Jornalistas e publicitários de várias áreas responderam ao Blog da Juliska* quais foram os fatos mais marcantes da Comunicação em 2021. Ao mesmo tempo, a jornalista perguntou a diversos profissionais da área, “observando as tendências, o que se espera para a comunicação em 2022?"
O resultado é um rico e vasto apanhado de percepções sobre as mais diversas áreas da comunicação. A mudança da audiência, a necessidade de propagar conteúdo, a força do digital, os desafios da pandemia, os caminhos do jornalismo, estão entre os pontos destacados. Cada convidado com sua visão, mas todas complementares. Enfim, um rico conteúdo para se ler, analisar e conferir no ano que se inicia, quando os desafios serão bem maiores em função de um cenário que aponta uma volta, ainda que lenta e cautelosa, das principais atividades que por dois anos estiveram num ritmo tolhido pela pandemia.
João José Forni - jornalista, professor e consultor de comunicação. Autor do livro “Gestão de Crises e Comunicação”:
“A comunicação se afirmou em 2021 como a âncora em que a sociedade e a ciência se apoiaram para vencer o desafio da pandemia. O que realmente fez a diferença foi a capacidade das organizações de ouvir e se adaptar. Em 2022, diversidade e inclusão, junto com metas de ESG (pilares ambiental, social e de governança), devem ser temas que as empresas precisam aprofundar, se quiserem uma comunicação cada vez mais voltada para as pessoas”.
Everton Dantas - jornalista e diretor de redação da Tribuna do Norte:
“Em 2021, até por conta de toda a discussão em torno da ciência e da pandemia, o debate sobre o perigo das notícias com conteúdo enganoso tornou-se mais qualificado e passou a atingir mais pessoas. Acredito que cresceu o número de leitores que entende a importância do jornalismo profissional. Penso que isso é também reflexo da discussão em torno da urna eletrônica, da vacinação e de outras inverdades que foram disseminadas e combatidas.
Para 2022 eu espero que ganhe mais força a chamada economia de criadores e que o jornalismo local se torne mais plural, com o surgimento de novos veículos, independentemente do tamanho. E que isso seja possível também por meio de editais e programas de financiamento para fomentar esse setor da economia. Na comunicação, a concorrência fortalece a democracia”.
Odemar Neto - publicitário, presidente do Sinapro/RN e sócio-diretor da Execom:
“Em relação a um fato marcante de 2021, ressalto a evolução do e-commerce, bem como das ferramentas de interação e vendas, o que transforma o modelo vigente. Para 2022, vemos que a solidez do trabalho híbrido nas agências e uma maior presença junto ao Marketing direto dos clientes, marcam uma mudança profunda na comunicação e no modo de operação em geral. Ganhamos agilidade, diversidade na contratação de profissionais em qualquer localidade e ao mesmo tempo maior qualidade nos materiais”.
Heverton de Freitas - jornalista e secretário de Comunicação da Prefeitura de Natal:
“Em 2021, observamos perda de audiência da TV aberta e a aceleração na queda de leitores dos impressos. Os jornais e revistas, que tinham o monopólio da distribuição de informações, perderam espaço para as chamadas novas mídias e com isso também perderam receita na venda de outros serviços como os classificados, por exemplo, por isso são cada vez mais dependentes das verbas públicas, que, por sua vez, estão congeladas há anos, ao menos aqui no RN, e são disputadas por um número crescente de veículos que demandam por essas verbas.
O poder cada vez maior na mão do receptor da mensagem que pode escolher o que, onde, quando e como ler ou ver a informação que lhe interessa. Ao mesmo tempo, a multiplicação de “veículos” que demandam as verbas públicas. Ou seja, o gestor tem que definir uma estratégia multicanais para fazer a mensagem que deseja comunicar ser absorvida pelo cidadão”.
