seja, foi uma ação entre amigos. Daí se vê o quanto é “pesado” para o governo e complicado nomear para cargos públicos da importância de uma Secretaria Nacional de Justiça alguém que ostenta a credencial de ser filho do Senador.  Não é só ele. Existem outros. O filho do Senador Edson Lobão aboletou-se também no cargo de presidente de uma das empresas do Conglomerado Banco do Brasil, a Brasilcap, há pelo menos três anos. A intimidade dele com o tema  “capitalização” é a mesma de Chávez com a democracia.

Ao flagrar conversas pouco recomendáveis de uma autoridade pública, o que está em jogo é a reputação de alguém que desempenha cargo de absoluta confiança do governo. A reputação é construída ao longo do tempo. Reputação é a maneira como pessoas ou organizações são percebidas pelo público e pelas organizações. É um ativo intangível. Uma vez arranhada, custa a ser reconstruída. Acusações como as que estão ocorrendo no ministério da Justiça, sem explicação convincente, atingem em cheio a reputação dos envolvidos e do governo. Por mais explicações do governo ou pruridos da Polícia Federal, de que o secretário não era o alvo das investigações, nesse caso os fatos, ou as gravações, falam por si.

Sabemos que reputação não é construída da noite para o dia. O Secretário Nacional de Justiça estava tentando consolidar uma imagem pessoal, muito mais escudada no sobrenome, do que no seu curriculum. Mas não chegou a construir uma reputação, pelo pouco tempo que permaneceu na secretaria.

“A transição da imagem para a reputação de uma organização exige um processo mais demorado, construído com maior intensidade e muitas vezes requer conhecimento mais aprofundado das ações, posturas, produtos e serviços desta organização ou mesmo experiências concretas de relacionamento com ela. Podemos dizer que a maioria das organizações tem uma ou mais imagens mas que boa parte delas não chega a adquirir uma reputação”, diz artigo publicado no site Auditoria de Imagem.

Reputação é um ativo intangível tão importante que as empresas de risco tiveram que incorporá-lo na lista de itens a serem avaliados nas auditorias. E 67% dos executivos europeus, em recente pesquisa, afirmaram ter medo de problemas que possam afetar a reputação pessoal ou empresarial.

Este o agravante da permanência do secretário no governo, após ter sido acusado de ter relações comerciais e de amizade com alguém que, apesar de amigo, tem a vida comprometida com interesses que deveriam passar bem longe de qualquer detentor de cargo público. Por tabela, ao segurar o secretário no cargo, a imagem do Planalto também fica abalada. O desgaste do funcionário acaba repercutindo no governo. Uma semana depois de manter a crise na mídia, com versões e evasivas, o governo, ao saber que a PF iria solicitar ao Judiciário autorização para abrir uma investigação contra o secretário, o “convidou” a se afastar. Relutante, ele concordou em tirar férias e disse que aproveitará para construir sua defesa e pegar um “bronzeado”. Isso se ainda existir vaga para ele.

Foto: Howard Sochurek/Corbis

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