BushA notícia não mereceu tanto destaque. Estudo do Centro pela Integridade Pública e do Fundo pela Independência no Jornalismo, uma organização sem fins lucrativos dos EUA, conseguiu contabilizar as últimas mentiras do Governo Bush.

Em dois anos, eles detectaram 935 declarações falsas sobre a ameaça que o Iraque representava à segurança dos Estados Unidos, logo após o atentado de 11 de setembro. Existe até gráfico das mentiras.

Por conta dessas inverdades, segundo o estudo, a opinião pública foi envolvida e acabou apoiando a invasão do Iraque. Como se sabe, a decisão polêmica foi baseada em fatos não comprovados sobre a existência de armas de destruição em massa naquele país.

Pelo menos em 532 ocasiões, diz a pesquisa, o presidente e funcionários do governo declararam que o Iraque tinha armas desse tipo, o que, “tornou-se inquestionável, hoje, que o Iraque não possuía”.  Dizem os jornalistas Charles Lewis and Mark Reading-Smith, autores da sinopse, que “O governo Bush conduziu o país à guerra com base em informações errôneas que as autoridade propagaram metodicamente, em um processo que culminou com a ação militar contra o Iraque em 19 de março de 2003”.

O estudo não poupa ninguém. Do Presidente, ao Vice, passando pela assessora de segurança nacional Condoleezza Rice, pelos Secretário da Defesa, Donald Rumsfeld,  secretário de Estado Colin Powell,  secretário assistente da Defesa Paul Wolfowitz, este envolvido em outro escândalo, quando presidente do Banco Mundial. Nem os porta-vozes da Casa Branca, Ari Fleischer e Scott McClellan, que deveriam pelo menos cumprir o código de ética dos jornalistas, escaparam do festival. Quase todos já deixaram o governo.

O trabalho também não isenta a imprensa. “Alguns jornalistas, e até algumas organizações de imprensa, reconheceram que durante os meses anteriores à guerra adotaram uma atitude condescendente e sem críticas”, em relação ao governo, assinalou o estudo. Finalmente, a mídia americana faz o mea culpa.

Podemos tirar várias lições do estudo. A sociedade não está mais disposta a aceitar mentiras para justificar certas decisões dos governos. No Brasil, ainda não temos pesquisas para medir declarações das autoridades, principalmente nos momentos de crise, para cobrar depois se as promessas e arroubos foram cumpridos. Agora mesmo, diante da denúncia do aumento do desmatamento da Amazônia, ministros foram a público prestar explicações desencontradas, tentando se esquivar da culpa. Cada um defende o seu pedaço. Passada a tempestade (geralmente em copo d’água), certamente o fato cai no esquecimento, até porque daqui a alguns dias surgirão outras denúncias, outros temas que acabam se sobrepondo ao anterior.

Um bom exercício seria analisar jornais e reportagens de TV e rádio do início de 2007 para ver se as promessas feitas no início do ano passado foram cumpridas. No caso do estudo americano, o Presidente Bush lidera a lista, com 259 declarações falsas, sendo 231 sobre as supostas armas de destruição em massa. O troféu Pinóquio, portanto, já tem dono nos Estados Unidos. Poderíamos abrir o concurso aqui no Brasil. Seria uma boa forma de cobrar mais coerência das autoridades quando enfrentam a mídia, diante de fatos constrangedores como no surto de febre amarela, aumento dos acidentes de trânsito, da violência, perspectiva de um apagão ou, este mais recente, do recrudescimento da destruição da floresta amazônica.

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