O Brasil é um país realmente incrível. Quando todo mundo deveria aplaudir a diretoria da Infraero por tomar uma atitude que demorou muito tempo para ser tomada, os padrinhos dos apadrinhados fazem muxoxo e vão chorar suas mágoas no Planalto.
Deveriam ser corridos de lá. Afinal, o governo do PT, que tanto pregou a ética no passado, não deveria nem recebê-los.
Por trás do apagão aéreo e de outros problemas que ocorreram no sistema aéreo brasileiro nos últimos tempos, além da apressada criação da Anac, certamente está o aparelhamento da Infraero. E nesse contexto, a contratação de centenas de apadrinhados, no jargão interno chamados jabutis, representou um atraso na modernização da empresa, ônus na folha de pagamento e até entrave profissional, porque impediu o aproveitamento de quadros da empresa nesses últimos anos. Os milhões gastos com essa turma poderiam ter sido aplicados na melhoria da infra-estrutura aeroportuária.
A decisão de sanear a empresa deveria ser aplaudida pelo governo. Os líderes partidários não têm nenhum pudor de reclamar de demissões de parentes, que ganhavam altos salários, a maioria deles apenas como figurantes de uma empresa eminentemente técnica. Até porque não há registro de qualquer contribuição desse contingente para melhoria da Infraero. Com as costas quentes, muitos nem compareciam ao trabalho. O único destaque de seus currículos é o parentesco ou amizade com alguma autoridade pública.
Lamentavelmente, todo o trabalho de enxugamento e modernização da empresa, realizado até 2002, foi por água abaixo nesses últimos anos. Inchada por tantos contratos especiais, a sede da empresa em Brasília teve que ampliar suas instalações, o que implicou mais gastos. Com pouco mais de 400 empregados na época, o número de servidores em funções gratificadas na direção da empresa chegou a quase mil nos últimos anos.
O recuo do governo nesse caso, seria, conforme declaração atribuída ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, uma completa desmoralização do governo. Ou seja, o prenúncio de uma crise. Recuar nas medidas, apoiadas até mesmo pelo sindicato da categoria, causaria uma desmobilização e afetaria a motivação do quadro de empregados, significando um retrocesso em momento tão importante para a empresa. A economia de cerca de R$ 20 milhões, anunciada com as demissões, é apenas a ponta do iceberg. Certamente o custo indireto desses empregados com altas gratificações, considerando os penduricalhos como celular, diárias de viagens, vale alimentação, assistência médica, etc. ultrapassa em muito esse valor.
Num momento em que o governo pede eficiência da máquina administrativa e vive fazendo cursos sobre produtividade e qualidade para o servidor público, seria um contrassenso recuar num processo de moralização da máquina pública. A pressão dos aliados políticos tem feito o governo Lula cometer vários erros. Só que este caso é emblemático de como existia um leilão de cargos, com a conivência do governo, em área extremamente delicada para a segurança do transporte de milhões de pessoas. Aqui não dá mais para errar.
Como o governo parece não gostar de viver sem crise, não é de admirar que a diretoria da Infraero leve um pito porque fez o dever de casa e tirou nota muita alta numa escola em que as estatais vivem tirando nota baixa por tantas denúncias de favorecimentos. Quem sabe a recomendação de sanear a empresa era para valer, desde que não mexesse nos interesses patrimonialistas de parentes e afilhados de políticos e outras autoridades, que lotearam a empresa, desde 2003, dividindo os aeroportos por facções partidárias. Nunca é tarde para consertar o estrago dos últimos sete anos. Basta o governo não ficar com dó dos desempregados de luxo e de seus padrinhos. E apenas se preocupar com quem perdeu o emprego por todo o Brasil com a crise econômica. Ou ficou sem casa nas enchentes do Nordeste.