Raio_sobre_congresso_480_x_320O presidente do Senado tentou se defender da crise pessoal e da que afeta o Congresso Nacional, usando a “história de sua vida” como escudo. A história não absolve ninguém. Todo o brasileiro tem uma história de vida, que na maior parte das vezes é mais bonita do que a da maioria dos estadistas, políticos, celebridades e outros frequentadores de colunas sociais.

O presidente da República parece corroborar a tese da história. Além de criticar o denuncismo da imprensa, questionou a veracidade das informações, a maioria comprovadas por depoimentos ou documentos. “A imprensa deveria ser mais cuidadosa com pessoas com um passado tão importante quanto o presidente do Senado. Ele tem história suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum”, disse.  

A “história de vida” não é um salvo-conduto para qualquer pessoa atropelar a lei. Muito menos aos parlamentares de empregar parentes remunerados com dinheiro público, utilizar passagens para viagens de recreio ou servidores públicos para serviços particulares, pagar horas extras durante o recesso ou utilizar moradias oficiais para parentes, para dizer o mínimo. 99,9% dos brasileiros, apesar da bela história, não fazem isso.

O Congresso Nacional precisa de uma faxina. A começar pelos poderosos diretores do Senado, que há muitos anos se transformaram nos caras mais fortes da burocracia parlamentar. Institui-se ali a política do compadrio. Não é de hoje que, saindo de lá, esses servidores são indicados pelos partidos para diretorias em estatais ou ministérios. Depois, dar um choque de moralidade, corrigindo o passado, que sempre serve como escudo para não se apurar nada. Vira-se a página, como se pecados pretéritos fossem para ser esquecidos. Há anos brasileiros com histórias bonitas assistem a esse festival de abusos.

Não se enfrenta crise com discurso. São muito bonitos. Se fosse assim, a era Obama já teria decretado o fim da crise econômica nos Estados Unidos. Mas ela continua. A faxina tem que ser feita seguindo o modelo do parlamento inglês. Acusados de abusar de gastos, os parlamentares são convidados a se demitir. Ou se demitem, porque têm vergonha e ficam sem espaço. Ninguém está pedindo suicídio, como no Japão ou na Coréia do Sul. Aqui, na gangorra em que se transformou o festival de cargos no Congresso, aquele que caiu em desgraça hoje, ressuscita amanhã, qual fênix surgida das cinzas, e de repente está lá encarapitado em outro cargo, na frente das câmeras, como se nada tivesse acontecido.  

Ou o Congresso Nacional enfrenta essa crise de frente, como convém a uma Casa que, em tese, deveria representar o povo brasileiro, ou sua imagem continuará se deteriorando, porque as denúncias de corrupção, favorecimentos, empreguismo, abusos se repetem todos os dias com numa rotina que não se sabe onde começa nem onde termina.  

Crises não se enfrentam com retórica. Mas com fatos. O discurso é importante, depois que uma organização adota todos os procedimentos para corrigir os erros e limpar a própria imagem. Não é isso que estamos vendo nos últimos meses no Congresso Nacional. Cada dia consegue ser pior do que o outro. O relator do conselho de ética recomenda a cassação de um deputado. Imediatamente os seus pares se mobilizam para abortar o processo. E depois a imprensa é culpada.  

A crise do Congresso Nacional precisa mais do que discursos e promessas. A sociedade brasileira quer sinais claros de que suas excelências estão de fato interessados em acabar com a farra com o dinheiro público e adotar procedimentos éticos, com isenção. É difícil para uma confraria acostumada com favores e jogo de interesses. Mas não é impossível. Aproveite-se a consultoria da FGV que faz uma varredura no Senado, para ela mostrar onde se pode cortar e economizar.  

Convenhamos que é uma tarefa difícil, para um parlamento que, ao sair um titular,  o suplente consegue ser pior. A primeira coisa que a imprensa procura, quando surge o nome do suplente  é ir atrás da folha corrida. Se suas excelências realmente querem melhorar a imagem do congresso e amenizar a crise, devem seguir os conselhos de Jack Welch. Não podemos esquecer que o problema é pior do que parece; não há segredos no mundo e todos acabarão descobrindo tudo; sua crise será exposta da pior maneira possível; haverá mudanças nos processos e nas pessoas. Quase nenhuma crise termina sem sangue no chão e, finalmente, tenha em conta que sua organização acabará sobrevivendo aos acontecimentos com ainda mais vigor.

O problema principal do Congresso talvez seja com o sangue no chão. Ninguém tem a coragem de tirar sequer um assessor. Enquanto os parlamentares e o presidente pensarem que a imprensa inventou a crise e que ela se resolve com discursos, o Congresso Nacional continuará cada vez mais enrolado nas próprias contradições. (JJF)

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