Cledivânia Pereira - jornalista e doutoranda em Ciências da Comunicação:
“2021 foi um ano de muito aprendizado para o jornalismo. Quem não conseguiu enxergar que é preciso atuar no digital e ter gerência inicial sobre a distribuição do seu próprio conteúdo não vai sobreviver. Vi, mais que em anos anteriores, os sites de notícias (híbridos e nativos digitais) se preocupando, também, com a distribuição do conteúdo produzido. Essa é uma das chaves da sobrevivência de quem produz jornalismo hoje. A outra, ainda mais complexa, é a sustentação financeira da produção jornalística. Tivemos há poucos dias o triste anúncio de fechamento da redação do El País no Brasil. Uma instituição que ganhou relevância, mas não conseguiu atrelar a isso um modelo de negócio sustentável.
Ter audiência e sustentação financeira, sem abrir mão na qualidade e independência para produção de conteúdo, são os grandes desafios da profissão. As grandes empresas estão preocupadas com isso… Google, Meta, todas estão tentando financiar iniciativas jornalísticas para tentar amenizar o grande impacto que as novas tecnologias tiveram na profissão. O grande impacto das novas mídias no jornalismo e na comunicação em geral é na circulação do conteúdo (cada vez mais acelerado, descentralizado e multiplataforma) e nos modelos de negócio. Esse primeiro ponto é o que estudo. Acho a comunicação e o jornalismo, em especial, ainda estão engatinhando nesses dois pontos… mas acho em 2022 vamos ter muitos avanços nessa área”.
Flávio Sales - publicitário e CEO da Maxmeio:
"O fato mais marcante em 2021, para mim, foi a consolidação das mídias digitais com verbas destinadas a essa área passando dos 30% dos gastos gerais da publicidade no Brasil! E transformando o investimento em blogs, portais, Google, Facebook e Instagram em realidade! 2022 vai ser o ano do marketing digital. Quem não se preparar, vai ficar para trás”.
Juliano Freire - jornalista e escritor. "Em 2021, um fato nacional: o fim de uma era na Rede Globo, com o desligamento de profissionais históricos como Francisco José, Alberto Gaspar, Renato Machado e José Hamilton Ribeiro. Nos últimos seis meses do ano, foram 12 demissões. No RN, os 70 anos da Tribuna do Norte foi um dos pontos altos. Tradição e modernidade como binômio para a sobrevivência no meio jornalístico.
Para 2022, espero uma comunicação com olhar mais humano. A pandemia ainda não terminou, desafios ainda permanecem e neste quadro é preciso voltar o foco para o diálogo, para a diversidade, o outro. A Revolução Digital, a mídia e as redes sociais precisam conviver bem com a visão que cada um tem da vida. Menos sensacionalismo e mais informação de qualidade. É o que espero para um ano tão importante como será 2022”.
Vinícius Albuquerque - jornalista e Assessor de Comunicação e Relações Públicas da UnP:
“Uma das coisas que mais marcou este ano foi a consolidação da maneira como o público está cada vez mais próximo das marcas, tendo a capacidade de criar ou destruir celebridades. Exemplo disso são os “cancelamentos” que podem pôr fim nos contratos com grandes artistas ou, ao contrário, criar acordos milionários quando essas pessoas caem na graça do público, como vimos com anônimos que viraram fenômenos na internet graças aos reality shows.
Diante de um relacionamento digital cada vez mais próximo com o consumidor, vejo uma tendência de que o branding seja o norteador das ações de Comunicação de toda grande empresa. Por isso, as marcas vão precisar ser cada vez mais humanas e gestão de marcas vai ser o guia para os diversos braços do Marketing, como a Publicidade, Assessoria de Imprensa, Relações Públicas e Redes Sociais”.
Mara Godeiro - jornalista, repórter e apresentadora na TV Tropical e na Record TV:
“Em 2021 o mais marcante nas minhas coberturas jornalísticas foi a chegada da imunização no RN. Foi emocionante ver a esperança nos olhos da população depois de tanto sofrimento e angústia, as sirenes das viaturas do Corpo de Bombeiros. Nas coberturas ao vivo, as vacinações dos idosos, dos grupos de risco, o sentimento de gratidão. Só em relembrar, eu me emociono. Além de ver de perto todo o esforço dos profissionais de Saúde, a vontade em salvar vidas, em devolver o AMOR de alguém
A pandemia trouxe muitas incertezas, mas em relação aos veículos de comunicação, a população começou a enxergar a mídia que de fato e de direito faz o bom jornalismo e cumpre o papel social. A crise da saúde acabou fortalecendo os veículos oficiais. Para 2022, a expectativa também é do crescimento de um mercado transmídia, onde os mais conservadores terão que se ajustar e se adaptar”.
