A morte do Papa emérito Bento XVI, nesta manhã, em Roma, encerra um capítulo conturbado da Igreja Católica, em quase mil anos. O erudito e conservador Cardeal Joseph Ratzinger foi o primeiro líder do catolicismo a renunciar em quase 700 anos. Ele nunca quis ser Papa, como confessou algumas vezes de forma velada. Era um estudioso profundo da doutrina religiosa e queria mais era concluir sua vida recolhido, escrevendo e estudando. Seu pontificado de quase oito anos foi marcado por crises, sob pressão de mudanças na Igreja e denúncias de pedofilia em vários países.
Em junho de 2012, Bento XVI deu uma entrevista à revista alemã "Der Spiegel". Nessa entrevista, o então Papa abriu seu coração e revelou não só confidências sobre sua vida, como não conseguiu esconder as pressões que sofria da poderosa e tradicional Cúria Romana, um estamento religioso que controla os bastidores da Igreja com mão de ferro, não permitindo avanços, como liberar os casais divorciados, para receberem os sacramentos, mais condescendência aos homossexuais e punição rigorosa aos religiosos acusados de pedofilia. Nessa entrevista, o Papa não conseguia esconder seu descontentamento e dava sinais – que os vaticanistas perceberam - de que poderia renunciar.
No dia 11 de fevereiro de 2013, oito meses após essa entrevista, o Papa Bento XVI surpreendeu o mundo e, principalmente os católicos, anunciando sua renúncia. A notícia foi tão surpreendente que algumas agências de notícias demoraram a acreditar e publicá-la.
Dos 265 papas da história, contando Bento XVI, 10 papas deixaram o pontificado antes de morrer. Antes de Joseph Ratzinger, último papa a renunciar foi Gregório VII, no ano de 1415.
Vale a pena, agora que o culto cardeal faleceu, após quase dez anos recolhido a um convento no Vaticano, reler a entrevista em que ele abre o coração para o jornalista alemão, como nunca havia feito.
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