Não há dúvidas de que uma vida com objetivos bem definidos, metas, propósitos faz bem à saúde mental e física. Isso qualquer médico, psicólogo ou especialista em saúde vive recomendando. Sabemos que aposentados e idosos que não têm objetivo muito definido de vida, não programaram a saída da vida útil e profissional têm muita dificuldade de se adaptar à nova situação e manter uma qualidade de vida. Algumas empresas oferecem cursos para os empregados que vão se aposentar.
Em situações de crise como a que vivenciamos nos últimos dois anos e meio, com a pandemia e, no caso do Brasil, conjugada com uma crise política e econômica que levou milhões de famílias a perderem empregos e renda, além da queda no padrão de vida, esse fenômeno se intensificou. Os índices de depressão e suicídio aumentaram, porque se tornou muito difícil alimentar propósitos de vida no meio de uma crise sanitária, política e econômica, como vivenciamos.
E os dirigentes das empresas, como enfrentaram esse período difícil? Algumas organizações, desde o início da pandemia, foram bastante transparentes e respeitosas com os empregados, o que certamente amenizou as consequências da crise. Para citar duas, a Airbnb e o grupo Marriot, liderados pelos respectivos CEOs , foram exemplo de como enfrentar uma crise sem criar pânico nos empregados.
A McKinsey publicou um artigo (1), nesse período, sobre a importância de manter ativo o propósito e os objetivos em tempos de crise, como forma não apenas de melhorar o desempenho profissional, mas preservar a saúde e o bem-estar de todas as pessoas da organização. “Nesses tempos estressantes e surreais, é compreensível que os CEOs se fixem em prioridades corporativas urgentes em detrimento de considerações pessoais mais intangíveis. Quão importante é fazer com que seu pessoal pense em seu “propósito na vida” agora quando você está preocupado com o bem-estar deles – sem mencionar a sobrevivência corporativa?”
“É mais importante do que você pensa”, diz o artigo. “Em tempos de crise, o propósito individual pode ser um guia que ajuda as pessoas a enfrentar as incertezas e navegar melhor por elas e, assim, mitigar os efeitos prejudiciais do estresse de longo prazo. As pessoas que têm um forte senso de propósito tendem a ser mais resilientes e apresentam melhor recuperação de eventos negativos.
“De fato, nossa pesquisa realizada durante a pandemia descobriu que, ao comparar pessoas que dizem estar “vivendo seu propósito” no trabalho com aqueles que não sentem isso, os primeiros relatam níveis de bem-estar cinco vezes maiores do que os segundos. Além disso, aqueles no primeiro grupo são quatro vezes mais propensos a relatar níveis mais altos de engajamento.”
Propósito e saúde
Segundo a publicação da McKinsey, “pessoas com propósito também vivem vidas mais longas e saudáveis. Um estudo longitudinal descobriu que um único aumento de desvio padrão no propósito diminuiu o risco de morrer na próxima década em 15% – uma descoberta que se manteve independentemente da idade em que as pessoas identificaram seu propósito. Da mesma forma, o projeto Rush Memory and Aging, que começou em 1997, descobriu que, ao comparar pacientes que dizem ter um senso de propósito com aqueles que dizem que não, os primeiros são:
2,5 vezes mais chances de estar livre de demência;
22% menos propensos a apresentar fatores de risco para acidente vascular cerebral;
52% menos probabilidade de ter sofrido um acidente vascular cerebral.”
“E se isso não bastasse, o propósito individual também beneficia as organizações. O propósito pode ser um importante contribuinte para a experiência do funcionário, que por sua vez está ligada a níveis mais altos de envolvimento do funcionário, maior comprometimento organizacional e aumento da sensação de bem-estar. As pessoas que consideram seu propósito individual congruente com seus trabalhos tendem a obter mais significado de suas funções, tornando-as mais produtivas e mais propensas a superar seus pares.”
Os CEOs e demais executivos das empresas têm uma grande responsabilidade por manter o clima organizacional sempre em alta, estimulando os empregados a trabalhar motivados, principalmente quanto à realização pessoal que não se restringe apenas ao dia a dia do trabalho, mas também à contínua formação profissional e acadêmica. Muitas empresas concedem auxílio financeiro aos empregados que desejam estudar e melhorar o nível de conhecimento. Fator que acaba revertendo em benefício do desempenho da própria empresa.
Segundo o artigo da McKinsey, “o propósito pode ser um importante contribuinte para a experiência do funcionário, que por sua vez está ligada a níveis mais altos de envolvimento dele nos objetivos da empresa, com maior comprometimento organizacional e aumento da sensação de bem-estar."
Ainda que o artigo citado tenha sido publicado num cenário bastante negativo da pandemia, vale lembrar que “os CEOs e outros executivos seniores devem prestar mais atenção ao propósito individual à medida que as empresas retornam às operações e começam a sentir o caminho para as fases subsequentes do “próximo normal”.
“Em tempos de crise, líderes eficazes são fontes importantes de confiança, estabilidade, significado e resiliência. Eles também desempenham um papel vital de um “senso de sentido” para aqueles ao seu redor”, conclui a publicação.
(1) Autores: Naina Dhingra, Jonathan Emmett Andrew Samo e Bill Schaninger
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Igniting individual purpose in times of crisis