Jener Tinoco - diretor da Armação, apresentador do Bom Dia CBN, na Rádio CBN e do Mundo dos Negócios, na TV Tropical:
“A comunicação foi uma das atividades que apresentou maior volume de mudanças em 2021, impulsionada pelo efeito da pandemia que causou forte ampliação do digital. Hoje, tudo é comunicação. Foi um ano marcado pela valorização do poder da influência, tanto para o indivíduo, quanto às marcas e os profissionais. Houve uma explosão do chamado marketing de influência. Marcas passaram a transmitir experiências e fortalecer suas imagens, o YouTube apresentou inovações no brandcast como o Shorts e um botão que direciona o usuário à compra do produto que viu no vídeo. A consagração da força do rádio, com podcasts, vídeocasts, também as redes sociais virando plataformas como verificamos no Instagram, TikTok e Youtube. O streaming com as lives, que vieram pra ficar, e que quebraram tabus e rejeições, com as lives nas mais diversas áreas para mostrar empresas e produtos, inclusive para venda, shows, clube de leituras, nutrição etc. E forte mudança no perfil da audiência da televisão brasileira, especialmente nas transmissões esportivas.
Espero para 2022 que a chegada do 5G, quinta geração de rede móvel, prevista para operar no Brasil em 2022 com maior velocidade de download e upload, além de conexões mais estáveis e seguras, proporcione a consagração das mídias no ambiente digital e a consolidação da internet das coisas”.
Lídia Pace - editora e apresentadora do RN2 na InterTV Cabugi:
“O ano de 2021 foi especialmente desfiador para quem trabalha com comunicação, com jornalismo de verdade. Um ano atribulado onde foi preciso esforço extra para que as informações chegassem às pessoas como deveriam. A chegada da vacina, a redução no números de casos e mortes de Covid foi especialmente emocionante. A cada boa notícia era um alento ao coração. Depois de tantas notícias tristes e perdas, o avanço da imunização chegou para dar esperança de que dias melhores virão.
Espero que 2022 seja um ano mais “suave” onde as diferenças ideológicas e políticas não estejam no centro das discussões dividindo um País. Mas sim, que contribuam para a construção de um Brasil mais justo, democrático e esperançoso”.
Thaísa Galvão - jornalista e editora do blog www.thaisagalvao.com.br:
“O que marcou o ano de 2021 na comunicação, infelizmente pelo lado negativo, foram os constantes ataques do presidente Bolsonaro às jornalistas mulheres. O que espero de 2022 é que nós mulheres jornalistas não fraquejemos. O ano será marcado pela tentativa de reeleição do presidente e certamente a onda de ataques será maior. Então, que nós mulheres sejamos cada vez mais fortes porque ele deverá ser cada vez mais fraco. Aproveitar para desejar ao Blog, merecidamente, muito mais sucesso”.
Rayanne Azevedo - jornalista e mestranda em Comunicação Política na Universidade Livre de Berlim:
“A plataforma TikTok impulsionou um padrão de conteúdo digital muito mais multimídia. Toda receita de sucesso agora nas redes parece incluir bons vídeos. Outra coisa que bombou foram os podcasts. É a ressurreição do rádio, atualizado na forma on demand. Outro fato, esse triste e lamentável, é a deterioração da liberdade de imprensa no Brasil e o retrocesso em termos de acesso a informações de interesse público.
