O New York Times informou nesta semana que obteve lucro no primeiro semestre de US$ 20,8 milhões (US$ 0,15 por ação), o que representa uma queda de 85% em relação ao mesmo período de 2007, quando foi de US$ 118 milhões.
Seguimos vendo o efeito em nosso negócio do arrefecimento econômico dos Estados Unidos e das forças que há muito tempo afetam o setor dos meios de comunicação, explicou a presidente do grupo, Janet L. Robinson, ao apresentar os resultados.
Este é um dos indicativos da crise que atinge a imprensa dos países desenvolvidos, principalmente a mídia impressa. Nos países ditos emergentes, como Brasil, Índia e China a imprensa escrita atravessa um período de crescimento, embora modesto, no número de leitores e no faturamento publicitário.
Ao mesmo tempo em que os resultados financeiros caem, estudo feito pelo Pew Research Center dos Estados Unidos informa que quase dois terços dos jornais americanos publicam menos notícias internacionais hoje do que há três anos, apesar das novas demandas da mídia virtual, como blogs e videoposts. Depois de reduzirem as equipes no exterior, o foco passou a ser local.
A maioria dos jornais americanos (64 por cento) reduziu em mais de 50 por cento o espaço dedicado ao noticiário internacional, enquanto o espaço dado às notícias nacionais caiu 57 por cento no período analisado. Somente 10 por cento dos editores consideram notícias do exterior “muito essenciais” para seus jornais.
O estudo do Pew Research Center foi baseado em pesquisa feita em 259 jornais de todas as regiões dos Estados Unidos, além de entrevistas pessoais com grande parte dos editores. A informação foi publicada em artigo de Richard Pérez-Peña, no New York Times e mereceu também comentários de Carlos Castilho, no Observatório da Imprensa.
O jornalista do NYT diz que a descoberta não surpreende aqueles que acompanham o trabalho da indústria de jornais, premida nos últimos tempos pela falta de novos repórteres, redução no faturamento e no crédito, encolhimento do tamanho das edições e queda na circulação. O estudo da Pew parece ser uma tentativa de medir até onde as mudanças têm ocorrido.
O diretor do Projeto Pew de excelência em jornalismo, Tom Rosenstiel, lamenta essa decisão, exatamente no momento em que os Estados Unidos mantêm duas guerras em países distantes, com uma economia cada vez mais globalizada e competindo com economias que estão crescendo mais rápido do que a americana, além da crescente dependência em petróleo.
Quase metade dos jornais disseram na pesquisa que cortaram mão-de-obra dedicada à cobertura de notícias fora do país. Muitos jornais são pequenos e historicamente não têm qualquer repórter ou editor trabalhando em tempo integram com noticiário internacional.
Segundo a pesquisa, em muitos casos, o recurso dos jornais para cobertura internacional era um editor colhendo material de agências de notícias. Somente enviavam repórter para fora do país em casos limitados.
Três quintos dos jornais disseram ter menos espaço para notícias, como se o jornal tentasse economizar reduzindo o tamanho das páginas ou da própria edição. Jornais de grande circulação têm tentado reduzir o espaço dado a negócios, artes, moda e opinião – áreas que historicamente já não eram o foco central dos pequenos jornais.
Metade dos jornais disseram que têm incrementado a quantidade de notícias locais e estaduais, especialmente as hiper-locais, que dizem respeito diretamente à comunidade. Ao contrário do Brasil, onde os grandes jornais dão preferência ao noticiário nacional, nos Estados Unidos e na Europa os principais periódicos focam bastante o noticiário nos problemas locais. A manchete principal dos jornais britânicos quase sempre aborda temas de interesse local. Os temas políticos e econômicos não costumam ser manchetes principais.
É bom lembrar que a crise que afeta os jornais americanos não é recente. Nos primeiros meses de 2008 foram registradas 500 demissões de jornalistas em grandes jornais americanos, entre eles o New York Times, que afastou 100 profissionais. A circulação de jornais impressos caiu 3,6 por cento nos Estados Unidos segundos números divulgados pelo Audit Bureau of Circulations, que compara os seis meses anteriores, até março de 2008 com o mesmo período do ano passado. Isso, segundo especialistas, reflete uma migração dos leitores para a Internet e esforços das editoras em modernizar seus negócios.
Os analistas admitem que a crise econômica americana pode agravar essa situação, uma vez que os jornais já estariam sentindo os efeitos da crise pela redução da receita publicitária. O grupo do NYT, ao anunciar os resultados, informou que a receita por publicidade de US$ 912,7 milhões representa uma queda de 9,9% neste primeiro semestre em relação a de 2007, enquanto o faturamento conjunto caiu 5,4%, para US$ 1,489 bilhão.