bagagens_em_HeathrowSe servir de consolo, pelo menos não estamos sozinhos. A crise no transporte aéreo, que incomodou por quase um ano os brasileiros, não é privilégio nosso. As autoridades britânicas e os passageiros estão enfrentando há bastante tempo uma crise que envolve a BAA – empresa privada que administra sete grandes aeroportos na Inglaterra e a British Airways, maior empresa de aviação britânica.



A crise se agravou a partir de agosto de 2006, quando as autoridades inglesas descobriram um plano terrorista para explodir aviões que partissem da Grã-Bretanha com destino aos Estados Unidos. Com o aperto das medidas de segurança, os passageiros só poderiam transportar uma única bagagem de mão, o que aumentou o volume de despachos de porão, houve restrições ao transporte de líquidos e maior rigor na identificação dos passageiros. Tudo isso somado, tumultuou exatamente o período de férias europeu.

Na época, cerca de 10 mil malas da British Airways foram extraviadas na primeira semana de alerta nos aeroportos britânicos, o que obrigou a empresa aérea a montar um esquema especial de entrega via rodoviária para os passageiros.   

Os problemas da BAA decorrem da forma como foi privatizada. Adquirida pelo grupo espanhol Ferrovial, em 2006, por 10,3 bilhões de libras, até hoje não decolaram os grandes investimentos previstos para tentar resolver o caótico transporte aéreo britânico, especialmente no congestionado aeroporto de Heathrow, a jóia da coroa do sistema aéreo londrino. Na época foi anunciada a construção de um sexto Terminal de passageiros e uma terceira pista. Essas duas medidas permitiriam aumentar a capacidade do aeroporto de 480 mil para até 700 mil operações anuais, elevando o tráfego de passageiros de 68,5 milhões para 125 milhões ao ano. Para se ter uma dimensão, o movimento anual de todos os aeroportos brasileiros atinge 90 milhões de passageiros. Tais propostas contam com o apoio do governo britânico, embora exijam investimentos colossais a serem analisados no âmbito do marco regulatório estabelecido pela CAA, a Comissão reguladora do transporte aéreo britânico.

O aeroporto de Heathrow se encontra atualmente com uma taxa de ocupação próxima de sua capacidade máxima. Os especialistas em aviação admitem que os aeroportos londrinos não poderão atender às demandas dos passageiros e das companhias aéreas se a BAA não fizer esses investimentos. Recorde-se que Heatrhrow é um dos únicos hubs (aeroportos centralizadores) de Londres e está operando com 99% de sua capacidade. E Londres será a sede da Olimpíada de 2012.

A polêmica sobre a expansão de Heathrow, principalmente a construção da terceira pista, envolve não apenas o governo britânico, mas a comunidade e os ambientalistas que vêem com restrições a possibilidade de aumentar a circulação de aviões em região densamente povoada.

No meio do caos, a British Airways joga para cima da autoridade aeroportuária muitos dos problemas que afetaram a empresa no último ano, inclusive o caos ocorrido com a perda de bagagens. Enquanto os passageiros fogem para aeroportos menores, como Lutton e Stansted, a BAA procura alternativas para contornar a crise que se tornou crônica, a ponto de o aeroporto londrino ter sido apontado como o pior do mundo em pesquisa realizada em 2006 pela Tripadvisor.Em fevereiro último teve o maior número de vôos atrasados na Europa, com um terço deles sofrendo problemas, a ponto do jornal londrino perguntar Como se livrar do inferno de Heathrow?

Passados quase dois anos da venda da BAA para o grupo espanhol, o que se viu neste inverno foi a repetição do que tem acontecido quase todos os dias no mais movimentado aeroporto da Europa: filas, apertos, atraso na entrega e perda de bagagens. O sisudo jornal londrino The Times diz que o caos tornou-se uma especialidade da BAA nos anos recentes.

Como, segundo o ex-guru da GE, Jack Welch, não existe crise sem sangue, no final de fevereiro caiu o presidente da BAA Stephen Nelson. Sai depois de dois anos de confusão e criticado pelos fracos serviços oferecidos aos passageiros e o estado deplorável dos terminais administrados pela empresa.  Para não ser diferente do Brasil, as empresas aéreas acusam a BAA de favorecer a ampliação com lojas e restaurantes em lugar de privilegiar espaços para tornar o aeroporto e a experiência de viajar mais confortável e agradável  para os passageiros.

Não bastassem as críticas quanto à capacidade gerencial do executivo, a imprensa denuncia que na demissão ele levou um “prêmio” de um milhão de Libras (US$ 2 milhões) de indenização.  Enquanto aguarda a posse do novo presidente, o vice, Colin Matthews, que assumiu a presidência, se prepara para entregar em março o 5º Terminal do Aeroporto de Heathrow, o mais importante projeto dos últimos 20 anos no setor. Com isso, ele espera resolver pelo menos em parte os problemas que derrubaram seu colega.

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