Aconteceram muitas crises no Brasil, ano passado. Mas quando, numa retrospectiva, nos debruçamos sobre as piores crises que ocorreram no país durante 2018, certamente duas sobressaem: a greve dos caminhoneiros, que literalmente parou o país. E o incêndio do Museu Nacional, no Rio de Janeiro. A greve dos caminhoneiros começou devagar, como se eles tivessem testando o governo para ver se a corda poderia espichar mais. Ao perceber a fragilidade do governo em negociar e conter os abusos, os caminhoneiros perceberam que ali estava uma oportunidade de mostrar força. E foi o que aconteceu.
A greve que envolveu o transporte de carga foi, talvez, a maior crise do país, no ano passado, e o acontecimento mais negativo do governo tampão de Michel Temer. As paralisações foram acontecendo de estado em estado e chegou no ponto em que o governo perdeu o controle. Aos caminhoneiros, se juntaram arruaceiros, oposição, movimentos de rua, ativistas, apostando no “quanto pior, melhor”. O prejuízo para o país, durante os 10 dias da paralisação, aproximadamente, foi de bilhões de dólares, afetando o PIB e causando problemas para vários segmentos da indústria nacional. Afetou não apenas o comércio e a indústria, mas a vida diária do próprio cidadão, sem transporte, sem segurança, sem assistência de saúde, porque todos os serviços essenciais foram afetados. O governo precisou ceder em vários pontos para conter o movimento.
Naturalmente, nessa greve ficou evidenciado o erro estratégico do Brasil em ficar quase que totalmente dependente do transporte rodoviário, tendo reduzido a participação de outros modais, ao longo dos anos, principalmente o ferroviário. As hidrovias, o transporte aéreo e as ferrovias representam uma pequena parte do transporte dos principais bens do país. E os sindicatos e associações dos caminhoneiros souberam explorar muito bem essa fragilidade.
A greve dos caminhoneiros não teria guarida num governo forte. Quando aconteceu, o governo Temer estava fragilizado pelas denúncias do presidente do grupo JBS. E, de certa forma, os empresários do setor de transportes e os caminhoneiros começaram testando o governo, para ver como ele reagiria à ameaça e à própria paralisação. Sem um reação mais forte do governo, o movimento cresceu, apoiado por grupos que viram ali uma oportunidade de vulnerabilizar mais ainda o governo. Vale a pena recordar o que aconteceu.
Governo foi atropelado pelos caminhoneiros
Uma combinação de erros históricos, de atraso e lentidão nas negociações, da falta de experiência para lidar com crises, da própria fraqueza política do governo e da irresponsabilidade de motoristas e empresários do setor de transporte rodoviário, incluindo os líderes dos caminhoneiros, deixou o país refém nos últimos sete dias.
Leia a análise completa dessa crise.