Eu espero que em 2022 o jornalismo alcance novos públicos com formatos digitais nativos e mais didáticos. Esse é um processo que precisa acontecer se as redações quiserem alavancar suas receitas. Ano que vem teremos um acirramento do debate público e maior polarização política por causa das eleições, e vai haver muita desinformação em circulação. A parte mais positiva é que devemos ver mais progresso em termos de diversidade e visibilidade de grupos outrora marginalizados. As empresas estão acordando para o fato de que é burrice negligenciar esses públicos, já que eles respondem por uma fatia relevante do faturamento”.
Priscilla Simonetti - jornalista e diretora Corporativa de Marketing do Grupo InterTV:
“Mesmo repleto de desafios, 2021 foi marcado pelo recomeço... Para a sociedade e para o mercado da comunicação o sentimento foi de reinvenção dos processos, da forma e da nossa capacidade de enxergar os caminhos. A comunicação foi essencial para nos mantermos produtivos, mentalmente e fisicamente mais salváveis, além de manter o giro econômico através das conversas responsáveis com o mercado consumidor. Sobre tudo, seu principal papel foi unir, fortalecendo vínculos, mesmo que distantes.
Especialmente na Indústria de Comunicação, Marketing e Mídia, vimos agências tornarem-se híbridas, veículos oferecendo uma comunicação 360 graus e a necessidade dos empresários de se manterem numa comunicação cada dia mais eficiente. Em 2022, o foco no resultado ganha ainda mais protagonismo, caminhando paralelo a otimização dos custos. Espera-se profissionais mais especializados em solução e um melhor aproveitamento dos dados gerados”.
Marília Rocha – Jornalista e diretora de Comunicação da Assembleia Legislativa do RN:
“Em linhas gerais, o processo de mudança no comportamento das pessoas é o maior marco de 2021, independente se o Wi-Fi está funcionando ou não. Ou seja, estar conectando mesmo estando “em off”. Isso se reproduz quando não olhamos mais a identificação das ruas porque o GPS está ligado e os aplicativos que nos ajudam a organizar a agenda, o agendamento de pagamentos e até conduzir o trabalho de parto monitorando as contrações. O teletrabalho, as mudanças nas redes sociais (mais interatividade e conectividade entre pessoas) também marcaram 2021. Mais tempo na tela do celular escolhendo e comprando até frutas no supermercado, assistindo plataformas de streaming na televisão e até do computador. Mais rapidez nos comandos digitais na vida, no trabalho, nas redes sociais
Para 2022, maior dinâmica e inovação nos conteúdos. Cada vez mais específicos, os programas de televisão, as propagandas na publicidade e os filtros nas redes sociais vão direcionar o consumo e o comportamento das pessoas, classificando e categorizando como perfis de consumo”.
Nélio Júnior – Jornalista, empreendedor, CEO da N Conteúdos e criador do “Na Paulista”
“Para mim o fato mais marcante da comunicação é a busca da verdade dentro da realidade paralela dos grupos de desinformação e fakenews. Vivemos um momento decisivo na comunicação onde temos a verdade, a pós verdade, a sua verdade e a verdade criada a partir do interesse de determinado grupo. No fundo isso sempre existiu mas o desafio da comunicação em - pelo menos - trazer estas informações e tentar trazer um debate de ideias está cada vez mais difícil diante da onipresença dos algoritmos e das bolhas criadas a partir deles.
Espero uma predominância cada vez maior das redes sociais na formação do pensamento geral e o início da discursão do papel do Metaverso nas nossas vidas. Também segue a luta para os veículos de comunicação tradicionais seguirem relevantes contra as notícias que vem de todos os lados. Combater as fake news segue como o maior desafio de todos nós”.
* O Blog da Juliska** é um espaço com ênfase em notícias diárias e análises sobre os universos de Comunicação, Marketing, Empreendedorismo, Educação e Cultura, publicado via Whatsapp e redes sociais.
**Juliska Azevedo é jornalista, editora do Blog da Juliska e sócia-diretora da Ska Comunicação. É gerente de comunicação na FIERN e acumula passagens na imprensa (rádio, jornal e TV) e experiências em comunicação institucional, tendo sido Secretária de Comunicação do Governo do Rio G. do Norte.