Haiti_crianca_feridaSe 2009 prometia ser o ano da crise econômica, no Brasil pelo menos isso não aconteceu. O governo acabou se saindo bem e não precisou de grandes malabarismos para contornar a crise que se abateu sobre a economia dos países mais desenvolvidos.

Mas 2010 começou quente. Após as polêmicas sobre o texto do Programa Nacional dos Direitos Humanos e a compra de aviões caça pela FAB, nem bem o governo respirava na primeira semana, estourou a tragédia no Haiti. E o que tem o Brasil a ver com tudo isso? O Brasil optou por ser o fiador da estabilidade e segurança no Haiti, enviando tropas e investindo recursos no mais pobre país da América.  

Antes, na passagem de ano, tragédias provocadas pelas chuvas no Rio de Janeiro, Rio G. do Sul e outros estados colocaram à prova a capacidade do governo de mobilizar rapidamente recursos e socorro às vítimas. Apesar de ser um crise anunciada, repetiram-se nesse verão os erros e omissões tanto dos governos federal e estadual, quanto dos órgãos fiscalizadores. Ouviu-se muito discurso, mas nada que assegure não termos um repeteco desse drama no próximo fim de ano.

O terremoto, que se abateu sobre o Haiti, atingiu o Brasil não apenas em perdas humanas, entre elas a de uma personalidade internacional, a coordenadora da Pastoral da Criança, Dra. Zilda Arns. Mas vai exigir mais gastos e um aprofundamento do apoio que o país dá àquela república caribenha. Não há como voltar atrás agora, até porque a própria ONU, cujos trabalhos o Brasil coordenava, foi atingida em cheio pela tragédia, perdendo funcionários e instalações. Se a missão do Brasil, em situação normal era difícil, agora se tornou dramática.

Por isso, na primeira quinzena de 2010, o governo brasileiro está sendo testado em todas as frentes: políticas, econômicas e diplomáticas. O Exército brasileiro enfrenta também um crise de proporções, porque perdeu, até as últimas informações, 14 militares, além de desaparecidos e feridos. Nas tragédias e acontecimentos surpreendentes, como é o caso de terremotos, é possível testar a capacidade de governos e organizações para enfrentar crises de imagem.  O Itamaraty também montou gabinete de crise para poder gerenciar os inúmeros problemas que o terremoto no Haiti acabou gerando. Ao envolver outros ministérios, a crise tomou uma outra dimensão.  

Ou seja, em ano de eleição e de profundas definições políticas, o governo em menos de duas semanas se vê às voltas com crises que testam a capacidade de mobilização, a rapidez na tomada de decisões e o discernimento político para saber o que é mais importante e quando deve ser feito. Um teste pra ninguém botar defeito.


Governo acerta redação para amenizar conflito

O Governo federal amenizou a crise com os militares, ao aceitar as argumentações do ministro da Defesa. Modificou o texto do Programa Nacional dos Direitos Humanos no que se refere à revisão dos abusos cometidos durante a ditadura militar. O texto atual dá margem a que também crimes cometidos pelos dissidentes possam ser apurados, não apenas os dos militares.

De qualquer forma, a polêmica sobre o conteúdo do PNDH mais parece diálogo de surdos, até porque cada ponto polêmico do texto deverá passar pelo Congresso Nacional e terá uma longa batalha de discussões para ser aprovado. Certamente a bancada ruralista não aceitará pacificamente os cacos colocados na atual versão do PNDH e nem as associações de classe na área da comunicação engolirão as restrições à liberdade de imprensa embutidas nas entrelinhas do Programa.

O governo se fez de surdo quanto às polêmicas sobre o agronegócio e os meios de comunicação, que também provocaram críticas. Governo e críticos sabem que esse texto é apenas uma forma de a SEDH satisfazer demandas dos grupos mais radicais, o que inclui o MST, homossexuais e outras minorias.  A pressa do governo de resolver a crise com os militares foi apenas para tirar da pauta esse indigesto documento, que ameaçava contaminar a Casa Civil. É o que menos o governo quer.

A última versão do PNDH, embora tenha o mérito de trazer para a discussão da opinião pública temas controversos, como revisão da anistia, aborto, licenciamento ambiental, reforma agrária, é mais uma polêmica que terá extrema dificuldade de ir pra frente, num ano eleitoral. Os militares também não têm nada a comemorar. A vitória de Pirro conseguida com a modificação proposta pelo ministro da Defesa, não encerra a discussão sobre a punição aos torturadores e a validade da Lei da Anistia. Esse é um tema indigesto que, queiram ou não os militares, vez ou outra voltará à tona. O governo resolveu mais uma vez varrer o problema para baixo do tapete. Mas um dia, alguém mais corajoso levantará esse tapete.

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