Por que os lideres mentem livroEncontramos um mundo enredado em um ciclo vicioso de desconfiança, alimentado por uma crescente falta de fé na mídia e no governo. Através da desinformação e da divisão, essas duas instituições estão alimentando o ciclo e explorando-o para ganhos comerciais e políticos.

Essa conclusão emana da apresentação, assinada pelo CEO da Edelman PR, Richard Edelman, feita no relatório da pesquisa Edelman Barometer Trust, o índice de confiança das instituições, apresentado anualmente pela empresa. A enquete foi realizada no fim de 2021, em 28 países, com 36 mil respondentes. “Se não forem controladas, as quatro forças a seguir, evidentes no Edelman Trust Barometer de 2022, irão minar as instituições e desestabilizar ainda mais a sociedade” diz Edelman.

“O mundo não está conseguindo enfrentar os desafios sem precedentes do nosso tempo porque está preso em um ciclo vicioso de desconfiança. Quatro forças interligadas impulsionam este ciclo, frustrando o progresso nas mudanças climáticas, gestão global de pandemia, racismo e tensões crescentes entre a China e os EUA.”

1. Espiral de desconfiança da mídia governamental.

“Duas instituições nas quais as pessoas confiam para a verdade estão fazendo um perigoso tango de vantagem mútua de curto prazo, com exagero e divisão para ganhar cliques e votos”, diz o relatório da pesquisa.

2. Dependência excessiva dos negócios

“O fracasso do governo criou uma dependência excessiva das empresas para preencher o vazio, um trabalho que a iniciativa privada não foi projetada para entregar e não conseguiu, principalmente porque nos últimos dois anos enfrentou provavelmente a maior crise num nível global desde a II Guerra Mundial, de 1939 a 1945. Sem falar no tropeço de 2008, que afetou todas as indústrias.

3. Divisão de classe em massa

“A pandemia global ampliou a fissura que surgiu após a Grande Recessão. Pessoas de alta renda passaram a confiar mais nas instituições, enquanto as de baixa renda continuam cautelosas.”

4. Falha de liderança

“Líderes sociais clássicos no governo, na mídia e nos negócios foram desacreditados. A confiança, antes hierárquica, tornou-se local e dispersa à medida que as pessoas confiam em meu empregador, meus colegas, minha família. Coincidindo com essa reviravolta está um colapso da confiança nas democracias e um aumento de confiança nas autocracias.”

A falta de um líder realmente foi marcante nos últimos anos. Esse “gap’ na história moderna permitiu que líderes fracos, como foi David Cameron, no Reino Unido e Donald Trump, nos Estados Unidos, apenas para dar dois exemplos, se transformassem em aventureiros que vislumbraram entrar para a História por portas estreitas e equivocadas. Cameron idealizou o plebiscito do Brexit (a saída do Reino Unido da União Europeia) para amenizar a pressão que sofria. Deu errado, porque os grupos mais radicais e xenófobos acabaram fazendo uma campanha mais assertiva e o resultado todos sabem: deu no que deu. A Inglaterra fora da União Europeia e tendo que enfrentar sozinha os problemas que vieram depois. Muitos dos quais o país ainda não conseguiu superar.

Nos Estados Unidos, a gestão errática, divisionista e radical de Donad Trump, em eterna briga com a imprensa, sob o argumento da “America first”, também fracassou, principalmente porque ele não soube capitalizar a pandemia, quando errou em ficar do lado errado. A pandemia, junto com a repressão aos negros, acabaram tirando Trump de uma eleição praticamente ganha, para regozijo do resto do mundo. Continuou o mundo sem um grande nome que consiga agregar força política, carisma e trânsito internacional.

"Líderes sociais clássicos no governo, na mídia e nos negócios foram desacreditados. A confiança, uma vez hierárquica, tornou-se local e dispersa à medida que as pessoas confiam mesmo  no “meu empregador”, nos “meus colegas”, na “minha família”. Coincidindo com essa reviravolta está um colapso da confiança nas democracias e um aumento da confiança nas autocracias."

“O modelo de negócios da mídia tornou-se dependente de gerar indignação partidária, enquanto o modelo político tornou-se dependente de explorá-lo. Quaisquer que sejam os benefícios de curto prazo que qualquer instituição obtenha, é uma catástrofe de longo prazo para a sociedade. A desconfiança é agora a emoção padrão da sociedade, com quase 60% inclinados a desconfiar.”

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