Luís é um brasileiro comum, que luta para sobreviver. Esse maranhense de Capinzal, a 350 km de São Luís, tinha tudo para ficar na roça e continuar trabalhando como tantos conterrâneos ou seus irmãos. Há 20 anos desembarcou em Brasília e veio tentar a vida. Tinha 23 anos, pobre e analfabeto.
Arrumou emprego de ajudante de caminhão e todos os dias sonhava em decifrar as letras que via nos letreiros, livros e placas de trânsito. Depois de lutar muito, conseguiu vaga de faxineiro e começou a realizar um antigo sonho: entrou para o curso de alfabetização. Em 1996, dez anos depois de chegar a Brasília, Luis já terminava o curso Supletivo de segundo grau e superou a barreira que o estava condenando a viver sem aprender a ler.
Para não deixar os outros passar o que passou, Luís decidiu colecionar livros e juntá-los em sua casa. Foi assim que começou a formar, quase sem querer, uma pequena biblioteca. Começou a pedir livros para amigos, conhecidos e desconhecidos. Os vizinhos colaboravam, livros e revistas começaram a inundar sua humilde casa. E as pessoas começaram a procurá-lo para buscar livros para estudar, ler.
Assim Luís foi formando uma "biblioteca comunitária", o nome que dá hoje ao acervo de aproximadamente 3.500 livros que vieram de doações. Na sua casa em Recanto das Emas, uma das cidades-dormitório nos arredores de Brasília, ele possibilita que pessoas humildes e pobres como ele tenham acesso a coleções de revistas, de jornais e a livros de filosofia, história, ciência, matemática e até culinária.
A biblioteca funciona na sua casa, em um pequeno anexo que ele construiu para abrigar a quantidade de livros que amealhou nos últimos anos. Nas horas de descanso da profissão de técnico em ar refrigerado, sua atual profissão, Luís sai no próprio carro recolhendo coleções, por toda a Brasília, de pessoas que ligam e fazem doações. A biblioteca está aberta todo o dia e o prazo para empréstimo totalmente grátis é de três dias. Ninguém fica com os livros, devolve sempre no prazo. A história de Luís mereceu página inteira de reportagem no jornal Correio Braziliense, de 21/09/06. (Veja a reportagem O homem que ama as letras, postada em outro local desta página. Desde aquele dia não param de chegar livros e mais livros para sua biblioteca.
Hoje Luís está realizado, porque lê e permite que qualquer pessoa leia aquilo que ele e seus nove irmãos jamais tiveram condições de acessar no passado. A biblioteca do Luís Rodrigues virou ponto de referência para a pequena cidade. Para quem quiser ajudá-lo a melhorar o acervo, é só ligar no celular (61)9124-2192. Mas o que vale mesmo é uma visita à Biblioteca, na Avenida Ponte Alta – Quadra 404, casa 77, no Recanto das Emas, em Brasília. É lá que podemos perceber que não há nada que impeça alguém de superar os próprios limites. Ou que possibilitar o acesso à cultura a pessoas que não têm essa possibilidade, não é tão difícil. Basta vontade, muita força de vontade e coragem. É lá que aprendemos que os sonhos, por mais difíceis que possam parecer, podem um dia se tornar realidade. (JF)(Artigo publicado em 22/09/2006)